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MulherArte Resenhas 11 | "Virgínia" de Stéfanie Sande: estratégias de desarmamento - por Eduardo Mahon

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VIRGÍNIA DE STÉFANIE SANDE: ESTRATÉGIAS DE DESARMAMENTO  - Por Eduardo Mahon Vamos falar um pouco mais sobre o romance Virgínia , de Stéfanie Sande. Deixo assinalado que o livro pode ser uma grande descoberta, sobretudo no público mais jovem. O amor entre duas garotas é tratado sem a costumeira bandeira levantada, sem o rancor típico das resistências entrincheiradas. Considerando a leveza oriunda da naturalidade da relação, o enredo não sublinha aspectos traumáticos. Sim, é possível tratar do lesbianismo (e outras tantas emergentes pautas sociais) sem o recorte do conflito e do sofrimento. Nem por isso a obra será menos profunda. Em termos de narrativa, fiquei muito satisfeito ao ver a mudança de marcha no segundo terço da narrativa. A troca de vozes aponta para o amadurecimento da escritora. Não é fácil e não é comum ver essa alteridade realizada com sucesso. Em geral, quando não há planejamento, o livro fica sem pé nem cabeça. Virgínia nos oferece a dupla perspectiva, sem perder a l

MulherArte Resenhas 10 | Da fluidez do haicai à densidade da palavra: as audácias de uma poeta que versa o imprevisível - Por Juçara Naccioli

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  Da fluidez do haicai à densidade da palavra:  as audácias de uma poeta que versa o imprevisível - Por Juçara Naccioli Divanize Carbonieri é uma fonte efervescente e inesgotável de poesia , que transborda a partir de temas diversos, linguage m inusitada e uma constância no exercício da sua produção literária. Como resultado dessa ebulição, a poeta passa por um processo de maturação rápido, independente e absoluto como escritora. A cada obra que se dedica a escrever, seus leitores são surpreendidos e, neste lançamento, não seria diferente. Agora o trânsito poético é experienciado por meio do gênero haicai, que tem como característica evidenciar o sentimento bucólico de perceber a relação natur eza e ser humano pelo olhar da poesia. Com isso, Carbonieri deixa fluir toda a admiração que tem por cavalos na brevidade dessa forma que consiste em três versos. Nesse novo trabalho, Divanize se mostra uma intrépida haicaista, que se aventura em composições que entretêm a o mesmo tempo

MulherArte Resenhas 09 | Aos 86, Eni Fantini lança seu primeiro livro e nos ensina a libertar por meio da arte

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  Aos 86, Eni Fantini lança seu primeiro livro  e nos ensina a libertar por meio da arte - Por Maizé Trindade Há crença eternizada pela música “Paraíba”, do mestre Gonzagão, de que a paraibana é mulher valente e atrevida. Na verdade se nos dermos ao trabalho de pesquisar, encontraremos exemplos de muitas mulheres inovadoras e progressistas por todo o país. Algumas famosas. Outras, heroínas anônimas, como Eni de Oliveira Fantini. Eni nasceu na cidade mineira de Sabará, em 1934, ano que marcou a edição da terceira Constituição brasileira, considerada progressista para a época por assegurar avanços. Entre eles, ensino primário gratuito, voto secreto e institucionalização do voto feminino. Com certeza, Eni nasceu bafejada por tais ares de abertura pois revelou-se, desde logo, pioneira. Após 27 anos dedicados à área de educação, ingressou no Curso Livre de Artes Plásticas da Escola Guignard, em Belo Horizonte. Em 1987, descobriu interesse novo e enveredou-se pelos caminhos das artes marciai

MulherArte Resenhas 08 | "O quarto canal", de Clara Arreguy: um misto de alívio e suplício, utopia e distopia; um tributo à educação

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O quarto canal , de Clara Arreguy:  um misto de alívio e suplício, utopia e distopia;  um tributo à educação - Por Maria Amélia Elói Quando Clara Arreguy anunciou que lançaria romance novo, intitulado O quarto canal , versão bilíngue Português-Inglês, por sua própria editora, a Outubro Edições (outubroedicoes.com.br), logo fiquei interessada em conhecer a história. Imaginei que encontraria naquele universo narrativo algum tipo de consolo anestésico ou ensinamento cirúrgico. Isso porque, em 2020, em plena pandemia, vim finalmente a experimentar o tal tratamento de canal, não só uma, mas duas vezes, após episódios de dor de dente — eu, que até então só conhecia as habituais limpezas, pequenas obturações, a plaquinha noturna de acrílico e os aparelhos ortodônticos da infância e da juventude. Quem me deu o livro foi a escritora Flávia Ribas, numa brincadeira de amigo oculto do Instituto Casa de Autores (casadeautores.com.br), em dezembro, e só agora tive a chance de me deitar na cadeira do

MulherArte Resenhas 07 | Amazônia em sangue com Sandra Godinho

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  Amazônia em sangue com Sandra Godinho _ por Luiz Otávio Oliani "- Uma estória nunca é a mesma quando passada de boca em boca”  Sandra Godinho, p. 37 A literatura é uma produção humana e toda e qualquer classificação em relação a ela segue com fins didáticos. O uso dos adjetivos serve para rotular, aproximar, moldar, aprumar ou categorizar estilos e autores, como se não houvesse exceções.   Na História, a produção de literatura ficou restrita, por séculos, aos homens. Mas, com o declínio do patriarcado na sociedade brasileira, o direito ao voto, a revolução feminista, entre outras conquistas, as mulheres passaram a ter espaço no campo das letras. Bem depois de Dinah Silveira de Queiroz, com “Floradas na Serra”; Rachel de Queiroz, com “O Quinze”, Clarice Lispector, com “Perto do Coração Selvagem”, Lygia Fagundes Telles com “Ciranda de Pedra”, Nélida Pinon com “Guia-mapa de Gabriel Arcanjo”, para ficar somente com estas romancistas de quilate, eis que surge, em 2020, Sandra Godinho

MulherArte Resenhas 06 | O OBSERVATÓRIO POÉTICO de Lucinda Persona

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O OBSERVATÓRIO POÉTICO de Lucinda Persona - Por Eduardo Mahon De repente, me lembrei de Lucinda. Onde estará ela? Certamente refugiada em seu apartamento. Com ou sem pandemia, o apartamento de Lucinda é uma especie de observatório. Não propriamente observatório astronômico, mas poético. No mais recente livro O passo do instante , a escritora faz da noite o seu principal tema. A maioria dos poemas traz a imagem decadente do dia, a promessa da tarde e a fertilidade da noite, matéria prima para a poesia. Do alto de seu observatório, a poeta não se desloca. Ela observa a cidade com distanciamento e passividade. Faz anotações quase científicas e forja uma espécie de diário do perímetro. Índices pluviométricos, períodos de seca e de umidade, regime de ventos, tudo isso se projetando para a criação poética. Onde está a noite? O que é a noite? Parece-me que o dia (o verão?) está identificado com o trabalho, enquanto a tarde (ou o outono?) nos dão a pista que os períodos do dia são, na verdade,

MulherArte Resenhas 05 | Pré-história de Paloma Vidal

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  Pré-história de Paloma Vidal (Rio de janeiro:7letras, 2020) - Por Eurídice Figueiredo No romance Pré-história ,  Paloma Vidal (2020) fala de um luto não pela morte de alguém, mas pelo fim do casamento. A narradora fala diretamente com o ex-marido, numa espécie de acerto de contas. Segundo Freud em Luto e melancolia haveria dois tipos de reação diante da perda do objeto amado:  o sujeito aceita a perda e começa a fazer o luto ou o sujeito não aceita a perda, incorpora aquele objeto perdido, tornando-se melancólico. O tom do livro é melancólico porque a separação ainda não foi bem resolvida, ainda ecoa nos sentimentos da narradora; a própria escrita faz parte do esforço para elaborar o luto da perda. Ela usa um mecanismo um pouco retorcido: insiste mais na cena inicial, o encontro dos dois adolescentes na festa de seu aniversário no play do prédio, do que em brigas que teriam levado à separação do casal, o que vai aparecer mais para o fim do livro. Já numa espécie de preâmbulo el

MulherArte Resenhas 04 | O balanço poético em "Asas do inaudível em luzes de vagalumes" (2020) de Maria Elizabete Nascimento de Oliveira

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  O BALANÇO POÉTICO EM ASAS DO INAUDÍVEL EM LUZES DE VAGA-LUME (2020), DE MARIA ELIZABETE NASCIMENTO DE OLIVEIRA: LIBERDADE E IMENSIDÃO - Por  Jocineide Catarina Maciel de Souza   Se a escrita é libertadora, a leitura precisa encantar e fazer pensar, por isso está tão perigoso aprender a ler, especialmente se considerarmos o contexto sociocultural e político em que vivemos. Ao anunciar a publicação de Asas do Inaudível em luzes de vaga-lume (2020) , Maria Elizabete do Nascimento de Oliveira se justifica: - eu precisava escrever poesia para não ser sucumbida pelas agruras da escrita científica. Bendita tese que nos agraciou com a oportunidade de ler os belos e reflexivos poemas que compõem essa obra. Na necessidade de nomear nossas ações vamos considerar esse texto apenas como apreciação, pelo fato de não me deter a análise, mas escrever sobre aquilo que me apraz. Ao receber o livro o primeiro impacto é jogo de cores na tonalidade amarela marcada por gotículas de chuva que por s