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Quatro poemas de Dirce Carneiro

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Campo de Girassóis - Van Gogh PREITO   Sussurram copas no ocaso de outono Cantam aves No hiato do juízo As horas cravam sentires de dor Badala o bronze, acelera instantes Belo é o cenário alheio a circunstâncias Cores da estação dominam a vista Girassóis circundam seu corpo inerte Último mimo a seu gosto na terra Tinge-se de ocre o campo do adeus Olhos parados, tomados de espanto Imaginário perdido um futuro sem ti Deitam-se no preito os tons da saudade. **** foto de Dirce Carneiro.   SOMMELIER Seu beijo molhado Harmoniza Com tinto seco **** foto Dirce Carneiro   MAREIRO Na praia, não havia escudo. A força do vento vencia o mar cada vez mais perto. Ondas gigantes em túnel, a areia no ar desenhava paisagem imprecisa. Os grãos minúsculos fustigavam a pele, ferindo-a. Longe estava a varanda, o abrigo. Cada vez mais distantes a casinha amarela, a visão da seringueira. Vul

Sinfonia | Marilia Kubota

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MOSAICO Coluna 16    –  crônica Sinfonia por Marília Kubota Eu moro num pequeno apartamento no centro de Curitiba. Escuto todos os sons ao redor. O ranger de uma porta se abrindo, na casa vizinha. O barulho das chaves. Motores de carros, motocicletas e ônibus, vindos da rua. E o cantarolar de pássaros que vivem em gaiolas, no apartamento do prédio em frente.   Esta sinfonia  e os dias ensolarados tornam meu isolamento menos árduo. Abrir a janela da sacada e  ouvir o canto acima do ruído nervoso de motores automotivos e  vozes que se exaltam me dá a impressão de não ficar tão sufocada.   Além do canto dos pássaros, ouço, vez ou outra, alguém  praticar um saxofone.  Este tipo de gratuidade me faz ter a sensação de estar saindo à rua. Ler, ver filmes, ouvir música na internet, conversar nas redes sociais, são respiros. Mas volta e meia penso na sensação de flanar sem destino para encontrar eventos ou amigos ao acaso.  A música dos pássaros ou do sax o são gratuidades qu

RESENHA do livro FIOS DE AÇO - a poesia impactante de LĺGIA SAVIO

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(capa do livro FIOS DE AÇO ) A POESIA IMPACTANTE DE LIGIA SAVIO por Nic Cardeal Em FIOS DE AÇO , livro publicado pela Editora Letramento (Belo Horizonte/MG) em 2019, LÍGIA SAVIO expõe sua poética mais 'realista' - mesmo assim sempre recheada de metáforas e de sensibilidade - traduzida pelo olhar no "duro, por vezes violento, exercício de viver" . Como muito bem diz Carina Marques Duarte, na apresentação,  "(...) os poemas do livro que ora apresento aos leitores são os fios de aço capazes de  sustentar quem está na corda bamba, são os fios que, tal como o de Ariadne, indicam o caminho (...)" (pág. 6). Foto: arquivo pessoal O livro é dividido em 5 partes. Em Personagens  (1), os poemas ganham 'identidade própria', seres viventes que respiram infernos e paraísos, cada um a seu tempo e modo - desde o gosto amargo da noite em claro, a descida ao Hades sem resgate, o fantasma que sobrou nas trevas 'daqui mesmo', ao amor

De vez em quando um conto | Lia Sena

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O Dia por Lia Sena Levantou de sobressalto; olhou pela janela e deu de cara com um céu lindo, azulzinho, com pequenas nuvens brancas e pensou: Nada deixará esse céu cinzento hoje! Uma alegria imensa tomava conta de todo o seu ser -era hoje, finalmente o dia! Depois de seis meses que ela havia partido, estimulada por ele mesmo, pra realizar o sonho de fazer aquele curso tão desejado e que impulsionaria sua carreira, mesmo tendo que sair do país, chegara o esperado dia do retorno. É fato qu e três meses atrás ele a visitara rapidamente; mataram um pouco da saudade, mas era diferente agora! Ela voltava à casa e muito mais feliz com a nova conquista. Ele, inebriado com a ideia dessa volta tão iminente, tirara o dia de folga; não iria hoje à empresa, deixaria a casa do jeito que ela gosta; tomaria um banho demorado, faria a barba e a esperaria com todos os mimos; jantar providenciado pra mais tarde, um vinho que ela gosta tanto, as plantas na varanda (ela não gosta de flores mo

Uma colher de chá pra ele - Antonio Torres

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|Uma colher de chá pra ele 09| Antonio Torres é um poeta gentilíssimo, que abraça a causa das mulheres e costuma escrever em português, espanhol e inglês. Semra Sevimli TEU NOME Eu já não durmo sem que teu nome lembre que estrelas brincan sorrindo em teus olhos Eu já não durmo sem que a lembrança do teu nome venha agasalhar-me Eu já não durmo sem que tua voz seja puro acalanto no meu ninho de sonhos És como o oxigênio no ar que respiro o espírito do sangue nas veias a usina de sonhos e desejos reinventando-me como a luz de cada amanhecer Teu nome é luz : uma formidável usina de sonhos que me reinventa como a luz do amanhecer! &&& : MULHER Sou o fogo do espírito das águas                  mar original dos prazeres onde cada homem                  se afoga e afaga sua sede de luz                   sem saber dos espinhos e rosas que guardei do paraíso em meu olhar.

Edna Almeida | 5 poemas

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LucianeValença Em nosso jardim Ah esse entrelaçar Que nem sempre vejo Vem-me assim Caminho no tempo Sentimento de estar solto e preso Nessa rede de estar entre linhas De tecer paulatinamente Ter casa estar de passagem Não é ilusão o presente È vida! Meus olhos precisam olhar devagar. Luciane Va   lença O impulso O que provoca não é o corpo, Não é o nu. É o imprevisto O movimento em cena como um risco. O puxar da roupa que ameaça os meus olhos profanos E pára, não era nada? Fica no ar o que os olhos pensavam Como quem tira a casca,  E provoca. Ninguém suga. É isso que me leva junto, O impulso. O ato eu conheço, O nu eu já vi.  Mas mil vezes imaginar, O que causa perturbação  É a pirraça.  Que deixa a casa dos olhos à beira do caminho  Imaginar, arte santa e não profana. Ai que vergonha! Luciane Valença Céus de estrada. Pensar e escrever são mesmo como uma estrada Surge sem que precisemos tirar o corpo do l