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Mostrando postagens com o rótulo Divanize Carbonieri

Uma crônica de Yvonne Miller | Sobre Mesas e Armários

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  Imagem de Dakub por Pixabay. Uma crônica de Yvonne Miller SOBRE MESAS E ARMÁRIOS   É a minha primeira lembrança. Devo ter uns três, quatro anos. Restaurante, meia-luz, o tilintar de talheres ao encontro com a louça, vozes, risos, cheiro de queijo gratinado e cebola frita no ar, garçons de camisa branca e calça social se movem ágeis entre as mesas. Numa delas estão sentados meus avós, pais e tias. Enquanto esperam a comida, me deixam explorar a área, correr entre as mesas, brincar com as outras crianças. E lá está ela. Uma menina de cachos loiros e vestido vermelho. Não consigo tirar os olhos dela, como se nunca antes tivesse visto uma criatura semelhante. Ela corre até o fundo do restaurante, dando gritos de alegria, e eu corro atrás. Ela se agacha para engatinhar por debaixo de uma mesa e lá vou eu também. Ela volta correndo para o outro lado e eu a sigo. Não vejo o garçom que balança uma bandeja cheia de copos no ar — só tenho olhos para ela. Ele desvia no último momento, a ban

Um ensaio de Isabel Furini | A Poesia e sua Função

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  Imagem de Willi Heidelbach por Pixabay. Um ensaio de Isabel Furini A POESIA E SUA FUNÇÃO     Introdução Quando falamos de poesia precisamos entender que entramos em um campo com múltiplas visões. Alguns consideram que um poema de qualidade deve ser sofisticado; para outros, o poema revela a alma de um povo e, por isso, deve ser desprovisto de palavras inusuais e de construções complicadas.   Tive a oportunidade de ser jurado de alguns concursos e foi muito interessante perceber que cada um dos componentes das equipes (professor, jornalista, escritor, poeta, crítico literário, editor, membro de alguma Academia de Letras ou bibliotecário), tinha uma opinião formada e difícil de modificar. Alguns amam poemas com rima, mas na opinião de outros ela torna o poema limitado, pois é preciso escolher palavras pela terminação e não pelo significado.   Um grupo considerava a poesia como expressão da alma; já para outro a poesia  exige um trabalho apurado para escolher as palavra

Para não dizer que não falei dos cravos | "Retratos" e "Autorretratos" de José Inácio Vieira de Melo

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  Coluna 25 "Retratos" e "Autorretratos"  de José Inácio Vieira de Melo RETRATOS     ESTRANHO NICHO Para Tita do Rêgo Silva Vejo tanto bicho nesse estranho nicho que fico perplexo por encontrar nexo.   As formas de Tita regam pelo solo mutantes caprinos, abismos sonoros.   São estranhas vidas, bacanal carmim, de uma vera artista sabor buriti.   JARDIM DO OLHAR Para Rubens Jardim   Os teus olhos tem azuis, luz de poesia acesa a alumiar as veredas.   Olhar perdido no Cosmo, num transbordar de caminhos, constelações que adivinhas. Faróis das longas distâncias, tuas retinas de rimas acariciam os passantes. E quanto mais longe miras, mais brilham tuas pupilas grávidas de infinitudes. Surge, agora, outro olhar, nova nau da percepção: um livro canta a paixão aos sentidos de um leitor, que em suas páginas viu um poeta virar jardim.     FOTOGRAFIA Para Ricardo Prado   Cavalo escuro atravessando claros   o ritmo do teu olho capta aquele momento que passa.   O íntimo d

Três poemas de Josuelene Souza | Autorretrato

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  Imagem de Ilona F. por Pixabay. Três poemas de Josuelene Souza AUTORRETRATO     Sou mulher: Ser frágil em sua incompletude Ser forte em sua completude   Sou mulher: Ser forte em suas batalhas da vida Sou mulher: Em seus encantamentos e desencantamentos   Sou mulher: Ser ora incansada, ora cansada Sou mulher: Ser libertária   Sou mulher: Ser geradora de outro ser Sou mulher: Ser com vontades e desejos   Sou mulher: Ser mãe Ser amada Ser amante.   Sou mulher: Ser de liberdade Ser de amizade Ser de lealdade   Sou mulher: Ser fera Ser animal Ser angelical   Sou mulher: Ser das fusões De Afrodite De Atenas De Artêmis De Vênus   Sou mulher: Ser de uma junção de todas as mulheres: Cleópatra Helena Maria Paraguaçu Xica da Silva Anita Garibaldi Dandara Maria Quitéria   Sou mulher: Ser mitológico Ser angelical Ser guerreiro Guerreiro ser. * RITO DE PASSAGEM   Em comemoração aos meus 40 anos   Somos passagem do tempo Ora sorrimos Ora cantamos Ora choramos Ora amamos Somos feitos de marcas Somos

Para não dizer que não falei dos cravos | Cinco poemas de Pedro Vale

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  Coluna 24 Cinco poemas de Pedro Vale do livro Azul instântaneo Porto A poesia vai Pela rua, Nua. Esconde-se Nas manhãs mais Frias. E é à noite que lhe foge A voz. Lenta E lenta, Lentamente, Até Desembainhar Na F O Z *   Luz(a) alma Sossega e vive do ar A cómoda alma, armário espacial. Plana e cisma a esmola pintada Na rua nua e perfumada. Sonha a universal fundação, À beira-rio, navio-fantasma e fruição. Entoa, na guitarra infantil, dramática gente, Num acorde simples, medieval. - Ó alma lusa, Acorda e sente, Mesmo que à tangente, O que é ser filha de Portugal. Imagem de Christian Dorn por Pixabay. Hoje acordei com uma andorinha no estômago. A noite era de tempo limpo e sono. Sabia a quebra milenar, cabelo solto. Nenhuma angústia, lei, mato ou víscera defronte. O prédio seguia o seu curso normal de vida, espécie de abrigo impune. Gineceu. Observava sem capacidade estrelada o céu, quando a miúda astronomia me Espantou a inocência. A circular impressão se revelara. Tal como no meu estô