Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Poesia brasileira contemporânea

Três poemas de Danielli Cavalcanti | Uma poética da migração

Imagem
  "Porto". Tarsila do Amaral Três poemas de Danielli Cavalcanti Uma poética da migração Embalagem tipo exportação  Não é do ser humano ansiar por uma vida melhor? Por que se nomeia a migração como o problema maior?   Privilégio é viver com segurança num mundo de disparidade Sacrilégio é não usar seu privilégio para o bem da humanidade Sortilégio é usar seu privilégio para a manutenção da desigualdade Egrégio é lutar por um mundo sem privilégio   Privilégio é contemplar o Mediterrâneo Enquanto ele se torna um cemitério   Quando o vento globalizado aponta e a migração desponta Privilegiado é o lugar que a classifica como afronta Onde é livre a circulação de mercadoria, mas não a de ousadia Nesse mundo real de fantasia e de fazer conta   Como seria uma migrante tratada, se chegasse empacotada? Uma ideia para a etiqueta: Manusear com cuidado, contém dignidade! "Só". Tarsila do Amaral Há de se dar voltas ao sol   Há de se dar v

Seis poemas de Mara Senna | Ponta de estrela

Imagem
  Georgina de Albuquerque Seis poemas de Mara Senna Ponta de estrela Ponta de estrela   Sonhava tão alto que, um dia, uma ponta de estrela atravessou-lhe o peito. Precisava sonhar desse jeito?   Metades   Sou capaz de longas ausências, de navegar por anos a fio, sem mandar mensagens. Sou capaz de longos silêncios, de me calar por muito tempo, sem dizer bobagens. E então sou a sábia, a ponderada, a prudente,  a elevada. Mas também sou a mesma que deixa encalhar o navio nos bancos de areia, que segue o hipnotizante canto da sereia, e que solta o verbo e entrega tudo o que sente. E aí, então, sou a tola, a impulsiva, a inconsequente, a doidivanas. Mas, somando as metades, eu sou é humana. Georgina de Albuquerque Costuras de vésperas   Eu tenho o sono das costureiras, atulhadas de encomendas, fatigadas em vésperas de festas. Na noite do baile, enquanto as outras mulheres dançam pelos salões com seus pares, el

Três poemas de Oluwa Seyi | A fagulha da vida

Imagem
Fonte: pixabay.com Três poemas de Oluwa Seyi A fagulha da vida Úmido cubículo   Meu chuveiro é espaço de criação De criança e criatividade Sob o chuveiro, muitos de meus filhos nascem Foi lá que ensaiei o parto do meu melhor poema: Foi no chuveiro que ele coroou E balbuciou seus primeiros versos   O vidro, os azulejos e a água Simulam uma porta para fora E se adentro o úmido cubículo, Nunca estou de fato nele Se adentro o úmido cubículo É quando de fato ganho o mundo.   Meu chuveiro é data e hora marcadas: Nele, tenho encontros de mim comigo mesma.     Fonte: pixabay.com   Deusa-átomo   Ela me amou e o mundo se fez Os lábios dela se contorcendo na forma do meu nome foram o início da criação De tudo: Foi a fagulha da vida como conhecemos   Desde o dia em que ela me amou, desse primeiro segundo em que ela me olhou e também me enxergou Eu me tornei sagrada central flamejante   Nossa casa, todas as galáxias comprimidas em 60 metros quadrados, é um altar Recebo flores, promessas e cafuné:

Cinco poemas de Vanessa Franco | "Uma vontade de voar"

Imagem
  Fonte: pixabay.com Cinco poemas de Vanessa Franco "Uma vontade de voar" Vontade   No coração um aperto Uma vontade de voar De sair por entre as águas De correr por entre as matas De aventurar um caminho De sentir o cheiro da noite E voltar por entre as águas.     A vitrine   Sair da vitrine Não quero olhar Sair do caminho Estou dentro do mar Sacudir as cadeiras Não quero sentar Saltei pela janela Estou fora do ar. Fonte: pixabay.com A cachorrinha   A noite escurecia tanto Mas a lupitinha não vinha Ficou entre flores e terra Ficou entre a sombra e o vento Ficou entre a saudade guardada Num sol de encantamento.     Perdemos   Perdemos coisas Um sapato pequeno Uma flor esquecida num banco E as folhas amareladas Que um dia cultivamos.     Versos   Nesses versos pequenos Nesses versos de agora Caminhamos nas tardes Com versos de outrora. Fonte: pixabay.com   Vanessa Franco   de Sá Faria

Quatro poemas de Maria Elizabete Nascimento de Oliveira | Nas asas do inaudível

Imagem
  Fonte: pixabay.com Quatro poemas de Maria Elizabete Nascimento de Oliveira Nas asas do inaudível O silêncio   Silêncio nunca é ausência. É plenitude, criação fetal. Às vezes, meigo, embala o sono, perfuma o sonho. Outras, selvagem, chega galopante, tortura a mente, espreme o cérebro, arrasta-nos do/para o cativeiro, companheiro de redenção.     Manifesto   Onde estão as mulheres escritas pela goiana Cora Coralina, pela mineira Conceição Evaristo, pela ucraniana-brasileira Clarice Lispector e tantas outras que escrevem e escreveram com o sangue que jorrou de si? Apagadas, invisíveis, sem valor... Gritos sufocados no universo de papel, mulher-esposa, mulher-amante, mulher-mãe, mulher-sonhadora, mulher-profissional, mulher-sedutora, mulher-mulheres. Vivendo todas em uma. Este ser múltiplo, original. Avante! Abra as portas e as janelas, respire o ar que, também, sai de suas entranhas. Únicas, desiguais. F

Um poema de Jade Rainho | "Um gafanhoto e o jardim gradeado"

Imagem
Fonte: pixabay.com Um poema de Jade Rainho UM GAFANHOTO                                         E O JARDIM GRADEADO     GRADEARAM O JARDIM   do lado de fora homens dormem seus trapos sob o vento sombrio   GRADEARAM O JARDIM   os olhos cheios ainda buscam o verde na mão a caneta quer sentido desenha folhas secas além do abismo   GRADEARAM O JARDIM   vestiram calcinha de renda na índia e lhe coroaram vitrine tamanho especulação   GRADEARAM O JARDIM   e dizem que não sou poeta a poesia morreu asfaltada no avançar do nosso desencontro progressivo   GRADEARAM O JARDIM   nas cidades a solidão é uma voz unicelular homens hipnotizados e conectores portáteis comunicam a virtualidade de seus anseios por te alcançar   GRADEARAM O JARDIM   e a música ilhada tenta ensurdecer o ranger dos automóveis no fluxo atrasado da vida   GRADEARAM O JARDIM   e a liberdade é uma estrada que já não cabe em avenidas   GRADEARAM O JARDIM   e o coração bomba veloz dispara o sonho de estarmos juntos   GRADEARAM O JA