Seis poemas de Débora Mitrano
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imagem: flavioarteetal |
A poesia talhada nas pedras de Débora Mitrano, que em breve lançará seu primeiro livro de poemas:
O gozo amargo das pedras
Numa noitinha quente,
eu suei igual um pintor surrealista
e nessa mesma noite,
eu aprendi a gíria neandertal do sofrimento.
Mas, eu sabia que o meu desolamento
tinha capacidade para ser formal,
poderia haver um linguajar rebuscado.
Só que quando estamos pateticamente consternados
não há sofisticação:
o corpo desaba na cama suja de vinho,
o pé não esmaga a barata no chão da cozinha,
a boca dorme com hálito de comida velha.
A métrica da monotonia é miserável.
Extremamente passional.
Numa noitinha quente,
não se pensa em usar a cabeça,
não se pensa em usar o coração,
não se pensa em sair de casa,
porque a bandeira que hasteamos
é de uma nação chamada:
solidão.
*
O parto de uma fruta
Na noite adentro há qualquer substrato de sofrimento.
As mangas caem no telhado,
fazendo barulho:
a justiça tarda e falha.
O sofrimento é o cadáver de um morango, que às vezes,
só bem às vezes,
renasce das cinzas.
A justiça faz pompoarismo numa cama encardida
de um hotel de beira de estrada:
nós pobres e miseráveis,
não vemos a justiça sendo feita.
Há muita filosofia no cadáver de um morango
e na justiça fazendo ginástica íntima.
Pois mostra que estamos desabrigados,
mesmo tendo um tendo acima de nossas cabeças.
Vemos claramente que precisamos
queimar os manuscritos do drama,
não escrever o roteiro de nossas tristezas
e descobrir qualquer estratégia de beatitude:
felicidade incondicional,
que se encontra no trajeto de um faisão-dourado.
*
Retrato de um quarto vazio
Eu perguntei.
Perguntei qual é a árvore genealógica dos pêssegos mordidos.
Perguntei qual é a história daquele móvel,
daquela cadeira na qual você sentou,
daquela cama na qual você dormiu.
Perguntei qual é a árvore genealógica dos pêssegos mordidos.
Perguntei qual é a história daquele móvel,
daquela cadeira na qual você sentou,
daquela cama na qual você dormiu.
Investiguei a partícula do mistério.
Investiguei a composição dos teus defeitos
e me apaixonei por cada um deles.
Porque eles te tornam atraente.
Investiguei a substância das tuas ideias.
Investiguei a composição dos teus defeitos
e me apaixonei por cada um deles.
Porque eles te tornam atraente.
Investiguei a substância das tuas ideias.
Perguntei qual é a biografia do teu falo pulsando
quando está destinado ao orgasmo.
Perguntei que narrativa é essa que estamos criando
toda vez em que nos estranhamos.
Perguntei qual é a atmosfera do teu beijo.
quando está destinado ao orgasmo.
Perguntei que narrativa é essa que estamos criando
toda vez em que nos estranhamos.
Perguntei qual é a atmosfera do teu beijo.
Procurei respostas na biblioteca da tua pele.
Mas, tua pele é espaço fechado,
conjugada no latim.
Mas, teu corpo tremendo após o sexo
e teu sorriso de satisfação,
é manifestação pequena do que poderíamos ser.
Mas, tua pele é espaço fechado,
conjugada no latim.
Mas, teu corpo tremendo após o sexo
e teu sorriso de satisfação,
é manifestação pequena do que poderíamos ser.
Eu estou nervosa a todo tempo,
com tantas perguntas,
com o estado místico e confuso da tua essência,
com saudade de ser atravessada pela tua carne
quente e macia.
com tantas perguntas,
com o estado místico e confuso da tua essência,
com saudade de ser atravessada pela tua carne
quente e macia.
*
Produção de tomate em tempos de dúvida
Uma plantação de tomates é tão sensível
quanto nós dois deitados,
quanto nós dois com as mãos entrelaçadas,
quanto nós dois com os olhares voltados um para o outro.
quanto nós dois deitados,
quanto nós dois com as mãos entrelaçadas,
quanto nós dois com os olhares voltados um para o outro.
Uma plantação de tomate,
com o melhor solo para plantar os tomates,
que seja bem drenado,
profundo,
argiloso
e que receba seis horas de luz solar por dia.
com o melhor solo para plantar os tomates,
que seja bem drenado,
profundo,
argiloso
e que receba seis horas de luz solar por dia.
Somos tão frágeis, afetivos e sentimentais
quanto uma plantação de tomate.
Somos quentes e molhados.
Somos exagerados e profundamente humanos.
quanto uma plantação de tomate.
Somos quentes e molhados.
Somos exagerados e profundamente humanos.
Uma plantação de tomates é astrológica,
cada tomate tem um signo,
cada tomate tem um temperamento,
cada tomate tem o seu próprio mapa astral.
cada tomate tem um signo,
cada tomate tem um temperamento,
cada tomate tem o seu próprio mapa astral.
Uma plantação de tomates somos ele e eu:
homem e mulher incomuns,
indo em direção ao centro da terra.
'' O que existe no centro da terra?'',
eu pergunto a ele,
e ele me responde e me conta com detalhes
o que há por lá
e isso me deixa tremendamente comovida.
homem e mulher incomuns,
indo em direção ao centro da terra.
'' O que existe no centro da terra?'',
eu pergunto a ele,
e ele me responde e me conta com detalhes
o que há por lá
e isso me deixa tremendamente comovida.
*
Uns e outros
Alguns poetas se suicidam.
Outros encontram motivos para viver.
Alguns poetas são melancólicos.
Outros são felizes.
Alguns poetas são híbridos:
tristes e felizes,
ao mesmo tempo.
Outros encontram motivos para viver.
Alguns poetas são melancólicos.
Outros são felizes.
Alguns poetas são híbridos:
tristes e felizes,
ao mesmo tempo.
Talvez,
esses sejam os mais sensatos,
porque mostram os dois lados da moeda
e não privilegiam apenas um sentimento.
Alguns poetas pedem ao leitor:
''não se vá''
Outros são mais independentes
e te mandam ir á merda.
E os que mandam ir à merda são os que eu mais gosto,
porque não buscam aceitação,
apenas são o que são:
estrelas mastigadas,
putas tristes,
crianças selvagens gritando línguas desconhecidas
enquanto estão sentadas no topo dos condomínios.
Alguns poetas falam sobre a loucura sem ter vivido ela.
Um poeta que nunca foi internado num hospício
ainda não está preparado para escrever.
Alguns poetas são visionários e bucólicos.
Enxergam através do sofrimento e da dor.
Outros tem medo do sofrimento e da dor
e não conseguem ser tristes nem por um segundo.
Já no centro deste poema,
há uma poeta decadente,
buscando luz no fundo do poço.
esses sejam os mais sensatos,
porque mostram os dois lados da moeda
e não privilegiam apenas um sentimento.
Alguns poetas pedem ao leitor:
''não se vá''
Outros são mais independentes
e te mandam ir á merda.
E os que mandam ir à merda são os que eu mais gosto,
porque não buscam aceitação,
apenas são o que são:
estrelas mastigadas,
putas tristes,
crianças selvagens gritando línguas desconhecidas
enquanto estão sentadas no topo dos condomínios.
Alguns poetas falam sobre a loucura sem ter vivido ela.
Um poeta que nunca foi internado num hospício
ainda não está preparado para escrever.
Alguns poetas são visionários e bucólicos.
Enxergam através do sofrimento e da dor.
Outros tem medo do sofrimento e da dor
e não conseguem ser tristes nem por um segundo.
Já no centro deste poema,
há uma poeta decadente,
buscando luz no fundo do poço.
*
Invenções
O poeta triste inventou o vídeo-cassete.
O poeta feliz inventou o DVD.
O poeta triste inventou a fita k7
O poeta feliz inventou o CD.
O poeta triste inventou o diskman.
O poeta feliz inventou o Spotify.
O poeta triste inventou o cu.
O poeta feliz inventou a cloaca.
O poeta triste inventou o telefone de discar.
O poeta feliz inventou o telefone fixo.
O poeta triste inventou o sms.
O poeta feliz inventou a secretária eletrônica.
O poeta feliz inventou o Whatsapp.
O poeta triste inventou a webcam.
O poeta feliz inventou o Skype.
O poeta triste inventou o Orkut.
O poeta feliz inventou o Facebook.
O poeta triste inventou o mapa.
O poeta feliz inventou o Gps.
O poeta triste inventou a coleção enciclopédica Barsa.
O poeta feliz inventou o Google.
O poeta triste inventou a máquina de escrever.
O poeta feliz inventou o computador.
O poeta triste inventou o celular Nokia tijolão.
O poeta feliz inventou o I-phone.
O poeta triste inventou a carta.
O poeta feliz inventou o e-mail.
O poeta triste inventou a palavra cagatório.
O poeta feliz inventou a palavra privada.
O poeta triste inventou a imundice.
O poeta feliz inventou a higiene.
O poeta triste inventou o shampoo que arde o olho.
O poeta feliz inventou shampoos que não ardem os olhos.
O poeta triste inventou a pintura rupestre.
O poeta feliz inventou a pintura clássica.
O poeta triste é doxo.
O poeta feliz para.
O poeta feliz inventou o DVD.
O poeta triste inventou a fita k7
O poeta feliz inventou o CD.
O poeta triste inventou o diskman.
O poeta feliz inventou o Spotify.
O poeta triste inventou o cu.
O poeta feliz inventou a cloaca.
O poeta triste inventou o telefone de discar.
O poeta feliz inventou o telefone fixo.
O poeta triste inventou o sms.
O poeta feliz inventou a secretária eletrônica.
O poeta feliz inventou o Whatsapp.
O poeta triste inventou a webcam.
O poeta feliz inventou o Skype.
O poeta triste inventou o Orkut.
O poeta feliz inventou o Facebook.
O poeta triste inventou o mapa.
O poeta feliz inventou o Gps.
O poeta triste inventou a coleção enciclopédica Barsa.
O poeta feliz inventou o Google.
O poeta triste inventou a máquina de escrever.
O poeta feliz inventou o computador.
O poeta triste inventou o celular Nokia tijolão.
O poeta feliz inventou o I-phone.
O poeta triste inventou a carta.
O poeta feliz inventou o e-mail.
O poeta triste inventou a palavra cagatório.
O poeta feliz inventou a palavra privada.
O poeta triste inventou a imundice.
O poeta feliz inventou a higiene.
O poeta triste inventou o shampoo que arde o olho.
O poeta feliz inventou shampoos que não ardem os olhos.
O poeta triste inventou a pintura rupestre.
O poeta feliz inventou a pintura clássica.
O poeta triste é doxo.
O poeta feliz para.
Débora Mitrano, nascida e criada no Rio de Janeiro, nasceu em 1989. Débora escreve poemas desde criança, mas começou a publicar na internet desde 2014 nas redes sociais. Suas principais influências literárias são John Fante, Hunter S Thompson, Bukowski, Roberto Piva, Ferreira Gullar e etc. As temáticas dos seus poemas são a loucura, o mito do amor romântico, a angústia, sendo uma poesia intimista psicológica. Seu email para contato é: deboramitrano919@gmail.com
Escrita empolgante imaginativa daquelas que sem sabermos bem porquê nos toca nas partes mais intimas dos sentidos. Há qualquer coisa de mágico e perturbante na poesia de Débora . Excepcional .
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