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MulherArte Resenhas 18 | Sobre "Ao pó" de Morgana Kretzman - Por Irka Barrios

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  Sobre Ao pó de Morgana Kretzman  - Por Irka Barrios A aposta de Ao pó , livro de estreia da autora Morgana Kretzman, mira num assunto presente e doloroso para grande fatia do público feminino: o abuso sexual. Preciso reconhecer, não é um tema novo na literatura. É, ao contrário, um tema bem recorrente. Mesmo assim, o assunto sempre desperta interesse e instiga o debate. Talvez porque seguimos, em pleno século 21, assistindo, perplexas, a impunidade para essa violência vil e covarde. Na obra, Sofia, uma atriz que vive no Rio de Janeiro, coleciona alguns relacionamentos fracassados que (logo fica evidente) têm a ver com traumas que a personagem tentou enterrar.  Por conta dessas experiências traumáticas vividas na infância, Sofia tem dificuldade de se abrir, de se envolver, de confiar num companheiro. Como se não fosse carga suficiente, o sofrimento de Sofia vem carregado de uma boa dose de culpa. Quando optou por enterrar o passado, ela praticamente entregou Aline, a irmã mais nova

MulherArte Resenhas 17 | "O Olho Esquerdo da Lua" de Jade Luísa - Por Antônio Torres

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  O OLHO ESQUERDO DA LUA (EDITORA PENALUX, 2021) DE JADE LUÍSA - Por Antônio Torres Nos tempos que atravessamos, ler “O olho esquerdo da Lua, de Jade Luísa, é pressentir a respiração indômita e libertadora de Lilith, tida como a mulher primeira; é vislumbrar a autonomia, sensualidade e prazeres no reino de Safo, em Lesbos; é perceber o esplendor erótico na arte de Maria Tereza Horta e de Lourença Lou; é sentir a multiplicidade de mulheres, lutas e caminhos que habitam e formam uma mulher, ao ler Mar Becker; é trilhar uma vereda original entre tudo que já foi dito e o que ainda não se nomeia e se oculta na encastelada hipocrisia. Já tivemos, nos primórdios, sociedades matriarcais, e a lua foi a primeira divindade do que passou a chamar-se humano. “O olho esquerdo da Lua” chega com essa aura de mistério e luz reveladora : de delicadezas, como em Gema (tornar-se pétala), Maré VII (asa no murmúrio das ondas) ou El comienzo del sueño (cata-vento enluarado); : de afirmação e autodescoberta

MulherArte Resenhas 16 | "Chão Batido", de Juçara Naccioli: vozes monumentais de ontem e de hoje - Por Marli Walker

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  Chão Batido , de Juçara Naccioli: vozes monumentais de ontem e de hoje - Por Marli Walker Chão Batido , de Juçara Naccioli, chega pela editora Cálida - SP, neste 2021, trazendo a linguagem de uma voz lírica ancestral (seria a avó?), atualizada por outra voz (seria a neta?), conduzindo o leitor por entre cantigas, alecrins, lavandas, rosários, orvalhos, rezas e patuás. Ao leitor desavisado, o estranhamento poderá ocorrer logo ao iniciar a leitura dos poemas, que vêm revestidos de “pretuguês”, grafados em linguagem que revela a diversidade cultural desde o chão até o teto, passando pelo quintal onde se colhem as ervas para proceder às rezas e benzeções. A poeta advertiu-me, quando lançou o livro, para que lesse os poemas seguindo a sequência, caso quisesse vivenciar uma experiência de leitura mais intensa. Foi o que fiz, que não sou boba nem nada. Quero sempre a experiência o mais potente possível quando o assunto é poesia, linguagem, literatura. A atmosfera densa vai se tornando, ao

MulherArte Resenhas 15 | Entrega-se poesia em Domicílio - Por Marli Walker

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  Entrega-se poesia em Domicílio  - Por Marli Walker            Marta Helena Cocco nos entrega poesia em Domicílio num período em que a pandemia da Covid 19 começa a perder força diante da vacina. Embora os poemas tenham sido escritos em 2017, alguns poucos receberam os últimos retoques em meio a reclusão forçada que vivenciamos. É interessante pensar no surgimento da proposta temática há dois ou três anos, pois quando li o arquivo em primeira mão, já estávamos todos trancafiados em casa, obrigados a conviver com espaços até então pouco reparados, sentidos ou até mesmo evitados. No entanto, ficamos sem saída, acuados em domicílio, literalmente. Esse fato interferiu na leitura e fez pensar na proporção com que Bachelard se dedicou em suas observações sobre a simbologia do espaço, essa poética tão íntima de cada ser. Por óbvio que o Domicílio de Marta é metáfora da ambiência psíquica, dos nossos recantos, quartos, salas e cômodos da bagunça. Entramos, pois, com o cuidado que a visita e é

MulherArte Resenhas 14 | O "Domicílio" de Marta Cocco: A arte de habitar a poesia contemporânea - Por Eduardo Mahon

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  O Domicílio de Marta Cocco:  A arte de habitar a poesia contemporânea   - Por Eduardo Mahon A beleza de ler um livro ainda não publicado é que, depois que encarna no papel parece ser algo completamente diferente. Exilado no Manso, há mais de 1 ano, li o copião do atual Domicílio (Gesto, 2021). Senti um gosto meio amargo de balanço, fim de festa, noves fora, trocando em miúdos. Talvez fosse a pandemia, o sol escaldante, o cenário do cerrado bruto. Li várias vezes como se, na poesia de Marta, houvesse alguma salvação. Nunca há. Quem sabe, dê-se justamente o contrário. Agora, devidamente vestido de capa e contracapa, o livro confirma a minha sensação inicial. A maturidade cobra uma espécie de retrospecto, antologia ou exposição do que se aprendeu até aqui. Não poderia mesmo ser um livro esperançoso em meio ao nosso contemporâneo desesperançado.  Domicílio abre-se em cômodos, cada qual dedicado a um estilo e/ou tema, prato cheio para os estruturalistas que babarão de gula com a “antig

MulherArte Resenhas 13 | Posfácio ao livro "Carga de Cavalaria" de Divanize Carbonieri - Por Paulo Sesar Pimentel

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  Posfácio ao livro "Carga de Cavalaria"  de Divanize Carbonieri - Por Paulo Sesar Pimentel “Eu não quero as réguas para traçar meus caminhos. Eu prefiro as éguas, num galopar torto y veloz” (Antônio Sodré)   “Pastora de nuvens, por muito que espere, não há quem me explique meu vário rebanho. Perdida atrás dele na planície aérea, não sei se o conduzo, não sei se o acompanho” (Cecília Meireles)   Como uma cavalgada, ler este livro é experimentar ritmos: frente a uma planície tão ampla, pode-se trotar, vagarosamente, degustando imagens pelo caminho, ou, num galope veloz, atravessar as distâncias que Divanize Carbonieri constrói. Esta obra, deste modo, fotografando em palavras que necessitaram ser selecionadíssimas, dadas as limitações do haicai, funciona igual a uma bula que ensina a sobre como olhar, no dorso de um cavalo, o mundo em movimento e, ao mesmo tempo, em pé, na beirada da floresta, as tantas possibilidades de liberdade. Não nos enganemos, leito

Divina Leitura | Poesia para ressignificar o caos: "'Eu' Pandêmica" de Maria Cleunice Fantinati da Silva

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  Coluna 19 Poesia para ressignificar o caos:  "'Eu' Pandêmica" de Maria Cleunice Fantinati da Silva - Por Divanize Carbonieri A pandemia de coronavírus impôs o isolamento sobre grande parte da população, principalmente sobre uma parcela mais privilegiada que pode ficar em casa e trabalhar em home office . E mesmo os que são obrigados a se locomover estão experimentando algum tipo de restrição em seus deslocamentos. Muitos escritores encontram-se nessas circunstâncias, constantemente fechados em suas residências. Alguns sofrem bloqueios criativos causados pelo clima de insegurança e medo que paira sobre todos. Mas, para outros, a literatura se converte em válvula de escape e, essencialmente, numa maneira de ressignificar as agruras da situação. Esse é o caso de Maria Cleunice Fantinati da Silva em “Eu” Pandêmica . Como o título torna explícito, esse é um livro de um “eu” que busca dar vazão aos diferentes estados de alma provocados pela ameaça pandêmica. O interno e