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Mostrando postagens com o rótulo Ivy Menon

Bom humor para falar de coisas sérias: duas crônicas de Irene Giglio

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imagem sem anotação de autoria O gato socialista (que sabe quando a gente tá triste)                                                     Por Irene Giglio Não desceu pra comer. Já eram seis da tarde quando me dei conta. "Ué... que foi?" Nem se deu ao trabalho de abrir direito os olhos cor de mel. Só um arremedo de olhar do tipo: "Deixe-me! Estou desolado." "Sei que é difícil, mas a gente tem que reagir... eu já fiz o tal pão keto, iogurte e até o tomate seco! Vamos lá comer?" Desta vez se dignou a abrir um pouco mais seus lindos olhos, mas a mensagem foi a mesma: "deixe-me" (mas olhe pra mim/gato é que nem mulher)! E para minha surpresa, soltou: "Não comerei enquanto Evo não encontrar asilo político." O quê??? A gente comentava as notícias, mas não imaginava que ele sabia tanto! "Você andou olhando as notícias dos grupos de whatsapp de novo?" Silenciou. Agora parec

Afeto e melancolia, em uma belíssima crônica poética de Juliêta Almeida

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Arte de Willian H. Snape A Cadeira e o Olhar                     por Juliêta Almeida O  olhar de uma pessoa reflete a alma! E existem almas para todos os gostos! Há os que olham para uma cadeira e veem apenas uma cadeira, outros veem uma história. Uma vida! Vou contar-lhes sobre o que vi, ao revisitar as gavetas da memória. A primeira e principal delas é a figura do meu pai/avô, Chico Maria, sentado na tal cadeira que, hoje,  ultrapassa um século de existência... meu avó, Chico Maria, a me contar histórias e a me fazer lembrar também de uma frase do escritor Ivan Martins: “o tempo pode ser adiado por fora, mas por dentro ele se instala”, dai… Era um dia de sábado. Dia de tensão! A cadeira de balanço não balançava! Nela, um senhor de aspecto severo e circunspecto contava as cédulas, enquanto o suor lhe escorria pelo rosto. Havia chegado da feira livre, há poucos minutos, e o balaieiro (homem que carregava em um balaio as compras dos fregueses) ainda esperava pelo seu paga

Cinco poemas de Ivy Menon - Poesia talhada na dor

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Menino Sentado - Portinari quasímodo o menino carvoeiro anda torto de pretume e fuligem a buscar forças para o próximo passo nasceres e pores de sóis não lhe impressionam o peso do saco às costas e o chão d uro à frente mantêm-lhes os olhos baixos o menino de carvão se pinta máscara cinza que lhe cobre o rosto não há tempo para sonhos e desconhece horizontes arco-íris ou faz-de-conta o peso vai além dos músculos quase vasa pelos dentes falhos e lhe falta fala. o menino do carvão sabe o mundo é preto e branco como o feijão-com-arroz do dia pago se bem que nos últimos tempos tem visto estrelas que pontilham o céu como se lhe apontassem outros mundos a fuligem no nariz lhe faz cócegas ele ri para o mundo de estrelas. Portinari titãs crianças com dentes cariados olhos fundos mãos que se estendem no vazio esperam-me os centavos para o pão do dia eu sonho ganhar na loteria fugir para a europa a me es

O Tempo sonha em travesseiros de pedra: cinco Poemas de Lua Serena

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Tempo virá em que o mundo há de ficar sozinho Gemem as mãos na repulsa das carícias choram as estrelas no apagão dos olhos descrentes Contar o tempo é mania que se apanha e não se aprende não se rende o corpo da teimosia ainda que falhe a fé e cale a alma ... Tempo virá ainda que tarde o entendimento há de ficar sozinho o mundo na imensidão dos céus ... Logo anoitece. A vida é um encantamento que o tempo tira pra dançar com o vento ora tempestade ora brisa mansa. Mas as secas chegam... Mas a vida cansa. Eu moro na fé dos desesperados nos joelhos dobrados dos sem teto sem chão sem eira nem beira de estrada nem caminho a seguir. Eu moro na esperança dos caídos sofridos até a raiz dos cabelos dos fios e meados da vida enredados alma e breu coração