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Três crônicas de Jozieli Cardenal | Do livro "Árvores solitárias que encontramos pelo caminho"

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  imagem de ISIMSIZ por Pinterest Três crônicas de Jozieli Cardenal   Do livro  Árvores solitárias que encontramos pelo caminho ENTRE ESTAR E PERMANECER Na cozinha, acomodada na cadeira que precisa de conserto, o segundo momento mais alegre do dia: anoitecer, com a cabeça vazia de trabalho, banho tomado, minha única preocupação é comer um pedaço de bolo de cenoura e tomar o meu chá. Já faz um tempo que peguei o costume de ligar o rádio enquanto me concentro em não cometer nenhum ato de gula extrema. Hoje, ouvi ao acaso uma daquelas mensagens de motivação que antecedem a Voz do Brasil. Um homem imitando Cid Moreira leu um trecho bíblico do livro de Mateus. O texto afirma que basta uma fé do tamanho de um grão de mostarda para alcançar o impossível. Bonito. Indiferente de crer ou não, de ser cristão ou não, é inegável a beleza das histórias narradas na Bíblia. Nesse caso, um lembrete sorrateiro de que não há nada mais triste do que a desesperança. Mas evitá-la

UM TRECHO DE PREMIADO ROMANCE DE ROSÂNGELA VIEIRA ROCHA | VÉSPERA DE LUA | Projeto 8M

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fotografia do arquivo pessoal da autora 8M Mulheres não apenas em março.  Mulheres em janeiro, fevereiro, maio. Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios. Mulheres quem somos, quem queremos. Mulheres que adoramos. Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato. Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas. Mulheres de verdade, identidade, realidade. Dias mulheres virão,  mulheres verão, pra crer, pra valer! (Nic Cardeal)   Hoje é dia de homenagear a grande romancista Rosângela Vieira Rocha, com o primeiro capítulo de seu livro Véspera de Lua :  I Se pudesse destruir todas as pontes e dizer ah, estou aqui, eu vim, vim para o amor, todas essas frases cinematográficas e baratas, ou não tão baratas, as frases que selecionava de seus poetas prediletos e que escrevia nas primeiras páginas dos livros, nos cadernos, há anos, muitos. Pudesse dizer isso sem culpas e agir solta, um bicho. Entregar-se uma única vez a um grande impulso e esquecer a idade que tem, os anos, tantos, que peso, e quer a le

Prosa Poética | Sinônimo de Resistência, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 13| Eu escrevo como quem ama: mergulho de corpo e alma nas entranhas da poesia. O amor diz muito sobre o ofício de uma poeta, pois não é por dinheiro que produzo a minha arte, mas sim pelo que sinto quando versejo com o coração. Beirando o meu sexto livro, escrevo com mais afinco. A vida parece enfim ter sentido, e isso significa tudo para mim. Ser mulher é um ato de coragem. Ser uma mulher que produz literatura às vistas de uma iminente ditadura, é uma proeza que por si só faz implodir a medonha estrutura da sociedade machista, golpista e tirana. Eu sei que divago demais, mas ser poeta é isso mesmo: é traduzir tudo que me fere a alma o tempo inteiro. Não sei viver se o sentido preestabelecido for ser feliz num padrão contido pelos vãos que ecoam nos lares do mundo infindo. Mulheres não se calam quando têm razão e sonhos. Os opressores podem até espernear, mas se a própria ciência aponta que somos a maioria, não há sentido algum em negar a soberania da nossa existência. Escreve

Pés Descalços 07 | Achadas e Perdidas

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Achadas e Perdidas Certa vez ouvi uma pessoa dizendo que as mulheres que moram em uma comunidade, na zona rural, perto do sítio onde minha mãe cresceu eram conhecidas como “Mariadizéfa, Mariadipedro, Mariadijão, Mariaditonho...” Interrompi a conversa, perguntei por que tantas mulheres da redondeza tinham nome que começava com Maria e a pessoa respondeu: “Maria era o nome dado às mulheres daquele lugar, mas acrescentava-se os nomes dos maridos no final, para que todos soubessem de quem elas eram, ou de onde vinham.” Lembro de um caso de uma vizinha, órfã de mãe, desde adolescente que cuidava da família. Limpava a casa, lavava, passava, cozinhava e cuidava dos irmãos mais novos, até do mais velho, além do pai, viúvo. Família que teve de lidar com os preconceitos que os seguiam desde quando a falecida contraiu tuberculose. A caçula era uns cinco anos mais nova que eu. Éramos aconselhadas a não beber água no mesmo copo, não ter contato físico, evitar que falassem perto de nós. Quando em

Cinco poemas de Renata Dalmora | Do livro "O Canto Sedutor dos Mortos e Outras Ressurreições"

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    Ilustração de i.pinimg.com por Pinterest  Cinco poemas de Renata Dalmora  Do livro O Canto Sedutor dos Mortos e Outras Ressurreições   SER MULHER E SEGUIR ADIANTE Te trarei o que te falta E depois, Criará suas ilusões, Fundadas na imagem de mulher Que o mundo te incutiu desde sempre. Verá poesia e confundirá com mistério O mistério que te alimenta os enganos. E depois de se confrontar Com você mesmo, (Inconscientemente, como fazem os homens) Me achará inadequada e louca E eu darei graças aos Deuses e Deusas Por ser mulher e seguir adiante. * Imagem de fennaelena.tumblr.com por Pinterest   CONSTRUO UMA CASA COM FRAGMENTOS DE MIM  Uma janela e um cão Que me conhecem, Parece, Mesmo antes que eu me conheça. Têm, agora, As luzes e o calor voltados para mim Antes mesmo que eu conheça a a luz e o calor. Alguma coisa Muito frágil e muito bonita Envolve essa janela e esse cão Algo, que só se pode tocar Estando também vulnerável. Quase sinto outra vez O que é simplesmente estar Para o que qu

Cinco poemas de Flavia Ferrari | Do livro "Meio-Fio: Poemas de Passagem"

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Ilustração de Daniel Bilmes por Pinterest   Cinco poemas de Flavia Ferrari Do livro Meio-Fio: Poemas de Passagem ANUNCIAÇÃO   Não é possível olhar o alto Se o ar ao redor está todo preenchido O espaço pode ser este lugar sufocante Nomeado Mas não reconhecido Não é fácil perceber o gosto Se o que nos cabe é um pedaço ressequido Sem a presença de um todo Que nos faça acreditar Não é prudente adormecer no caminho Precisamos chegar e registrar o nome Para que haja uma verdade momentânea Da partida Do motivo Da carne viva Não é comum os sons perderem a validade Música esta que canta este tempo Em que à memória parece ruído Não é errado esconder-se Da figura insana Do momento não aguardado Da convocação que não admite recusa Mas não é prudente ausentarmo-nos Todos os nossos sentidos são necessários Mesmo que não haja espaço Nem esperança Nenhum movimento Mesmo sem a tua companhia Com a qual era fácil conseguir encontrar * Imagem de Zid: 0 por Pinterest   FRESTAS ​ Há frestas por on

A POESIA, A PROSA E A PINTURA DE VIOLANTE SARAMAGO MATOS |Projeto 8M

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  (fotografia do arquivo pessoal da autora) 8M Mulheres não apenas em março.  Mulheres em janeiro, fevereiro, maio. Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios. Mulheres quem somos, quem queremos. Mulheres que adoramos. Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato. Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas. Mulheres de verdade, identidade, realidade. Dias mulheres virão,  mulheres verão, pra crer, pra valer! (Nic Cardeal) Hoje é dia de mergulhar na arte múltipla e fascinante - na poesia, na prosa e nas aquarelas - de  VIOLANTE SARAMAGO MATOS : (capa do livro Escritas da pandemia com caneta e pincel )  1) AS MINHAS CIDADES As minhas cidades são ruas quase desertas onde os carros são brinquedos de criança  sem crianças para brincar. As minhas cidades são quadrículas de espaços  tristes, estranhas, quase opressivas sem namorados a namorar. As minhas cidades são prédios que fecham gentes tensas, ansiosas, preocupadas onde a alegria custa a entrar. As minhas cidades estão silenciosas mas mo