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Mostrando postagens de setembro, 2020

Cinco poemas de Rosana Piccolo | Uma poética de movimento e paralisação

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Tomie Ohtake Cinco poemas de Rosana Piccolo Uma poética de bronze e movimento tremulante Baile   ninguém sabe o que passa pelo coração das estátuas   ninguém ouve o leão com asas de argila, poetas cinzelados a chicote e névoa   há grous garças adágios enraizados no bronze   ninguém dança nem camisas ao vento nem folhas de agosto nem robôs nem joãos bobos nem em filmes nem por sonho nem por lei, ninguém   no chafariz o cavalo baba mil saiotes refrescantes ninguém usa     Sábado à tarde   toldos odor de bacon nos bares   pisoteada serpente do Largo por músicos e malhas garis alaranjados   panfletos se debulham como pétalas, túneis pileque de pivetes   e as gárgulas que golfam grifes de verão na úmida gravura de meu rosto Tomie Ohtake Praça do Japão *   vestida de noiva, ela vinha adiante pisava a grama gelada áspera bota calçava vestida de noiva contrária à lágrima escura dos pombos vestida

Três poemas de Maria Cleunice Fantinati da Silva | "Intensa(mente) temperamental"

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Frida Kahlo Três poemas de Maria Cleunice Fantinati da Silva Intensa(mente) temperamental MULHER INSTÁVEL I Intensa(mente) temperamental. Mulher multifacetada, Pela vida recortada... Nunca o centro, sempre os extremos. Vive em desencontros. Seus “eus”, instáveis, conduz-me por seus caminhos incertos...  Sempre tropeço para acompanhar seus passos. Às vezes, caio nos seus braços. Meu desassossego, o preço Por segundos de prazer. Frida Kahlo MULHER INSTÁVEL- II Não quero teu amor. Sou intensa. Não conheces meu interior. Sou inconstante. Agora quero sexo. Não confundas com amor. Prazer, tudo que desejo. Apenas alguns instantes. Muitos beijos. Vivo o incerto... Não quero morrer infeliz. Sou variável, Infiel... Você, compreender-me? (In)capaz. Preso em (pré)conceitos Sufoca-me à liberdade. Meu interior, devaneios... Meu corpo, suporte Para tantos passeios... Não tentes seguir-me... Sou intensa, inconstante, Incerta e inf

ERA UMA VEZ 10 I A magia da infância na literatura infantil da escritora Maíra Gomes

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  “O Tempo é o culpado, Que não ouve o meu pedido. Não custa nada passar voando Quando não estou contigo.”                 Esses versos fazem parte do livro “ A Menina e o Tempo ” da escritora Maíra Gomes. Maíra Gomes é jornalista de formação e escritora por convicção. Sua porta de entrada para a literatura infantil foi a maternidade.  “Eu sempre escrevi, mas foi por causa do Caio que voltei meu interesse para as histórias infantis”, conta. O livro “ Infância ” foi escrito em 2012. A história é curiosa porque em momento nenhum a poesia, cujo título original era “Saudades da Infância”, foi escrita para crianças. “Era eu, alimentando a criança que fui, em um dia de muita saudade da minha avó. A poesia ficou guardada até que um dia recebemos alguns livros do projeto Leia para uma criança, do Itaú.  Percebi que um dos livros se assemelhava muito com a minha poesia, não no conteúdo, mas na forma, e isso me fez despertar para o desejo de publicar um livro”, revela a autora. Infânci

Um poema de Wanda Monteiro traduzido em espanhol | "La Tierra anda cansada de nosotros"

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  "Daughter of Gaia". Kerry Darlington. Um poema de Wanda Monteiro  traduzido em espanhol La Tierra anda cansada de nosotros Tradução: Arturo Jiménez Martínez   La tierra anda cansada de nosotros ______________________________ siento el dolor más profundo de la herida abierta y esa inmensa tristeza cuando me derrumban las selvas y soy golpeada por la lámina que estremece corta y me destruye siento la profunda desolación al rasgo agudo y lacerante en el arrancar de las raíces por el hacha en su brutal danza a medio arco en el rarificado aire lamento el llanto sofocado de las verdes copas cayendo al suelo que lloran la muerte inútil de sus frutos en el crujido de las ramas rompiéndose al viento por la furia de la destrucción claros sin luz, desagrados, escombros, silencios en el destino de la saña humana el espasmo sofocándome el lecho sacándome el aliento en la penetración estúpida y cruel del mortificante metal en mis aguas la muerte me asombra a cada lastre de atómico residu

Divina Leitura | Temas e Tramas em "Sem Açúcar" de Flávia Helena

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  Coluna 08 Temas e Tramas em Sem açúcar de Flávia Helena - por Divanize Carbonieri Sem açúcar  (2016) de Flávia Helena é composto por 27 contos, sendo que 19 têm protagonistas mulheres, 5 têm protagonistas homens e 2 têm personagens trans, que fazem a transição de um gênero para o outro. No conto "A cada qual o seu quinhão", o papel de protagonista parece ser dividido entre os personagens: a mãe, o filho e a filha. Entre as protagonistas mulheres, 4 são idosas ou começaram a envelhecer e 2 são crianças. Entre os homens, 2 são idosos ou envelhecem durante a narrativa e 2 são meninos. Todos os contos apresentam uma voz narrativa de terceira pessoa. O subjetivo é narrado não a partir de dentro, como seria o mais esperado, mas de fora. Uma consciência serena observa e apresenta personagens transtornados em ambientes e eventos desfigurados. A vivência da dor não é dada por uma identificação direta, que poderia seguir um imediatismo trágico e irremediável. Ao contrário, ela par