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Mostrando postagens com o rótulo Uma colher de chá pra ele

Uma colher de chá pra ele - Weslley Almeida

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| uma colher de chá pra ele - 05 | Poesia para um tempo que dói Gustave Caillebotte A PERMEABILIDADE DAS HORAS A castidade dos dias a permeabilidade das horas meus olhos sangrando de horizonte o arrebol a máscara o álcool o desapego das coisas fúteis carros cheios de formol e valas com mais de sete palmos feitas a braços de escavadeiras arrancando terra corpos ao chão sem velas, velórios só valetas e uma dor que tem comunhão com o sopro de nossa finitude da magnitude dos nossos corpos vãos. ARQUITETURA DAS SOMBRAS Ficar em casa acostumar-se com a arquitetura das sombras as paredes brancas sofá, cama geladeira e fogão com o hábito da mão a preguiça dos olhos toda mecânica e automação dos nossos corpos biônicos com hastes de óculos lentes de contato pontes de safena e celular controle remoto como epiderme músculo ossos links lives de extensão. Lida Matviyenko FAINA Cunhar moedas fazer barganha comprar o pão de todo dia Dar du

Uma colher de chá pra ele - Armando Liguori Júnior

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| uma colher de chá pra ele - 04 | " (...) Eu sinto e vivo com a poesia e pela poesia." Armando Liguori Junior TODO MUNDO LÊ POESIA O deputado leu um poema. Não entendeu, e ainda achou despudorado. Disse preferir os clássicos (Na certa lê Castro Alves, todas as noites, antes de dormir) O vereador leu um poema Não entendeu, e ainda achou inverossímil. O prefeito leu um poema E achou precário, mesmo sem entender lá muito bem. O juiz não leu um poema. Disse que prefere biografias Mesmo não lembrando a última que tenha lido O presidente perguntou Se esses poetas não tem coisa mais útil pra fazer Que o Brasil ganharia mais se eles trabalhassem um pouco O trabalhador não tem tempo para fazer nem para ler poemas Mas se tivesse entenderia que poesia não é coisa só de se entender. É mais. FERIDA A ferida seca confere à pele Uma camada frágil Gelo fino, vidro de sangue. A dor úmida e fresc

Uma colher de chá pra ele - Linaldo Guedes

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| uma colher de chá pra ele - 03 | Poemas do livro, ainda inédito, “Cabo Branco e outros lugares que não estão no mapa” (Quase vivos) há, entre nós, as mesmas sepulturas: elas foram cavadas para os negros sacrificados como carneiros em feiras livres, em sujas senzalas nossos cadáveres fedem como todos os mortos como os índios dizimados pelos portugueses em aldeias que hoje são apenas vitrines para turistas, para os mecenas do capital nossos cadáveres morreram nas secas nos flagelos, nos sertões deles deles mesmos, os coronéis eles que cortam os dedos e levam os anéis nossos cadáveres tentaram atravessar os anos 60 na paz, no amor mas foram torturados nas prisões no submundo da nossa política imunda nossos cadáveres chegaram ao século vinte e um recebendo golpe atrás de golpe de bastardos vestidos de amarelos, de bastardos furtando nosso amarelo, sendo patos em nossa chacina diária nossos cadáveres existem porq

Uma colher de chá pra ele - Geraldo Lavigne

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| uma colher de chá pra ele - 02| - Seis poemas tocantes do poeta baiano Geraldo Lavigne - meu caso é grave, doutor? comecei sofrendo de poesia aguda. não tratei. desenvolvi sensibilidade às palavras, sofri de conceitos e verbetes, senti alívio usando metáforas e outras figuras de linguagem. eu inventava realidades no labirinto do lirismo. fiz alguns exames, guardei papéis nos bolsos, portei caneta e lancei-me ao acaso. estava na poesia pelo escapismo e expelia versos rabiscados. os laudos foram claros e, depois do estadiamento, recebi o diagnóstico : sofro de poesia crônica. vejo a curva da mobília repetir o universo, um palhaço riscado dançando nas rachaduras da cerâmica e um pássaro exibir seu voo estático. apanho água de lago na pia e ouço cachoeiras no chuveiro. dissocio corpo, mente e alma. enxergo as moléculas do ar e o espaço que ocupam. capto a vida das coisas inanimadas e reanimo a morte dos seres vivos. toco a força dos trabalhos, não a coisa que trab