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Prosa Poética | Parece Mentira, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 05| Parece mentira, mas ainda hoje, nós, mulheres, estamos sujeitas a inúmeras críticas pelo simples fato de sermos quem somos e buscarmos independência. Parece mentira, porém, o batom vermelho estampado nos nossos lábios, o dito cujo que é sinônimo de sensualidade, também é o mesmo que aos olhos da pequenez de determinados indivíduos, nos delimita vulgares. Parece mentira, no entanto, homens são tidos como superiores. Séculos se passaram, a sociedade patriarcal permanece imune às lutas das minhas irmãs. Até lançaram-nas ao fogo por temerem o fulgor em suas veias. Bruxas! — Os infelizes vociferaram ante as chamas da injustiça consumindo as vítimas. Parece mentira, contudo, fomos e somos assujeitadas ao bel-prazer de monstros depravados que têm o intuito de nos aniquilar. E sim, nosso sentir aflorado por vezes é explorado de forma indevida. O amor entre os sexos seria uma utopia? Nada justifica tamanha crueldade para com mulheres que se entregam de verdade àqueles que acreditam

De Prosa & Arte | Despertei em versos pra te poetizar na Aurora

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Coluna 31 Despertei em versos pra te poetizar na Aurora Outra vez, ouso entrar nas linhas e entrelinhas dessa relação sem rótulo e sem título, p ra lhe dizer que ontem despertei em versos na claridade visível da janela do sexto andar. Despertei em versos na Aurora Boreal pra te dizer que essa ousadia de te poetizar, talvez esteja na mania de refletir afetos: coisa recorrente na minha breve andança pelas estradas escritas de música e poema. Ao me deitar, escolho corpos-poemas para penetrar as paisagens oníricas do meu universo paralelo, para acalentar meus sonhos, iluminar o céu  do meu inconsciente c om cores que variam entre o cor-de-rosa e o laranja. A s minhas brumas. T alvez seja saudade, e ssa loucura de te olhar em fotos, d e te mirar de longe e s orrir sozinha. Ou quem sabe ainda deixar salgar a estrada-pele do meu rosto, com medo de lhe esquecer o gosto. A melhor parte de despertar esses versos, é poder ter no alcance duma manhã que se desenha, um voo lúdico-poético no

Cinco poemas de Jéssica Iancoski | "LGBTQQICAPF2K+"

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  Imagem de Gerd Altmann por Pixabay.   Cinco poemas de Jéssica Iancoski CLEITÃO conheço mulheres e homens que menstruam todo mês sim, sangue, calcinha útero cueca fio dental homens e mulheres com cu e buceta cleitinha clitóris cleitão. LGBTQQICAPF2K+ homens são homens mulheres são mulheres não é sobre ter peitão pinto ovário buceta esperma bolas barba menstruação lesbi gay bi trans travesti queer quest curi inter ace pan poli amigue family two-spirit kink + tudo para dizer que homem é homem mulher é mulher e se alguém quiser ser nada ou dois pode também, amém. Imagem de Gerd Altmann por Pixabay.   IDEOLOGIA MACARRÃO pode até ter de sêmola mas o brasileiro pai de família come renata com ovos isabela com ovos adira com ovos vilma com ovos barilla com ovos até dona benta com ovos mas fala sempre que prefere espaguete à penne grano duro o importante mesmo é não conter gordura trans MULHER COM PAU existem dois tipos de mulheres com pau a mulher com pau que não menstrua não e

Preta em Traje Branco | Cordel reconta: Antonieta de Barros de Joyce Dias

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  Coluna 25 Fonte: Acervo Familiar. Reprodução/Maruim.Org/PISMEL, Matheus Lobo.   Cordel reconta: Antonieta de Barros Viva Antonieta Mulher Preta de luta Criou essa festança Lembrem a heroína De vida não contada Urge essa mudança   Hoje é dia do mentor Daquele que nos guia Trabalho duro, senhor! Que faz seu ofício Ensina e aprende Sempre com muito primor   Respeita esse povo Que luta, leciona... Busca valorização Mas sem nunca esquecer Que bem nesse trabalho Está sua grande missão   Ninguém nasce sabendo Nessa vida de buscas Sempre há o Professor O que nos movimenta Pessoa que incentiva Esse é educador!   Saúdo com carinho Quem as vidas transformam, Rompe dificuldades, Sempre firme e em pé Com toda maestria Muda sociedades Minha singela homenagem aos professores-educadores desse nosso país e, sobretudo, a nossa heroína Antonieta de Barros, primeira mulher negra eleita no Brasil, cuja bandeira era o poder revolucionário d

PONTE-AR: literatura preta em dia(logo) | Demandas - Catita

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  Coluna 4 Demandas             Tina, acordei hoje, seu 13 de maio, com um ponto na cabeça: “Ogum, vencedor de demanda, ele vem de Aruanda pra salvar filhos de Umbanda Ogum, Ogum Iara, Ogum, Ogum Iara, salve os campos de batalha, salve a sereia do mar, Ogum, Ogum Iara”   O ponto na cabeça, sua voz nos meus ouvidos, sua imagem nos meus olhos internos: a senhora cantava esse ponto, essa parte, muitas vezes quando estava na cozinha ou no quintal. Às vezes eu cantava junto, outras ficava só observando.  Muito mais tarde fui entender que o canto ocorria sempre que um problema nos rondava e você estava matutando como resolvê-lo.   Em nenhuma fase de minha vida, por mais difícil que fosse – perdi a conta de quantas foram e são – nunca imaginei uma situação como a que vivemos atualmente. “Pandemia” para mim e boa parte do mundo era palavra de dicionário apenas. Eu me pego pensando em como a senhora agiria, Tina? Certamente ficaria apreensiva com as restrições ao entra e sai das crianças, m

De Prosa & Arte | Pelo Centenário de Paulo Freire

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  Coluna 30  Pelo Centenário de Paulo Freire Hoje me ocorreu contar de uma experiência pedagógica que tive em terras mineiras (minha terra natal ancestral), precisamente em Belo Horizonte, adentrando o ambiente Universitário da UFMG:  "Seguimos num grupo de docentes congressistas para ouvir palavras de aprendizado e acalanto da nossa alma educadora, trocar vivências pedagógicas e nos afinizar com as ideias de Paulo.   Nessa ocasião, tive oportunidade de reconhecer a força motriz dos povos nativos, nossos irmãos indígenas, caboclos, curadores, da força primaz do verde e da terra-mãe num lindo Toré. Eram Pataxós Hã hã hãe, Guaranis Mbya, Maxacalis e Xacriabás. Naquele rito circular sob manifestações indígenas de liberdade a presos políticos, se via a intenção de manter a resistência contra a opressão que limita o povo da terra, os origi nários. Num dos líderes indígenas, relembrei um tio, já falecido, do qual não pude beber a passagem-morte. Tudo nele lembrava seu jeito. Como mover

Preta em Traje Branco | Poética em Maiúsculas de Susana Malu Cordoba

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Coluna 24 Estética em Maiúsculas de Susana Malu Cordoba pixabay.com christoph_mschrd  Não se pede poesia como quem compra meia dúzia de pães na padaria Embora até o ato de comprar pães para quem saboreia a insignificância de existir, é poesia Não se pede poesia com a simplicidade de quem apaga as luzes A escuridão tem seus mistérios, seus perigos e carrega poesia Não se pede poesia como quem entra em um avião e dorme no trajeto Para voar, se faz necessário abrir o relicário da infância, só assim é poesia Não se pede poesia como quem compra um saco de terra na floricultura Para se tocar a terra, é preciso estar livre, recolhido em suas miudezas e entender que a terra de onde viemos é sagrada, tem sangue, glória e somos todos pequenas sementes de poesia. ******************** Intenções   São as intenções, que dilaceram as palavras que saem de minha boca. Foi a intenção e seu liquido corrosivo, que derreteu as vogais do seu nome. Todas as vezes que seu nome abriga minha boca