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MulherArte Resenhas 12 | Prefácio ao livro "Chão Batido" de Juçara Naccioli - Por Cristiane Sobral

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  Prefácio ao livro Chão Batido de Juçara Naccioli  - Por Cristiane Sobral Caro leitor, escrever não é labuta fácil. O poema tem identidade, nasce, mas ainda não está pronto, percorre o caminho único da criação. Publicar no Brasil também é estrada íngreme. O convite para escrever um prefácio é algo que assombra um pouco. Sempre novo e único falar sobre autores e o processo de tornar-se poesia. Palavrear não é ato isento, as palavras curam, ferem, transformam. Desacredito em coincidências no encontro entre a autora e a prefaciadora, quiçá parteira a anunciar o corpo livro. Esse encontro é marcado considerando a intuição e a força do inconsciente coletivo. Sempre destacarei a emoção e a razão como elementos indispensáveis para a construção de um poemário singular. Chão Batido me fez tremer as pernas pela oportunidade de revelar a alta literatura e suas especificidades. Esse livro nasce como um marco, presente referencial para o universo das letras. O poema é flecha certeira, não é

Para não dizer que não falei dos cravos | Vai passar o estandarte de "Bendita sois vós" de Clark Mangabeira

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Coluna 23   Vai passar o estandarte de  Bendita sois vós de Clark Mangabeira* - Por Divanize Carbonieri  Em Bendita sois vós , Clark Mangabeira examina o cotidiano por meio de uma série de lentes. Instantes aparentemente corriqueiros, como um mergulho no mar ou uma aula de Direito Civil na universidade, são aumentados para mostrar como a ficção e a boa literatura também podem ser encontradas neles. Outros momentos surgem meio que borrados, e aquilo que a princípio parecia ser uma coisa logo se revela outra. Não se trata simplesmente de uma “reviravolta ao final”, expediente que o narrador do conto que faz parte do epílogo, “Ave Maria”, diz apreciar, mas que foi criticada como um clichê por sua revisora. Por influência ou não dessas críticas (mais provável que não), o fato é que o final com reviravolta, presente em grande parte do livro, se parece mais com um ajuste de foco, com o avançar e afastar do zoom, com tornar mais ou menos nítida toda uma situação. Esse procedimento estético

Divina Leitura | Luz própria e ramas floridas em "Toda-Mulher-Vaga-Lume"

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  Coluna 18 Luz própria e ramas floridas em Toda-Mulher-Vaga-Lume Toda-Mulher-Vaga-Lume reúne poemas, micronarrativas e desenhos produzidos pelas autoras que integram o Coletivo As Contistas. É um título intrigante, composto por uma espécie de neologismo, uma palavra formada da aglutinação de várias outras. Qual a relação entre escritoras e vaga-lumes? A nota introdutória se refere a esses insetos como seres capazes de emitir luz própria, sendo que o “tecido que emite a luz é ligado na traqueia e no cérebro”. A localização da bioluminescência nesses órgãos do animal parece servir de analogia para a expressão verbal das poetas, que combinam sons/significantes e conceitos/significados na realização do fenômeno literário. Contudo, a palavra que inicia o nome criado surge talvez para alargar ainda mais a prerrogativa da criação da luz própria: abrangeria ela a condição de toda mulher que existe e resiste em um mundo que ainda insiste em submetê-la. Ter direito ao autocontrole, à autodet

MulherArte Resenhas 11 | "Virgínia" de Stéfanie Sande: estratégias de desarmamento - por Eduardo Mahon

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VIRGÍNIA DE STÉFANIE SANDE: ESTRATÉGIAS DE DESARMAMENTO  - Por Eduardo Mahon Vamos falar um pouco mais sobre o romance Virgínia , de Stéfanie Sande. Deixo assinalado que o livro pode ser uma grande descoberta, sobretudo no público mais jovem. O amor entre duas garotas é tratado sem a costumeira bandeira levantada, sem o rancor típico das resistências entrincheiradas. Considerando a leveza oriunda da naturalidade da relação, o enredo não sublinha aspectos traumáticos. Sim, é possível tratar do lesbianismo (e outras tantas emergentes pautas sociais) sem o recorte do conflito e do sofrimento. Nem por isso a obra será menos profunda. Em termos de narrativa, fiquei muito satisfeito ao ver a mudança de marcha no segundo terço da narrativa. A troca de vozes aponta para o amadurecimento da escritora. Não é fácil e não é comum ver essa alteridade realizada com sucesso. Em geral, quando não há planejamento, o livro fica sem pé nem cabeça. Virgínia nos oferece a dupla perspectiva, sem perder a l

Resenha 'afetiva' do livro SOBRE AQUILO QUE NÃO CESSA, de SOLANGE PADILHA

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  (capa do livro 'Sobre aquilo que não cessa') A POESIA QUE NÃO CESSARÁ (por Nic Cardeal)  Em  SOBRE AQUILO QUE NÃO CESSA , livro publicado pela Editora Patuá (São Paulo, 2020),  SOLANGE PADILHA  esmiúça o verbo poético como quem conhece além do fundo a existência humana e seus meandros emocionais e sentimentais, diante da realidade social e política - ainda que nua e crua -, da história, da cultura e da arte. Não a toa que na orelha o 'brinco' é de Maria Valéria Rezende, que assim a apresenta: "Este não é um livro a ser folheado e lido ao acaso, um poema aqui, outro ali. É uma viagem sem volta, creio, para a qual é preciso encher-se de ousadia, como a poeta que os escreveu. Há que se deixar envolver desde a primeira página no redemunho, redemoinho, remoinho, tornado, ciclone em que não se pode mais desenlear palavras, nem eu, nem tu, os outros, animal-vegetal-mineral, o mundo aqui e além, até o alto de onde, então, pode-se ver com nitidez o que se estende neste no

Resenha 'afetiva' do livro O VOO DA GUARÁ VERMELHA, de Maria Valéria Rezende

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(capa do livro 'o voo da guará vermelha') O AMOR FEZ NINHO NAS ASAS DA GUARÁ VERMELHA (por Nic Cardeal) "(...) que o amor não é assim, o amor é como menino que não sabe fazer contas nem de perda nem de ganho, vive desacautelado, não tem lei, não tem juízo, não se explica nem se entende, é charada e susto, mistério (...)"  (Maria Valéria Rezende, 'o voo da guará vermelha', pág. 60) Em O VOO DA GUARÁ VERMELHA (Rio de Janeiro: Alfaguara/Objetiva, 2014, 2ª ed.), Maria Valéria Rezende conta a história de um sentimento genuíno, marcado pela dor e desesperança, resistência e fragilidade, na miséria revelada por seus protagonistas, dois anônimos perdidos no meio da multidão da cidade grande, que se descobrem pertencentes ao mesmo [e verdadeiro] sentido do amor, da recuperação e da possibilidade – ainda que efêmera e tênue – da felicidade. Os dois se cruzam por um 'suposto' acaso, que salva e transforma profundamente suas vidas:  Rosálio – um homem do sertão,

MulherArte Resenhas 10 | Da fluidez do haicai à densidade da palavra: as audácias de uma poeta que versa o imprevisível - Por Juçara Naccioli

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  Da fluidez do haicai à densidade da palavra:  as audácias de uma poeta que versa o imprevisível - Por Juçara Naccioli Divanize Carbonieri é uma fonte efervescente e inesgotável de poesia , que transborda a partir de temas diversos, linguage m inusitada e uma constância no exercício da sua produção literária. Como resultado dessa ebulição, a poeta passa por um processo de maturação rápido, independente e absoluto como escritora. A cada obra que se dedica a escrever, seus leitores são surpreendidos e, neste lançamento, não seria diferente. Agora o trânsito poético é experienciado por meio do gênero haicai, que tem como característica evidenciar o sentimento bucólico de perceber a relação natur eza e ser humano pelo olhar da poesia. Com isso, Carbonieri deixa fluir toda a admiração que tem por cavalos na brevidade dessa forma que consiste em três versos. Nesse novo trabalho, Divanize se mostra uma intrépida haicaista, que se aventura em composições que entretêm a o mesmo tempo