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Clarice em vários espectros | Marilia Kubota

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  MOSAICO Coluna 25    –   Crônica CLARICE EM VÁRIOS ESPECTROS por Marília Kubota Neste dia 10 de dezembro celebram-se os cem anos de Clarice Lispector. Sem formação acadêmica em sua obra, não tenho condições de analisar a obra dela.  Vou dar pitacos  como leitora apaixonada.   Aos dez anos a li pela primeira vez.  Era a crônica "O ato gratuito", publicada numa antologia escolar. Eu ouvia a professora ler, intrigada. Por que alguém consideraria um prazer  beber água em  fonte pública ?  Eu nada conhecia de poesia. Nunca tinha ouvido falar de Jean Paul Sartre ou existencialismo. O nome da autora ficou gravado em minha mente. Ainda, como leitora iniciante, lembro dela como tradutora do romance "O retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde.  Era um livro de bolso da Ediouro, que eu comprava pelo correio. Não havia livrarias em minha cidade natal. Eu só podia ler emprestando livros da biblioteca de meu tio, quando ia visitar a avó, em São Paulo ou comprando livros pelo cor

De Prosa & Arte | Corpo Universo - Une Versos!

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  Coluna 9 Corpo Universo - Une Versos! É chegado o tempo em que descubro a grandeza dormente no íntimo, no corpo que o espelho reflete. Então, constato e somo o que vivi. Já tive um corpo jovem, magro, firme e desejado que não me deu metade do prazer que reside em meu corpo maduro, de seios um tanto flácidos, nas gordurinhas localizadas – agora localizadas por toda parte – nas olheiras insones, nas marcas de expressão. Meu corpo abriga minhas vivências, meus amores, os dissabores. Meu Habitat. É o invólucro da minha alma, é minha matéria de passagem, gosto dele assim, mesmo que outros desgostem, queiram opinar sobre ele, corrigi-lo ou colocá-lo num padrão que não é o que almejo. Meu corpo gerador não pode gerar porque mais que a agregação biológica dos “gametas” é necessária compatibilidade áurica, sabe aquele afeto pós coito, que desprende energia e ondas elétricas de satisfação. Gerar exige também essa satisfação para além da eletricidade que percorre a pele. Gerar exige pulso, vibr

Um ensaio de Juliane Matarelli | Entre raízes e convenções: um coração

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  Mabel Amber. Fonte: pixabay.com Um ensaio de Juliane Matarelli Entre raízes e convenções: um coração Fui convidada, há já alguns anos, por não me lembro quem, a integrar um coletivo feminino virtual de nome Mulherio das Letras . A plataforma escolhida foi uma das muitas redes sociais disponíveis. O nome me pareceu interessante e logo entendi que se tratava de um grupo de mulheres que escreviam. Pareceu-me um grupo bem diversificado e as integrantes apresentavam diferentes experiências relativas ao mundo da palavra escrita: algumas com experiências com o universo editorial brasileiro, às vezes também com o internacional; outras, sem nenhuma experiência com publicações. Contudo, todas pareciam ter alguma prática de escrita – muitas com vasta experiência em interações por redes sociais.  Acompanhei de longe (ainda que com vivo interesse) alguns problemas do grupo, excelentes inciativas, importantes dicas e ótimas divulgações. Me ofereci para revisar a primeira publicação Mulherio das Le

Para não dizer que não falei dos cravos | Três poemas de Matheus Guménin Barreto

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  Coluna 10 Três poemas de Matheus Guménin Barreto toda linguagem é crime maior ou menor   ***     arder a vida em palavras   medidas sombra por sombra duma mão noutra arder a vida na geografia incerta da boca   que arde um instante e desce à terra.   arder a vida nos ecos   e nos corpos ora nacarados ora suados do discurso que o lábio promete nem sempre cumpre e quando cumpre é sempre quase.   equidistante do fim e do início arder a vida   enquanto o corpo se desfaz devagar com carinho quase mas resoluto.   arder do verbo absoluto à procura   o verbo na sarça que se queima magnífico e não existe.   arder a vida pruma bosta qualquer   que mal nasce já não existe ::   – arder a vida à procura dum sol pousado na mesa dum dia de justiça entre irmãos e descer à terra ciente – mas contente, resoluto – de nada ter nas mãos   *** alge- nade- tud o sopros da manhã ã o que fica se fica e quando e com

Preta em Traje Branco | Maternidade e Aprendizado | Crespo Sim

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  Coluna 2 Maternidade e Aprendizado Consciência racial através de um nascimento Desde o meu primeiro mês de gestação, fui levada a refletir sobre condição racial, sobre negritude, sobre o que é pertencer a esse grupo, e o que é ser negro neste país. Filha de mãe preta e pai branco, sempre fui definida como “morena”, “parda” por conta do tom de pele mais claro. Logo no início da gestação passei por uma experiência atravessada por questões raciais. As pessoas faziam inúmeros questionamentos, do tipo: _ como será que vai ser o cabelo da bebê? _ será que vai ser morena? _ Cor de jambo? _ será que vai ser preta? Como se não bastasse essas falas racistas, ainda ouvia: Você vai ter que passar muito óleo na mão para fazer trancinhas no cabelo da bebê, e riam... Chegavam a fazer desenhos com duas bolinhas pretas dizendo ser a representação da minha filha. Não tinha graça alguma, pelo contrário, me perguntava a todo instante o porquê das pessoas se incomodarem tanto com a cor da pel

Preciosidades Antológicas 09 | Helena da Rosa, Ines Lempek e Ivy Menon

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|  coluna 09  | Preciosidades Antológicas - três autoras Helena da Rosa, Inês Lempek e Ivy Menon por Chris Herrmann Na coluna de hoje, destacamos os poemas das três autoras acima, da  I Antologia Digital de Poesia  Porque Somos Mulheres , lançada em Maio/2020 pelo selo  Ser MulherArte Editorial . Foram 149 poetas selecionadas e/ou convidadas das 208 inscritas, que nos orgulharam muito pela qualidade e diversidade das obras. Desejamos a vocês boas leituras! clique na imagem para ler o e-book gratuito Ser MulherArte Editorial, 2020

De Prosa e Arte | Escrevo para nos Perdoar

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Coluna 8 Escrevo para nos Perdoar Sempre falo de ti com nostalgia o que remete a ilusão de que você nem mais existe. Nunca tinha percebido isso, até que contando uma de nossas poucas histórias, alguém me perguntou:  _ Seu pai ainda é vivo? Eu, surpresa com a pergunta respondi:  _ Sim é! Mas convivemos tão pouco ultimamente que meu jeito de falar não é despedida pra quem já partiu, é só saudade. Cara , queria te contar que hoje escrevo e leio com tanta paixão por sua causa, que sempre me ensinou a buscar. Nunca me deu uma resposta pronta. E isso me fez curiosa, observadora e humana.  Porque quando tu chegava “bebaço” ainda assim pegava o livro de contos clássicos, lia pra nós Branca de Neve (era o que tinha pra aquele momento) com um sotaque alcoolizado, tropeçando nas palavras. O que podia parecer uma afronta pra mamãe, pra nós era diversão e nos levava às gargalhadas de soltar xixi nas calças.  E quando faltava energia e estávamos sob a luz de velas nos ensinou a ler as sombras produz