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Mostrando postagens com o rótulo Resenha

MulherArte Resenhas 09 | Aos 86, Eni Fantini lança seu primeiro livro e nos ensina a libertar por meio da arte

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  Aos 86, Eni Fantini lança seu primeiro livro  e nos ensina a libertar por meio da arte - Por Maizé Trindade Há crença eternizada pela música “Paraíba”, do mestre Gonzagão, de que a paraibana é mulher valente e atrevida. Na verdade se nos dermos ao trabalho de pesquisar, encontraremos exemplos de muitas mulheres inovadoras e progressistas por todo o país. Algumas famosas. Outras, heroínas anônimas, como Eni de Oliveira Fantini. Eni nasceu na cidade mineira de Sabará, em 1934, ano que marcou a edição da terceira Constituição brasileira, considerada progressista para a época por assegurar avanços. Entre eles, ensino primário gratuito, voto secreto e institucionalização do voto feminino. Com certeza, Eni nasceu bafejada por tais ares de abertura pois revelou-se, desde logo, pioneira. Após 27 anos dedicados à área de educação, ingressou no Curso Livre de Artes Plásticas da Escola Guignard, em Belo Horizonte. Em 1987, descobriu interesse novo e enveredou-se pelos caminhos das artes marciai

MulherArte Resenhas 08 | "O quarto canal", de Clara Arreguy: um misto de alívio e suplício, utopia e distopia; um tributo à educação

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O quarto canal , de Clara Arreguy:  um misto de alívio e suplício, utopia e distopia;  um tributo à educação - Por Maria Amélia Elói Quando Clara Arreguy anunciou que lançaria romance novo, intitulado O quarto canal , versão bilíngue Português-Inglês, por sua própria editora, a Outubro Edições (outubroedicoes.com.br), logo fiquei interessada em conhecer a história. Imaginei que encontraria naquele universo narrativo algum tipo de consolo anestésico ou ensinamento cirúrgico. Isso porque, em 2020, em plena pandemia, vim finalmente a experimentar o tal tratamento de canal, não só uma, mas duas vezes, após episódios de dor de dente — eu, que até então só conhecia as habituais limpezas, pequenas obturações, a plaquinha noturna de acrílico e os aparelhos ortodônticos da infância e da juventude. Quem me deu o livro foi a escritora Flávia Ribas, numa brincadeira de amigo oculto do Instituto Casa de Autores (casadeautores.com.br), em dezembro, e só agora tive a chance de me deitar na cadeira do

MulherArte Resenhas 07 | Amazônia em sangue com Sandra Godinho

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  Amazônia em sangue com Sandra Godinho _ por Luiz Otávio Oliani "- Uma estória nunca é a mesma quando passada de boca em boca”  Sandra Godinho, p. 37 A literatura é uma produção humana e toda e qualquer classificação em relação a ela segue com fins didáticos. O uso dos adjetivos serve para rotular, aproximar, moldar, aprumar ou categorizar estilos e autores, como se não houvesse exceções.   Na História, a produção de literatura ficou restrita, por séculos, aos homens. Mas, com o declínio do patriarcado na sociedade brasileira, o direito ao voto, a revolução feminista, entre outras conquistas, as mulheres passaram a ter espaço no campo das letras. Bem depois de Dinah Silveira de Queiroz, com “Floradas na Serra”; Rachel de Queiroz, com “O Quinze”, Clarice Lispector, com “Perto do Coração Selvagem”, Lygia Fagundes Telles com “Ciranda de Pedra”, Nélida Pinon com “Guia-mapa de Gabriel Arcanjo”, para ficar somente com estas romancistas de quilate, eis que surge, em 2020, Sandra Godinho

Resenha 'afetiva' do livro de poesia CICUTA E CILÍCIO, de Jeanne Araújo

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(capa do livro CICUTA E CILÍCIO ) O AMOR SAGRADO E PROFANO NA POESIA DE CICUTA E CILÍCIO  (por Nic Cardeal) Em seu novo livro  CICUTA E CILÍCIO (Penalux, 2021),  JEANNE ARAÚJO  transforma em poesia contemporânea toda a paixão e o amor revelados na obra clássica  As Cartas Portuguesas , por Mariana Vaz Alcoforado (freira portuguesa e escritora), e dirigidos ao Marquês Noel Bouton de Chamilly, Conde de Saint-Léger e oficial francês. O ‘eu lírico' de Mariana é desenhado na poética de Jeanne, que descreve lindamente o vendaval de sentimentos - às vezes brisa, às vezes tempestade - que tomou conta de Mariana, ao viver esse amor e posteriormente ser abandonada pelo amado. Tanto o amor profano quanto o sagrado, ambos se misturam nos versos de Jeanne, trazendo roupagem nova e atual para o amor proibido retratado nas clássicas cartas. A personagem tem urgência de falar sobre o amor que marcou - feito tatuagem, corte, fagulha, fantasia - a sua pele, a sua alma, a sua memória. Em todos os

MulherArte Resenhas 06 | O OBSERVATÓRIO POÉTICO de Lucinda Persona

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O OBSERVATÓRIO POÉTICO de Lucinda Persona - Por Eduardo Mahon De repente, me lembrei de Lucinda. Onde estará ela? Certamente refugiada em seu apartamento. Com ou sem pandemia, o apartamento de Lucinda é uma especie de observatório. Não propriamente observatório astronômico, mas poético. No mais recente livro O passo do instante , a escritora faz da noite o seu principal tema. A maioria dos poemas traz a imagem decadente do dia, a promessa da tarde e a fertilidade da noite, matéria prima para a poesia. Do alto de seu observatório, a poeta não se desloca. Ela observa a cidade com distanciamento e passividade. Faz anotações quase científicas e forja uma espécie de diário do perímetro. Índices pluviométricos, períodos de seca e de umidade, regime de ventos, tudo isso se projetando para a criação poética. Onde está a noite? O que é a noite? Parece-me que o dia (o verão?) está identificado com o trabalho, enquanto a tarde (ou o outono?) nos dão a pista que os períodos do dia são, na verdade,

Comentário afetivo (resenha) sobre o romance O CORAÇÃO PENSA CONSTANTEMENTE, de Rosângela Vieira Rocha

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(capa do livro O CORAÇÃO PENSA CONSTANTEMENTE ) POR QUE CONSTANTEMENTE O CORAÇÃO PENSA E SENTE O AMOR por Nic Cardeal  “Esta nossa existência é transitória como as nuvens do outono. Ver o nascimento e a morte dos seres é como olhar os movimentos de uma dança. Uma vida é como o clarão de um relâmpago no céu,  rápida como uma torrente que se precipita montanha abaixo”.  (Buda) Desde que ROSÂNGELA VIEIRA ROCHA iniciou a divulgação do lançamento de seu novo livro, O CORAÇÃO PENSA CONSTANTEMENTE (Cajazeiras: Arribaçã, 2020), fiquei curiosíssima sobre sua narrativa. Por duas razões principais: a primeira, porque eu já tinha uma breve noção de que o tema seria importantíssimo, principalmente nesses tempos em que os laços afetivos, ainda que de modo virtual em sua maioria, são alento fundamental para resistirmos ao isolamento e às tristezas cotidianas da pandemia que assola o mundo. A segunda, porque o título de um livro invariavelmente me atrai como um ímã – e com esse não foi diferent

MulherArte Resenhas 05 | Pré-história de Paloma Vidal

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  Pré-história de Paloma Vidal (Rio de janeiro:7letras, 2020) - Por Eurídice Figueiredo No romance Pré-história ,  Paloma Vidal (2020) fala de um luto não pela morte de alguém, mas pelo fim do casamento. A narradora fala diretamente com o ex-marido, numa espécie de acerto de contas. Segundo Freud em Luto e melancolia haveria dois tipos de reação diante da perda do objeto amado:  o sujeito aceita a perda e começa a fazer o luto ou o sujeito não aceita a perda, incorpora aquele objeto perdido, tornando-se melancólico. O tom do livro é melancólico porque a separação ainda não foi bem resolvida, ainda ecoa nos sentimentos da narradora; a própria escrita faz parte do esforço para elaborar o luto da perda. Ela usa um mecanismo um pouco retorcido: insiste mais na cena inicial, o encontro dos dois adolescentes na festa de seu aniversário no play do prédio, do que em brigas que teriam levado à separação do casal, o que vai aparecer mais para o fim do livro. Já numa espécie de preâmbulo el

Divina Leitura | O tutano da experiência viva em "Jardim de ossos" de Marli Walker

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  Coluna 16 O tutano da experiência viva em  Jardim de ossos de Marli Walker - Por Divanize Carbonieri Jardim de ossos de Marli Walker explora, como o título indica, a profusão de ossadas que vão se produzindo na vida de uma pessoa ao longo do tempo. O principal campo semântico a ser trabalhado é o do osso enquanto estrutura que se forma em torno da subjetividade conforme se acumulam as experiências vividas: “é como tatear um recife de corais/(exoesqueleto calcário)/sob o sal das águas do meu tempo”. Todos os seres humanos que alcançaram algumas décadas de existência forçosamente apresentam certa couraça de proteção construída pelo acúmulo de desilusões e perdas. A fossilização dos afetos, pelo menos em certa medida, é necessária à sobrevivência e também inevitável. A própria linhagem parece ser vista como uma espécie de andaime em que aquela que está viva se reconhece como alguém que está no nível mais alto (ou talvez mais próximo à superfície) apoiado nos ombros daquelas que lhe