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Para não dizer que não falei dos cravos | "Retratos" e "Autorretratos" de José Inácio Vieira de Melo

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  Coluna 25 "Retratos" e "Autorretratos"  de José Inácio Vieira de Melo RETRATOS     ESTRANHO NICHO Para Tita do Rêgo Silva Vejo tanto bicho nesse estranho nicho que fico perplexo por encontrar nexo.   As formas de Tita regam pelo solo mutantes caprinos, abismos sonoros.   São estranhas vidas, bacanal carmim, de uma vera artista sabor buriti.   JARDIM DO OLHAR Para Rubens Jardim   Os teus olhos tem azuis, luz de poesia acesa a alumiar as veredas.   Olhar perdido no Cosmo, num transbordar de caminhos, constelações que adivinhas. Faróis das longas distâncias, tuas retinas de rimas acariciam os passantes. E quanto mais longe miras, mais brilham tuas pupilas grávidas de infinitudes. Surge, agora, outro olhar, nova nau da percepção: um livro canta a paixão aos sentidos de um leitor, que em suas páginas viu um poeta virar jardim.     FOTOGRAFIA Para Ricardo Prado   Cavalo escuro atravessando claros   o ritmo do teu olho capta aquele momento que passa.   O íntimo d

Três poemas de Josuelene Souza | Autorretrato

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  Imagem de Ilona F. por Pixabay. Três poemas de Josuelene Souza AUTORRETRATO     Sou mulher: Ser frágil em sua incompletude Ser forte em sua completude   Sou mulher: Ser forte em suas batalhas da vida Sou mulher: Em seus encantamentos e desencantamentos   Sou mulher: Ser ora incansada, ora cansada Sou mulher: Ser libertária   Sou mulher: Ser geradora de outro ser Sou mulher: Ser com vontades e desejos   Sou mulher: Ser mãe Ser amada Ser amante.   Sou mulher: Ser de liberdade Ser de amizade Ser de lealdade   Sou mulher: Ser fera Ser animal Ser angelical   Sou mulher: Ser das fusões De Afrodite De Atenas De Artêmis De Vênus   Sou mulher: Ser de uma junção de todas as mulheres: Cleópatra Helena Maria Paraguaçu Xica da Silva Anita Garibaldi Dandara Maria Quitéria   Sou mulher: Ser mitológico Ser angelical Ser guerreiro Guerreiro ser. * RITO DE PASSAGEM   Em comemoração aos meus 40 anos   Somos passagem do tempo Ora sorrimos Ora cantamos Ora choramos Ora amamos Somos feitos de marcas Somos

Pés Descalços 01 | Menino ou Menina

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  Menino ou Menina Quem me conhece sabe que gosto de contar histórias, em especial, da minha vida. Acho que herdei isto da avó paterna, amada vovó. Mas, às vezes, ela me deixava confusa. Dizia que eu tinha uma natureza forte, menina braba e, lá vinha a ladainha de sempre, com a mesma história dizendo “Quando sua mãe foi para o hospital, ter o seu irmão Ivan, ela deixou você em meus cuidados, você acordou no meio da noite querendo a sua mãe e eu disse que ela não estava, mas que a vovó estava ali. Você não quis saber de mim e deu um tapa em minha cara.”. Escutei esta história desde os dois anos de idade até a fase adulta. Fui uma criança que dificilmente aceitava as coisas facilmente, ainda mais quando a mãe queria me colocar para cuidar dos irmãos mais novos e ter que cozinhar para a família. Sempre achei que fazer os serviços domésticos tirava a minha liberdade. Era uma tortura. Deixar de subir em árvores, de finca finca no chão, rolimã, construir casinhas com tranqueiras velhas, pula

Poemia 02 | Mulher e menina - por Chris Herrmann

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  | coluna 02 | Esta é a segunda edição desta coluna, onde trago sempre dois poemas autorais e uma imagem artística. Hoje o tema é Mulher e Menina. Os Florais de Bárbara na alma rosa de hiroshima no coração magnólia nos olhos erva doce na boca dente de leão no palco comigo-ninguém-pode nas mãos as palmas Aquarela de Lu Valença (da minha coleção particular) Crepúsculo II havia um calor de saudade naquelas andanças a menina que queria alcançar as estrelas caiu tarde em mim segui saudando a criança rasguei as cortinas do crepúsculo anoiteci chovendo em meus olhos

Para não dizer que não falei dos cravos | Cinco poemas de Pedro Vale

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  Coluna 24 Cinco poemas de Pedro Vale do livro Azul instântaneo Porto A poesia vai Pela rua, Nua. Esconde-se Nas manhãs mais Frias. E é à noite que lhe foge A voz. Lenta E lenta, Lentamente, Até Desembainhar Na F O Z *   Luz(a) alma Sossega e vive do ar A cómoda alma, armário espacial. Plana e cisma a esmola pintada Na rua nua e perfumada. Sonha a universal fundação, À beira-rio, navio-fantasma e fruição. Entoa, na guitarra infantil, dramática gente, Num acorde simples, medieval. - Ó alma lusa, Acorda e sente, Mesmo que à tangente, O que é ser filha de Portugal. Imagem de Christian Dorn por Pixabay. Hoje acordei com uma andorinha no estômago. A noite era de tempo limpo e sono. Sabia a quebra milenar, cabelo solto. Nenhuma angústia, lei, mato ou víscera defronte. O prédio seguia o seu curso normal de vida, espécie de abrigo impune. Gineceu. Observava sem capacidade estrelada o céu, quando a miúda astronomia me Espantou a inocência. A circular impressão se revelara. Tal como no meu estô

Um conto de Mônica Prata | Os Olhos Bentos de Bárbara

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Imagem de José Eduardo Camargo por Pixabay. Um conto de Mônica Prata Os Olhos Bentos de Bárbara A lida no cafezal começava todos os dias antes do alvorecer.   Lá pelas dez, a moça ajuntava o embornal com as matulas dos capiaus, descia o monte, cruzava a pinguela, seguia por algumas léguas no trieiro que margeava o pasto até alcançar a plantação   na encosta do morro do Lontra. Próximo à sombra do mangueiral, dava pra ouvir o falatório e os pigarros esparsos, na temperança da fome arcaica. - Aleluia D. Bárbra qui hoje tamo é varado di fome! - Larga di bobiça Nhô Dito, e vein ajudá na repartição dessa treinheira toda. - Uai, quedê o Mané? Já picô a mula? - Fazi é tempo. Foi lá pras banda do Rio Timbaúbas mode ajeitá uns estribu pro patrão. - Deixá pra lá! Mió assim! Manuel dos Anzóis Pereira Alves di Oliveira era casado de pouco com Bárbara dos Anjos Estival que nessa ocasião estava grávida de sete meses de Domingas Aparecida, a primogênita de uma sequência de nove filhos do