Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Marília Kubota

Sinfonia | Marilia Kubota

Imagem
MOSAICO Coluna 16    –  crônica Sinfonia por Marília Kubota Eu moro num pequeno apartamento no centro de Curitiba. Escuto todos os sons ao redor. O ranger de uma porta se abrindo, na casa vizinha. O barulho das chaves. Motores de carros, motocicletas e ônibus, vindos da rua. E o cantarolar de pássaros que vivem em gaiolas, no apartamento do prédio em frente.   Esta sinfonia  e os dias ensolarados tornam meu isolamento menos árduo. Abrir a janela da sacada e  ouvir o canto acima do ruído nervoso de motores automotivos e  vozes que se exaltam me dá a impressão de não ficar tão sufocada.   Além do canto dos pássaros, ouço, vez ou outra, alguém  praticar um saxofone.  Este tipo de gratuidade me faz ter a sensação de estar saindo à rua. Ler, ver filmes, ouvir música na internet, conversar nas redes sociais, são respiros. Mas volta e meia penso na sensação de flanar sem destino para encontrar eventos ou amigos ao acaso.  A música dos pássaros ou do sax o são gratuidades qu

Ficar em casa - Marília Kubota

Imagem
MOSAICO Coluna 01 - Crônica Ficar em casa por Marília Kubota Durante anos fiquei incomodada com o fato de não sair de casa. Ao redor diziam: "não fique o tempo todo enfurnada", "saia pra respirar", "não fique só lendo", "pratique exercícios ao ar livre." Instrospectivos se acostumam a ouvir esta ladainha e mais: "você fala demais", "não ouvi sua voz hoje", "acho que estou surdo". Tornei-me especialista em ficar em casa.  Fui criança quieta: adorava ler.  Revistas em quadrinhos, crônicas, poemas, almanaque Biotônico Fontoura.  Em casa não havia livros. Nem Bíblia, nem Doutrina de Buda.  Não lembro se era mais caseira do que outras crianças.  Sei que jamais aprendi gramática na escola. Graças à leitura, "entendia" as regras da língua.  Aos 15 anos, comecei a ficar mais em casa do que meus colegas.  Abandonei o  ensino médio.  Fugi de uma apresentação oral compulsória nas aulas d

A Poeta Marilia Kubota - "Esperando as Bárbaras"

Imagem
foto Inês Santos  Q U A N T O   À S   E S C A P U L A S quanto às escapulas faltam asas por isso fico em casa tramando pra que os pássaros nunca saiam e se percam como as palavras soltas com as quais golpeio a página. C O R E S preto preto preto. são as unhas sujas na banca de frutas. branco branco branco o sorriso cúmplice de manhãs de sol. preto cinza preto. a tinta que turva a lua do poeta. cinza carmesim. é a maçã e a sombra traçadas pelo pincel. E U  T A M B É M  Q U E R O eu também quero  mentir bastante eu também gritar céu-silêncio  eu (impossível controlar) quero que você sirva ao ponto cego se entregue à fúria  não acredito num deus que desmancha S U B V E R S Ã O abrir a porta, todas as manhãs  colocar o tijolo que cabe no edifício da super produção de bens. ao meio-dia pastar nuvens, depois de comer boa comida para bons músculos. ao fim do expedi