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Dois contos de Flávia Helena | "Amor não se joga fora" e "Terra Seca"

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  Paula Rego Dois contos de Flávia Helena Amor não se joga fora   Não que fosse possessiva, mas nunca se desfez de seus antigos amores. Quem já se apaixonou uma vez deve saber muito bem: os amores invadem nossos corpos. Pelos poros, olhos, boca. Adentram em forma de suor, olhares, saliva. Quando são intensos, perfuram as veias, misturam-se ao sangue e se instalam no coração. Como no dela sempre houve espaço, decidiu deixá-los quietos por lá mesmo depois que os romances se acabavam. Até que conheceu Bernardo. Ele, diferente dos outros, não precisou percorrer longos caminhos pelo corpo da moça. Foi logo na primeira noite que entrou direto pelo útero e rápido chegou ao coração. Ocupou todo o espaço que havia, expulsando os amores que estavam guardados. Eram dois. Ela menstruou na manhã seguinte, embora ainda não fosse o dia previsto. Juntou em um potinho todo o sangue grosso que, durante sete dias, saiu de dentro dela. Diluiu tudo em água e deixou a mistura fervendo em u

Era uma vez 11 I Literatura infantil inclusiva da brasiliense Alessandra Alexandria

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“E a menina emocionada deixou um belo recado para todos que não se aceitam como são.  Ela ensinou que nós somos diferentes e únicos.  Algumas pessoas são baixas, outras são altas.  Algumas tem a pele clara, outras tem a pele escura  e também tem as pessoas com alguma deficiência física,  mas nada disso importa, precisamos respeitar o outro como ele é.”   Esse trecho pertence ao livro A borboleta e a menina da escritora Alessandra Alexandria. A Borboleta e a menina foi uma história criada no último estágio na Faculdade de Educação da autora. “Fui professora estagiária de uma aluna especial na educação infantil. Ela uma criança linda, impossibilitada de andar. Adorava borboletas e gostava também de segurar a corda para os amigos brincarem de pula-corda. Foi ela quem me motivou escrever esta história”, nos conta Alessandra.  A história gira em torno de uma menina com deficiência física, que tem muitos sonhos e gostaria de ser uma borboleta para conhecer vários lugares. E a borboleta

Para não dizer que não falei dos cravos | Um conto de Wuldson Marcelo

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  Coluna 08 Um conto de Wuldson Marcelo A GAROTA QUE PODIA VOAR Ilustração de Lua Brandão Adele podia voar. Descobriu o poder involuntariamente. Quase involuntariamente. Involuntariamente não é o termo adequado para a situação, pois que ninguém investiga para saber se do dia para a noite terá a possibilidade de ganhar ou perceber um dom especial. Então, pode-se dizer que Adele soube do seu poder quando, em uma manhã gelada de março, sonhou que estava em queda e, para não cair, voou pelo quarto. Ela guardou o segredo de todos. Nem treinava para desenvolver sua habilidade. Mantinha-se afastada de todos, dos curiosos e dos sábios. Alguém poderia vir a desconfiar que podia voar. Nem sua mãe, Laura, nem Maria Isabel, a Pandinha, assim chamada por colecionar qualquer objeto com urso panda, que era sua melhor amiga, tinham conhecimento de que Adele voava. No início, ela voava tão somente pelo quarto, tamanho era seu medo de ser vista e terminar seus dias como atração de espetáculos itineran

Divina Leitura | Mais sobre Luciene Carvalho

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  Coluna 11 Mais sobre Luciene Carvalho - por Divanize Carbonieri Na semana passada, esta coluna se dedicou a resenhar o número especial da Revista Pixé de outubro de 2020 em homenagem a Luciene Carvalho. Naquela ocasião, eu e Maria Elizabete Nascimento de Oliveira nos detivemos em sua produção poética, tendo por base a seleção de poemas publicados na edição. Como Carvalho está completando vinte e cinco anos de carreira, resolvi continuar a celebração de sua obra, reproduzindo aqui o capítulo que escrevi a respeito de sua coletânea de minicontos, Conta-gotas (2007), e que faz parte do livro  Cuiabá, a mulher e a cidade: literatura, cinema e artes da cena , organizado por mim e por Maria Thereza Azevedo, a ser lançado ainda este ano. CUIABÁ: A CIDADE MULHER DE LUCIENE CARVALHO   Ao idealizar este texto, eu tinha o intuito de encontrar uma cartografia feminina para Cuiabá na literatura. Queria saber como a cidade teria sido desenhada nas narrativas de suas autoras. Que espécie de m