Preta em Traje Branco | A autoestima concebida de Arleide Nascimento
Sou Camisa de Força
Sou vento forte
Sou também ventania
Sou a brisa leve
Sou mormaço e também maresia
Sou o samba de roda
Sou negra que samba
Sou batuque e senzala
Sou cajuína e cana caiana
Sou a tempestade
Sou o reboliço
Sou muvuca e ventania
Sou a chuva de granizo
Sou sofrimento e descontentamento
Sou entrega e devolução
Sou amor e desejo
Sou vulcão em erupção
Sou loucura e camisa de força
Sou amor e sou paixão
Sou intensa e maluca
Pra aguentar: haja coração!
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Reverso
Quando sou eu quem elogia
Você tenta entender o processo
Abro a porta do carro pra você
É contrário é reverso
E você depois delira
e faz os versos
Poema do salto, alto da cinta liga
Eu só tento entender o manifesto
Eu quem domino ou te conduzo
Eu te dou prazer e amo, confesso
É estranho e diferente
Você diz que é retrocesso
Há quem diga que é loucura
Há quem fique possesso
É tão ilimitado
meu poderoso domínio
Sim, sou toda excesso
Eu dou as cartas te dominando
No meu mundo tão reverso
Tão feminista e matriarca
Pira comigo nesse progresso.
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Espelho de uma mulher gorda
Me vejo no espelho
E sempre descontruo
Desconstruo os padrões da sociedade
Que com certeza, não me incluo
Ah, sociedade mal amada!
Me observo e gosto do que vejo
Vejo curvas exuberantes
Que matam qualquer um de desejo
Olho para o reflexo
E começo assim a analisar
Como alguém pode ser
tão preconceituoso?
E do meu corpo não
gostar
Sou dotada de inteligência e alegria
Quem está do meu lado, não quer me deixar
São tantas resenhas e
sorrisos largos
Como posso eu, o meu
corpo não amar?
São tantas
curvas inexploradas
Estradas perfeitas para se andar
São cheias de amor e
de loucura
Tem certeza que não quer experimentar?
Meu reflexo no
espelho, te digo na certeza
Que até podem
não gostar
Mas o que eu vejo são curvas perfeitas
Que muitos se negam... mas amam amar
Meu corpo exuberante
Tem tudo que uma mulher precisa ter
Tem uma mulher linda e resolvida
Dotada de amor próprio e de prazer
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Capoeira Minha vida
Minha vida é capoeira
Minha vida é vadiar
E onde tem capoeira
É lá que vou estar
Não
importa a distância
Faço de tudo pra chegar
É bom estar com minha galera
E capoeira, eu jogar
Há quem diga que é loucura
Esse meu amor sem fim
Mas capoeira é minha vida
Ela quem me envolve assim
Como diz um velho mestre
A capoeira é feiticeira
Ela encanta e consome
Quem se envolve em sua teia
Arleide Nascimento, mulher preta, filha de nordestinos,
artista plástica, poetisa, capoeirista, formada em Serviço Social, cresceu na
periferia da zona sul de São Paulo. Tem seu primeiro contato com a Arte em
1994. Em 1996 começa a praticar capoeira contemporânea e se apaixona pela
ginga, faz ali alguns trabalhos artísticos pintando quadros, fachada da
academia onde treinava e pinturas com temas voltados para capoeira. No início
de 2016 é provocada pelo amigo, Roberto Beiramar, e reproduz artes de Caribé em
sua academia de capoeira Angola e coloca sua Arte nos berimbaus do professor. Em
2019 é convidada para reproduzir artes de Carybé em Campinas-SP nas paredes,
fachada, berimbaus do grande e renomado Mestre Topete, amplia sua arte com
pinturas em camisetas, telhas de barro e telas. Tem toda sua Arte voltada para
a cultura afro brasileira usando como inspirações: o Jongo, a Umbigada, a
Umbanda e o Candomblé.



Trabalho lindo! Parabéns pela arte e sensibilidade.
ResponderExcluirObrigada pela leitura!
ExcluirSou fã dessa mulher sua arte é perfeita, seus poemas toca na alma
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa se q é só o começo
👏👏👏👏
Gratidão!
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