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Um Conto bem-humorado e surpreendente - por Sonia Nabarrete

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Aquarela de Luciane Valença Entre corpos Havia cheiro de sexo no ar. Eles já tinham se beijado longamente e explorado com línguas e dedos o corpo um do outro, quando eu, que a tudo assistia, fui convidada a participar. Cheguei no melhor da festa. Ela já estava devidamente lubrificada e ele exibia sua potência, sem disfarçar um certo orgulho. Naquela noite quente de verão, numa ampla cama redonda de motel, cenário para cultos hedonistas, eu estava entre um homem e uma mulher, sintonizados em um tesão que se traduzia em movimentos instintivos, num ritmo crescente. Feito o recheio de um sanduíche, sentia as manobras e recebia fluídos de ambos. Recebi o calor e a energia daqueles corpos que se fundiam numa coreografia perfeita, cada um buscando o próprio prazer. O orgasmo foi simultâneo e intenso.   Depois, quando a paixão deu lugar à ternura, fui excluída do contexto.   Com a mesma sutileza com que fui chamada, me dispensaram. E em seguida, atirada ao lixo, que é lu

Cinco poemas da baiana Luh Oliveira

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Aquarela de Luciane Valença livra-me de tudo que é falso avulso analto farsa carma sigma livra-me de tudo que é cinza ** teu fetiche um corpo nu com scarpin vermelho o meu uma alma nua que reflete no espelho Aquarela de Luciane Valença sou feita de lágrimas secreções e orgasmos nada em mim es cor re em vão ** É um rasgar-se constante para cobrir feridas que a pele camufla é um abrir fendas Em desconforto silente que agoniza e aterroriza todo o encantar do arrebol Ainda bem que não existe o pra sempre ** todo aquele medo instalado no ventre feito novelo sem ponta para desenlaçar dissolve-se na noite toda vez que a lua cheia vem saudar a poesia que se esconde em mim ** Luh Oliveira é baiana, mãe, poeta, professora de Língua Portuguesa, Mestra em Letras. Ocupa a cadeira de número 03 da Academia de Letras de Ilhéus. Sempre gostou de escrever verso

A poética de Dagmar Braga

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foto - Inês Santos   "Geometria da Paixão"  como se fosse domingo desabotoei as horas l e n t a m e n t e abri minhas gavetas e deixei suspensa a esperança ilegível recolhi o desejo a memória como se fosse domingo deixei a solidão lançar seus fumos meus destroços e lendas aprontei o turíbulo - a prece pelo avesso – desentranhei-me – o coração vadio o corpo o olho nu como se fosse domingo e um deus dormisse Poemando luz e palavra tecendo o encontro corpo e texto lavrando a noite                liberdade uma pitada de sal ternura                e fogo Poema delirioso Era uma vez o sol Depois veio a noite A moldura da boniteza da noite E o silêncio ancho – regado a sonho Depois veio a fome E o medo da fome A incerteza E o olhar – comprido de desejo Depois veio a sede E a ranhura do vento Na crueza dos campos alísios Era uma vez o sol

Um Conto da maranhense Lindevania Martins

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Colheita Lindevania Martins O garoto levantou o braço, apontando o revólver de novo para Josefa, que perguntou: — Vai ser agora? Ele permaneceu mudo. Era uma lágrima caindo dos olhos avermelhados? Era quase um menino. Teria quatorze, quinze, dezesseis anos? Ela reclamou: — Vai demorar? Ele subiu o outro braço até a cabeça, afastando a franja que caía na fronte. Abriu a boca e fungou: — Não tenho pressa. Uns quatro metros de canteiros intercalados entre tomate e manjericão o separavam dela. A essa distância, ele não erraria. — Meu pai diz que a gente tem que colher com os dentes para comer com a gengiva. — Alguns nunca conseguem colher – Josefa replicou. — Não é o seu caso. Ao lado dela, no chão, o cesto de palha com os tomates recém colhidos. O revólver metálico, um calibre 38 muito lustroso, tremia na mão do garoto. — Conto até cinco e você sai correndo. Talvez eu atire, talvez não. — Não consigo correr. Meus joelhos são ruins. É o reumatismo. Por is

Um mergulho na Arte libertária de Cláudia Gonçalves

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Seis poemas e cinco Artes de Cláudia Gonçalves.                             epílogo                             na quase esquina                                        não há vaga                             perdeu-se o tato                             perdeu-se a valsa                             perdeu-se o enlace                             [na quase esquina_não vale]                             não vale o dote_                             não vale                             não vale a pena_                             não vale                             não vale o trote_                             não vale                             não vale o chumbo_                             não vale                             não vale o passe                             [não vale o rito do sal                             jorrado na face]                            constatação                            às vezes para romper                            o ei

Mulheres Xamânicas

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No xamanismo as árvores são chamadas de “O Povo em Pé”, percebem as necessidades de todos os Filhos da Terra e se esforçam por atendê-las. Cada árvore e planta possui seus próprios dons, talentos e habilidades a serem compartilhados. Nos dão frutos, enquanto outras fornecem curas para distúrbios em nossos níveis emocionais ou físico, ensinam lições de como estarmos em harmonia com nós mesmos e com os outros, além de nos ensinar a obter uma mente silenciosa. Tais interpretações, nos remetem a uma atitude de respeito, da importância de cada indivíduo, nesse grande cosmos. De uma maneira quase intuitiva, sempre fiz a ligação entre árvores e mulheres. Como figuras maternas, as árvores em suas copas, abrigam bichos e pássaros, a sombra que nos fornecem para o descanso e alento. Selecionei 4 trabalhos para ilustrar a ligação de nós mulheres, mães, filhas e guerreiras com aquelas que mesmo sem a nossa percepção, nos inspiram desde o início dos tempos. Paz e Arte!

Um Conto (inteiro) e um Poema de Ana Valéria Fink

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Aquarela de Luciane Valença MEIO A MEIO                                                                  Não sei muito bem como contar. Porque não sei muito bem como começar. Porque não sei muito bem como devo referir-me a eles – penso que desconheço a moderna nomenclatura para os pares. Até onde estou inteirada, se isso ainda voga, se dois se relacionam sem nenhum tipo de compromisso, seriam ficantes ; se admitirem uma constância, passariam a namorados; se cometerem a promessa de compromisso, mais adiante, mas ainda vivem cada qual no seu local, noivos; se oficializam a parceria, via lei dos homens ou divina, esposos, ou marido e mulher. Mas, e quando se envolvem, não oficialmente, e vivem sob o mesmo teto? Mais: sob o mesmo forro, que é o mesmo abrigo, mas visto de dentro, o que conota muito mais intimidade?  Ou seja, partilham o mesmo dormitório, mas não se limitam a usá-lo somente para o que a denominação sugere? Decididamente, os termos pejorativos (concubinos, amásios)

A excelência na dança - Melli Sarina e a Tribal Fusion

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Foto: Melli Sarina em performance - arquivo pessoal A Dança do Ventre (Tribal Fusion) de Melli Sarina por Chris Herrmann Melli Sarina Baumeister é alemã, residente em Augsburg, na Alemanha. Viaja para os Estados Unidos regularmente para aprender a técnica de Dança do Ventre Tribal Fusion diretamente da fonte. Ela completou seu treinamento de danças de nível 2 com Zoe Jakes em 2017 em São Francisco. Completou com sucesso e já participou duas vezes do Tribal Massive Program para dançarinos profissionais em Las Vegas. Seu objetivo é encontrar os caminhos de treinamento mais eficazes para técnicas precisas de dança e movimentos fluidos e ser capaz de oferecer aos alunos a melhor base de treinamento possível. Atualmente, é palestrante de oficina em uma turnê pela Europa e administra seu próprio estúdio de dança More Moves Studio em Augsburg. Assista os vídeos abaixo, onde é possível perceber e constatar a excelência da sua técnica e graça durante a performance. Melli Sarina enc