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A poesia crua e dolorida de Arlene Lopes - cinco poemas

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Carmen Luna OJERIZA sou feita da mistura de amor e tormentos um deus ressentido e arbitrário me criou defenestrou minha infância tirou a terra e me deu covas rasas onde plantei adultos e crianças gente alegre e gente magoada quando cheguei na metade do caminho  desembrulhei a vida e encontrei uma pedra  com resquícios de memórias impregnadas deus impassível e isento  nem viu quando usei um bisturi e arranquei de mim o distúrbio das células arruinadas   das vezes que a vida desmoronou deus que está em toda parte  não estava na parte em que eu estava  talvez estivesse ocupado  abraçando outros mundos tentando acabar com as guerras religiosas ou ajudando algum pobre magnata. Carmen Luna INSÔNIA   Os sonhos que tive foram abandonados em alguma cidade onde vivi  depois veio  a insônia Carmen Luna DREAM sem nenhuma moeda aqueles olhos frios e imóveis pareciam mirar a balsa de Caronte, eu,

Lílian Almeida - Poemas do livro Pulsares

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Óleo sobre tela por Luciane Valença Crisálida Grávida do ser que me habita vou parir a mim mesma. Outra. Quando a lua anunciar negruras já serei o que sou. Mariposas cintilam lilases voos e auroras. Luciane Valença Fênix Para Rita Santana No chão, os meus restantes. Estatelei-me no voo. Esfacelada, a altura era o solo. Uma asa esmagada um pé quebrado os olhos parados o tronco desconjuntado. Restantes em fragmento do que te dei inteiro. Recolhi as partes. Lavei com lágrimas sequei com rotos sorrisos. Secreto unguentos de sangue e muco e cicatrizo os cortes. Suturo as dores com o preto fio dos meus cabelos para deixar marcado, no corpo da fênix, a porção mulher que há em mim. Cio A fêmea exala o cheiro rubro da vida *** Céu A areia luzia no firmamento dos corpos nus. *** De cor na cidade alba os olh

Um conto forte e tocante - por Mara Magaña

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Imagem Pinterest Sonhos de Porcelana por Mara Magaña               Isadora concebia filhos de um marido monótono. As crianças cresciam pela casa, entrechocavam-se nos corredores, choravam por nada. Isadora desdobrava-se para conservar os miúdos limpos, mas sem paixão pela faina. À tarde servia o jantar para o marido, lavava a louça, tomava uma xícara de café antes de dormir e deitava-se sem nenhum enlevo. Mesmo assim, sonhava com porcelanas chinesas, seu grande desafio. Do dinheiro do leite dos pequenos, sempre dava para tirar algum para a caixinha, que ficava atrás do bule na cristaleira. Um dia iria pé ante pé até a loja de Dona Izildinha e compraria o jogo de chá. Podia ser simples, sem as colherinhas de prata, que também a encantavam, mas nem tanto. Um dia.               De manhã acordava com o primeiro que lhe pedia uma mamadeira aos berros. Removia fraldas, fervia o leite, varria o chão e aí é que chamava o marido. Punha a mesa para ele, esquentava o pão, pa

Um poema épico - por Eva Potiguar

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Imagem Pinterest *Liberdade antes que tardia* Ele preferiu sonhar num mundo real sem opressão... Poderia ter ficado na janela vendo corpos levados em cadeias. Mas ele olhou de semblante endurecido o flagelo de homens e mulheres retalhados e ficou arquitetando uma reviravolta social por heróis sem capas coloridas. Era um idealista? Um romântico sonhador? Talvez um louco por escolher lutar ao invés de se calar, de se aquietar na sua janela colonial e se conformar com a sua sorte de ser homem, branco, livre, ter seu sustento e uma casa para pousar... Porem, ele não se sentia livre. Estava preso e amarrado aos seus ardentes desejos por liberdade e justiça. Não havia para ele outro caminho... Não havia o que esperar... A decisão era lutar ou morrer lutando... Saiu da janela, desceu as escadas, se desfez de suas economias e de mantimentos valiosos que juntara com muito ardor. As sacas de farinhas, de café e de açúcar... eram outras espécies de ouro também... serviriam para compr

Dê-me um tema que eu lhe dou um poema - Chris Herrmann

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arte digital: chris herrmann Dezesseis Poemas de Improvisos & Arquivos por Chris Herrmann Um pequeno desafio proposto há três dias terminou com um saldo muito positivo. Eu pedi a amigas e amigos virtuais que me trouxessem temas e eu lhes daria um poema, de improviso ou de meu arquivo. Este é mais um pequeno projeto nesta linha que deu certo. Faremos muitos outros. Aguardem. Eis o resultado: ꧁1꧂  Ana Cecília Romeu propôs QUARENTENA  Chorei na quarentena [ Chris Herrmann ] hoje, pela primeira vez, chorei na quarentena não foi um choro programado foi algo além dos poros além do que eu esperava a terra dá mil voltas mas para no meu peito um leito, um silêncio de choros solitários antes chorava abafado entre risos de ironia tristezas acumuladas solidões noticiadas de gente que não conheço a morte é uma estrada sem saída um beco desconhecido uma lágrima esnobada por mil cretinos tecnocratas insensíveis babacas! ꧁2꧂  Viviane Santos Cendo