Fu Man Chu (o mágico) - Conto de Araceli Otamendi e poema de Isabel Furini


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FU MAN CHU

Quando eu era criança fui ver Fu Man Chú, levei minha irmã, viajamos de trem de Quilmes para Buenos Aires.

Depois pegamos o metrô em Constitución em direção ao centro.

Pela primeira vez vi um mágico em ação.

O mágico fez mais truques, alguns com cartas: mostrava os naipes entre os dedos, misturvá-los, adivinhava sempre a carta escolhida por alguém.

Também teve  lenços, muitos lenços coloridos.

Mas o número mágico que mais me impactou foi aquele da mulher em quem o homem atirava facas.

Ela estava  quieta, imóvel em uma superfície reta enquanto o homem lançava facas na sua direção, sem  machucá-la.

Como essa mulher permaneceu intacta depois disso?  Eu me perguntava.

Eu não sabia que as palavras podem causar mais dano  que as facas.

Uma mulher entrou em uma caixa e ele a cortou pela metade. Pouco depois  a mulher saiu da caixa intacta.

Isso era magia? Quantas machucados e mutilações uma mulher poderia sofrer e sair intacta?

As mutilações foram apenas físicas?

Eu continuo me perguntando.

Araceli Otamendi é escritora e jornalista argentina, dirige há vinte e dois anos ininterruptamente as revistas culturais digitais Archivos del Sur e Barco de papel.

Publicou os romances policiais Pájaros Sob a Pele e a Cerveja – Prêmio Fundação El Libro para novos escritores (1994) e Estranhos na Noite de Iemanjá (2013). Em 2000, sua antologia de escritores latino-americanos Imagens de Nova York foi apresentada no Centro Rey Juan Carlos I da NYU, Nova York.

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O mágico

            Isabel Furini

a faca antiga, de prata

pendurada em um prego da parede 

do corredor lateral à porta 


no palco do teatro 

o mágico está lançando facas

em direção à mulher silenciosa


poltronas vermelhas

olhos assustados

por fim, os aplausos


no palco, o mágico, calmamente

pronuncia palavras em línguas mortas

e pombos brancos fogem da cartola


**





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