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Crônica | Meia verdade ou meia mentira? - Chris Herrmann

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Crônicas que as lembranças me embrulham de presente - 12 Meia verdade ou meia mentira? por Chris Herrmann Naquela época, eu vivia no Rio de Janeiro, tinha 19 anos e meu pai tinha falecido há pouco. Eu estudava Letras na UFRJ durante o dia e procurava trabalho em um horário que não atrapalhasse os meus estudos. A situação financeira da minha mãe estava difícil e, mais ainda, eu sentia a necessidade de trabalhar e ajudar. Já tinha experiência como secretária, com inglês, traduções, datilografia, estenografia e operação de telex nacional e internacional. A dificuldade de encontrar algo que se encaixasse no meu tempo disponível era grande. Por esse motivo, me inscrevi em várias agências de emprego no centro da cidade (nos anos 80 não havia internet para todos, como hoje) e deixava claro que aceitaria também um trabalho temporário. Eu só queria uma chance. Certo dia, recebo uma ligação telefônica de uma dessas agências, e a moça ao telefone disse que se me interessasse, havi

Ana de Corona | a obra de Gisele Mirabai que supera todas as expectativas

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Ana de Corona - Capa Ana de Corona superando expectativas  por Chris Herrmann A primeira vez que li sobre esse livro de Gisele Mirabai , confesso que não tive grandes expectativas. Não por desacreditar na competência da autora que é notória, mas pelo tema em si, que no momento tem sido explorado com obviedade. Entretanto não há nada de óbvio na trama da história. Gisele surpreende em todos os sentidos. Quando comecei a ler o livro, pensei que levaria algum tempo para lê-lo em sua totalidade. Bobagem. Li em um fôlego só. Quem leu sabe o quanto essa obra é magnética. Recomendo a leitura! 🤍 Sinopse: A jovem ambientalista Ana tem sua bolsa de pesquisa cortada pelo governo. Com a rotina sobrecarregada pelo trabalho, maternidade, casa e o casamento atribulado, ela perde a concentração nos estudos. Até ser contaminada por um vírus pandêmico, que a leva de carona em uma viagem poético-científica por um planeta já há tempos contaminado. Gisele Mirabai é escritora e roteiri

200 palavras/2 minicontos - por Lota Moncada

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Cris Acqua Minicontos com cem palavras contadas Acompanhantes (Lota Moncada)     São fugidios, talvez tímidos, durante o dia não se deixam ver. Ficam se camuflando entre as muitas fotos ou as roupas penduradas no armário, mas sempre estão aí. Esperando uma oportunidade. Às vezes, um farfalhar, quase um suspiro, me faz virar depressa tentando surpreendê-los. Somente uma frustração. Remexo, ansiosa, nos muitos papéis espalhados, nas cartas amareladas, falo baixinho, provocando, fingindo paixão... Então, eles pulam, deixam meu cabelo em pé, reviram meu mundo e tomam conta do insuportável vazio. Hoje, estou decidida a deixá-los me assaltar e enfrentá-los. Mesmo que amanhã não tenha mais monstros, medos, fantasmas, passado...   E nenhuma companhia. ****  A melindrosa ( Lota Moncada) Todos a achavam fraquinha. Apenas se podia arrastar o carrinho do supermercado, sempre com olheiras e mal alimentada. Falava pouco também. No bairro era conheci

Poesia | Presente em tons diversos - Chris Herrmann

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Quando a surpresa é um poema a mais Chris Herrmann Este ano de 2020 tem sido terrível e muito preocupante para o povo brasileiro. O Brasil atravessa uma crise política, social e, sejamos sinceros, também ética. Para piorar, ainda veio a pandemia que no Brasil tornou-se uma tragédia ainda maior e descontrolada devido ao desgoverno. Apesar de viver na Alemanha há 24 anos e ter cidadania dupla, tenho imensa preocupação com os acontecimentos sociais e políticos da nossa terra.  Embora a pandemia na Alemanha esteja sendo bem controlada pelo governo, continuo minha quarentena e só saio de casa quando é muito necessário. Nem me passou pela cabeça festejar meu aniversário. Quero estar em paz com a família, sem correr riscos desnecessários. Além da ideia de tomar vinho com meu marido, não fiz planos. Porém, amigas escritoras e poetas queridas me fizeram surpresas que me emocionaram. Uma delas, foi encher o nosso Podcast da revista - o Pod Ser MulherArte , com leituras de poemas meus

Cinthia Kriemler - 5 poemas pra não esquecer

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Carmen Luna Natureza morta II A mulher chinesa estática na fotografia em p&b é diferente de mim Não sorri não fala português não diz palavra não tenta ser minha amiga no Facebook A mulher chinesa usa um chapéu de cone para colher arroz e umas calças largas que eu não quero usar Porque eu sou gorda e as calças largas avolumam ainda mais os visuais arredondados por carnes em acúmulo A mulher chinesa não quer ter filhas, só filhos, porque as meninas são inúteis para a revolução Mesmo que a revolução já seja tão velha quanto a minha memória mais antiga do que seja uma revolução A mulher chinesa se deita todas as noites e chora sem ruído por alguma coisa que ela não conhece e que faz falta                                      Tem medo que descubram que ela sonha com viagens com livre-arbítrio e com campos de girassóis bem mais bonitos que os campos de arroz que tornam plana a paisagem dos dias chine

Em uma Metáfora bem-humorada, o passado alerta o futuro: crônica de Marisa Zani

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Salvador Dalí MÓVEIS MEMÓRIAS *                     por  Marisa Zanirato Tudo começou quando o discreto guarda roupa colonial apaixonou-se pela culta e rebelde estante de livros. Ele, legítimo jacarandá, viúvo da distinta e refinada cristaleira, tinha desse casamento uma filha: mesa de jantar – donzela de certa idade, educada para servir discretamente. Entretanto, no final dos afazeres, depois de esvaziadas as taças de vinho, mesa de jantar entrava em devaneios nos quais ela se transformava na macia e aconchegante cama, protegida e amada pelo criado-mudo.     Estante de livros não tinha linhagem nobre. Pertencia à geração beat: aglomerado de madeira revestida com padrão cerejeira. Ainda jovem, acolheu Platão, Marx, Sartre e Nieztsche, com a mesma irreverência com que acolhera atlas geográficos, dicionários, literatura védica e revistas em quadrinhos. Já na maturidade, permitiu-se algumas veleidades, ostentando sem constrangimento um aparelho de TV e um DVD. Porém