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MulherArte Resenhas 17 | "O Olho Esquerdo da Lua" de Jade Luísa - Por Antônio Torres

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  O OLHO ESQUERDO DA LUA (EDITORA PENALUX, 2021) DE JADE LUÍSA - Por Antônio Torres Nos tempos que atravessamos, ler “O olho esquerdo da Lua, de Jade Luísa, é pressentir a respiração indômita e libertadora de Lilith, tida como a mulher primeira; é vislumbrar a autonomia, sensualidade e prazeres no reino de Safo, em Lesbos; é perceber o esplendor erótico na arte de Maria Tereza Horta e de Lourença Lou; é sentir a multiplicidade de mulheres, lutas e caminhos que habitam e formam uma mulher, ao ler Mar Becker; é trilhar uma vereda original entre tudo que já foi dito e o que ainda não se nomeia e se oculta na encastelada hipocrisia. Já tivemos, nos primórdios, sociedades matriarcais, e a lua foi a primeira divindade do que passou a chamar-se humano. “O olho esquerdo da Lua” chega com essa aura de mistério e luz reveladora : de delicadezas, como em Gema (tornar-se pétala), Maré VII (asa no murmúrio das ondas) ou El comienzo del sueño (cata-vento enluarado); : de afirmação e autodescoberta

Um conto de Cristiane Macedo | "Quando você volta?"

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  Imagem de Steward Masweneng por Pixabay. Um conto de Cristiane Macedo Quando você volta? Dos vinte e dois filhos nascidos de dona Maria Diolinda, quatorze vingaram. O mais novo era o Doca. Não sei dizer seu nome de batismo, cresceu e viveu Doca e aqui será. Doca era um rapaz lindo, mesmo já depois dos quarenta ainda era lindo, embora esse relato seja de um tempo bem antes. Para dona Maria Diolinda, Doca era o bebê, por toda sua vida foi assim. Tinha regalias que os outros não tinham. O preferido. De família abastada, Doca gostava dos luxos que podia ter e tinha. Em plenos anos 1950 vivia em ternos e chapéus muito bem alinhados. Difícil achar rapaz mais charmoso. O pai era dono de botica e foi assim que, desde bem jovem, começou a namorar Maria Quitéria. Sendo rapaz de beleza superlativa, não poderia ter decidido por melhor parceria. Pois que Maria Quitéria era a moça mais bonita daquela cidade do interior paulista. Namoraram muitos anos, até que o pai da moça exigiu um compromisso ma

Quatro poemas de Ana Dos Santos | "Retorno ao Atlântico Negro"

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  Imagem de Harubaba por Pixabay. Quatro poemas de Ana Dos Santos RETORNO AO ATLÂNTICO NEGRO   Quero escrever uma carta para colocar numa garrafa e lançar ao mar. O mar do Atlântico negro... o mar que na sua ressaca traz à beira da praia os corpos dos imigrantes, refugiados, expatriados, que junto de suas crianças correram em busca de uma vida melhor e encontraram a morte... Ah, esqueci! Esqueci que essa era uma carta de amor para a humanidade. Mas quem pode exigir amor, quando tem criança morrendo de fome, ou em meio a uma guerra? Como posso falar em amor, quando famílias inteiras morrem afogadas nesse mar de sangue, numa diáspora forçada, que refaz a rota do descobrimento numa rota de desespero e de cobrança de tudo que nos arrancaram, terra, língua, saberes, cultura, espiritualidade. Como é necessária a reeducação do homem branco! Esse homem que vive de privilégios, desde sempre, montado nas costas dos negros e brincando de cavalinho com as

MulherArte Resenhas 16 | "Chão Batido", de Juçara Naccioli: vozes monumentais de ontem e de hoje - Por Marli Walker

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  Chão Batido , de Juçara Naccioli: vozes monumentais de ontem e de hoje - Por Marli Walker Chão Batido , de Juçara Naccioli, chega pela editora Cálida - SP, neste 2021, trazendo a linguagem de uma voz lírica ancestral (seria a avó?), atualizada por outra voz (seria a neta?), conduzindo o leitor por entre cantigas, alecrins, lavandas, rosários, orvalhos, rezas e patuás. Ao leitor desavisado, o estranhamento poderá ocorrer logo ao iniciar a leitura dos poemas, que vêm revestidos de “pretuguês”, grafados em linguagem que revela a diversidade cultural desde o chão até o teto, passando pelo quintal onde se colhem as ervas para proceder às rezas e benzeções. A poeta advertiu-me, quando lançou o livro, para que lesse os poemas seguindo a sequência, caso quisesse vivenciar uma experiência de leitura mais intensa. Foi o que fiz, que não sou boba nem nada. Quero sempre a experiência o mais potente possível quando o assunto é poesia, linguagem, literatura. A atmosfera densa vai se tornando, ao

Seis poemas de Laila Zanov | "Sonhos loucos de uma mulher sã"

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  Imagem de Sarah Richter por Pixabay. Seis poemas de Laila Zanov Estup*ada   Em seu saco azul, antes de dormir, ela recordou sua infância: a ausência necessária da mãe, Agora, mais uma vez, uma mão adulta entre suas pernas, um pênis duro cheirando a mijo em sua boca, Movimentos curtos, para trás e para frente, mais e mais rápido. "Toma, sua p*tinha! Toma o leitinho do Titio!". Nunca fora um pesadelo, nunca fora um alento. Ela treme compulsivamente. "isso! Treme, sua cad*la miserável!". Ajoelhado diante de si, o desconhecido geme enquanto se masturba em seus lábios e massageia sua vagina ferida. Ela cerra os olhos imediatamente. Dói, dói muito. Sangue e pus escorrem em sua virilha. São os vestígios de suas mortes: - Toma, sua put*na! Mata tua fome, vagabunda! Tá gozando é, vadia desgraçada? Mais uma vez: dor, desespero, lágrima, saliva e   po**a. *   E-mail   Se você me odeia, faço-o aos berros. Nada de silêncios! Enfrente-me! Não se esconda! Perturbe a natureza, Pe

MulherArte Resenhas 15 | Entrega-se poesia em Domicílio - Por Marli Walker

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  Entrega-se poesia em Domicílio  - Por Marli Walker            Marta Helena Cocco nos entrega poesia em Domicílio num período em que a pandemia da Covid 19 começa a perder força diante da vacina. Embora os poemas tenham sido escritos em 2017, alguns poucos receberam os últimos retoques em meio a reclusão forçada que vivenciamos. É interessante pensar no surgimento da proposta temática há dois ou três anos, pois quando li o arquivo em primeira mão, já estávamos todos trancafiados em casa, obrigados a conviver com espaços até então pouco reparados, sentidos ou até mesmo evitados. No entanto, ficamos sem saída, acuados em domicílio, literalmente. Esse fato interferiu na leitura e fez pensar na proporção com que Bachelard se dedicou em suas observações sobre a simbologia do espaço, essa poética tão íntima de cada ser. Por óbvio que o Domicílio de Marta é metáfora da ambiência psíquica, dos nossos recantos, quartos, salas e cômodos da bagunça. Entramos, pois, com o cuidado que a visita e é