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Para não dizer que não falei dos cravos | Dois poemas de Tiago D. Oliveira do livro "Mainha"

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Coluna 20 Dois poemas de Tiago D. Oliveira do livro Mainha (Patuá, 2020) Quando ornava a trança fortalecia a aliança, gesto leve que não cansa pétala sobre lança. Amarrava as andanças da história moça, quando ornava as tranças ensinava sobre força. Depois dava-nos um beijo na testa e um olhar de estrela, um fecho entre eras e o luar, quando ornava as tranças.   Imagem de Stux por Pixabay. Desde cedo foi perdão abrindo as janelas, varrendo aquele chão com as horas nas panelas velhas, como o São João, alimentando as capelas. Desde cedo foi perdão abrindo as janelas de um lar de indizíveis galáxias perdidas, pequenos jarros sensíveis, antigas cartas relidas. Desde cedo foi perdão. Imagem de Manfred Antranias Zimmer por Pixabay.     Tiago D. Oliveira nasceu em 1984, em Salvador-BA, graduado e mestrando em Letras pela UFBA, tendo passado pela UNL (Portugal). Tem poemas publicados em blogs, portais, revistas e jornais especializado

De Prosa & Arte | Uma Carta de Nanã pra Oyá com inspiração em Wangari Maathai

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Coluna 28 https://fuep.org.br/orixas/iansa/ Uma Carta de Nanã pra Oyá com inspiração em Wangari Maathai "Aviso de saltos temporais: o que vem a seguir não depende da função cronológica da narrativa, saiu atabalhoado como tem sido os dias e os pensamentos. Espero que compreenda Bela Oya. Nunca quis ser invasiva, pois p ercebo que tem gente que não gosta de muita “ frescuragem ". Mas hoje não posso deixar de dizer. Por nós que não nos reunimos mais, porém vamos conectados lutando as mesmas guerras em diferentes searas. Sinto falta dos abraços. Mas acho que não sei abraçar, sempre que preciso, faço o melhor que posso!  E fico muito emocionada quando sinto a troca energética que um abraço me proporciona. Tenho medo de demonstrar minhas fraquezas, um abraço sempre as revela. Quero contar a experiência de quando podíamos ler juntos e em seguida dividir o toque profundo de um abraço-colo. Isso faz um tempo já. Uma incrível professora colou na escola em que trabalho pra fazer uma fa

Poema | Sequela do Amor, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 02| Sequela do Amor O tempo chicoteia a memória i n c e s s a n t e m e n t e. Entretanto, o sádico ignora um pequeno-grande porém: quando se ama alguém, esquece o esquecimento; resistindo, assim, ao tormento. O romântico é,  primordialmente,  um semideus: mediante a prévia do fracasso,  concebe um desfecho do seu agrado, crendo piamente na sua veracidade. Devaneando no mar do amor genuíno,  fica insone e dá asas ao vil desatino: chora e ri de si mesmo ao naufragar.

coluna 02- Nas trilhas Femininas do Cordel

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                                                    coluna 02 O Cuscuz sagrado de cada dia. A "sustança" que alimenta o Nordeste e cientistas nordestinas. Olá Nordeste! Olá Mundo! Se "achegue" o café tá quentinho, tudo aqui preparado no mais aconchegante carinho para aquecer o seu, o meu, o nosso coração. Vamos prosear? E por falar em café quentinho, nada melhor do que o CUSCUZ para acompanhar nosso café e nossa prosa. Esta tradicional comida à base de farinha de milho é patrimônio nordestino, alimenta e dá " sustança" a milhões de trabalhadores que levantam-se com o nascer do Sol e vão para a labuta diária. Por muitas vezes é a unica refeição de alguns. Este manjar tem nas memórias de afetos o protagonismo arraigado. Qual criança nordestina não via ou vê o Sol estampar no brilho do olhar ao sentar-se à mesa simples do seu lar e saborear o cuscuz feito com todo o esmero? E o cheirinho? Ah! O cheirinho é inesquecível! As combinações são muitas: com ovo

Prosa Poética | Impiedosa Realidade, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 01| Em meu peito, por vezes, brotam gritos chorosos. As enxurradas de cobranças exteriores tornaram-me deveras exigente comigo mesma e isso transformou o âmago anteriormente florido num vão absurdamente oprimido. Encaro a janela entreaberta e vislumbro os tímidos raios solares adentrarem vagarosamente o recinto e, ébrios de uma repentina ousadia, beijam os meus pés, roubando a lividez costumeira ao deixá-los ruborizados. Eu enxergo a poesia das eras naquilo e deixo-me ser envolvida pela calidez que embebe o meu ser em sapiência. Abruptamente, eu sou acometida por náuseas que me conduzem ao banheiro numa rapidez inumana. Sentindo minhas vísceras se contorcerem, ancoro-me na pia gélida e fito o reflexo no espelho que me encara de volta, afrontoso. Eu preciso desviar o olhar daqueles olhos, mas não, há uma força superior que me mantém imóvel, segurando-me com mãos invisíveis. Os lábios fartos riem para mim, sussurrando: “aproxime-se, por favor, não tema a verdade”. No instante seg

Preta em Traje Branco | A autoestima concebida de Arleide Nascimento

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Coluna 21 A autoestima concebida de Arleide Nascimento Sou Camisa de Força   Sou vento forte Sou também ventania Sou a brisa leve Sou mormaço e também maresia   Sou o samba de roda Sou negra que samba Sou batuque e senzala Sou cajuína e cana caiana   Sou a tempestade Sou o reboliço Sou muvuca e ventania Sou a chuva de granizo   Sou sofrimento e descontentamento Sou entrega e devolução Sou amor e desejo Sou vulcão em erupção   Sou loucura e camisa de força Sou amor e sou paixão Sou intensa e maluca Pra aguentar: haja coração!  ******************* Reverso   Quando sou eu quem elogia Você tenta entender o processo Abro a porta do carro pra você É  contrário é reverso E você depois delira e faz os versos Poema do salto, alto da cinta liga Eu só tento entender o manifesto Eu quem domino ou te conduzo Eu te dou prazer e amo, confesso É estranho e diferente Você diz que é retrocesso Há quem diga que é loucura Há que

De Prosa & Arte | Pétalas e Orvalho

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Coluna 27 htt ps://pixabay.com/pt/photos/flores-mulher-cheirando-731300 Pétalas e Orvalho Sem pudor, sem métrica / Sem plano, sem regra / Corpo e Alma / Tateando desejos bicolores. Guiga Preta Dia desses, parti numa busca por elementos da flora que encontrei na janela vizinha. Numa manhã qualquer aquilo que parecia um bulbo e se assemelhava a um figo no pé, era anúncio de um cacto em flor. Eu ainda não sabia. Da minha janela eu só via o bulbo pendente para o lado de fora. Naquele dia, esqueci de retirar a câmera do estojo e registrar aquele curioso despertar no vaso na varanda de frente. No dia seguinte,  perto do mesmo horário, ao sair na janela me surpreendi com aquela explosão em pétalas... aquelas peças florais carnudas, aveludadas, sedosas e com pistilos proeminentes. Tinha uma cor próxima ao marrom arroxeado.  Uma flor de cor tão análoga a outras flores que em manhãs orvalhadas, desabrocham em seu leito envolvendo os estames. Confesso que aquela flor curiosa, em formato de est

Poemas de sobrevivência à quarentena - Nic Cardeal

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  (imagem do Google) QUASE AGORA Depois a gente esfrega o chão recolhe os tapetes ergue os varais com as toalhas e os lençóis corta a grama que já extrapolou os limites abre as persianas e deixa chegar outro sol depois a gente corta o fio afia a navalha estende o cordão entre as paredes pendura as fotografias que sobrarem no baú precisaremos afinar o olhar - o jeito certo de olhar - para não perder nenhuma palavra desviada daqueles olhares estancados da vida como meros ingredientes do nada depois a gente chora enxuga o leite derramado diz o amor engolido a sete chaves corre o risco de perder a hora, o trem, a viagem depois do fim e recolhe cada um dos abraços deixados de lado na cama, na poltrona, na cadeira da cozinha, sobre o armário empilha um por um, dobrados e cobrados, nunca dados, os beijos desejados por ora, resta-nos a máscara o lábio amargo a garganta seca luvas guardando dedos sem anéis em mãos mil vezes lavadas em água, sabão e desespero por ora,