De Prosa & Arte | CartografArte - Um flerte com a Geografia de Milton Santos

 


Coluna 29


CartografArte - - Um flerte com a Geografia de Milton Santos

Imagem de piviso por Pixabay


Dias desses, em resenha virtual com estudantes do Cursinho e alguns amigos professores, fizemos uma conversa sobre a perspectiva Geográfica de Milton Santos, dissecando um texto intitulado Elogio da lentidão. Enquanto ouvíamos Geógrafos, Físicos e Sociólogos me ocorreu uma reflexão poética que vem a seguir:

Territórios, espaço habitat e o trânsito dos tambores


Uma imensa metrópole 

estendida nos membros

que me sustentam

No íntimo um ambiente rural

Cheirando a capim molhado

Capim limão na chaleira.


Quais são os limites

Que me imponho 

Enquanto pessoa urbana? 

Quais são os sonhos 

Que nutrem natureza viva 

Do meu chão de terra interno?


Espaço é o que me circunda fora

E a expansão que me toma dentro

Que preencho de saberes empíricos 

Ou ideário acadêmico.

Que circunda margens

alagadas de sonhos poluídos


Tempo é um elo dimensional

Que o urbano não domina na essência.

Se criado a serviço do capital,

escasseia criatividade,

sobrepõe a ela velocidade e produção. 

Vira máquina. 

Número anti-horário e atrasado.


Tecnologia pertence ao todo,

é algo que usurparam em favor do lucro,

não dominamos a contento

na sociedade desigual.

Não na lógica do vil metal.

Pois, não o temos equacionado.

O fazemos na lógica ancestral

Na lógica do escambo,

na Firmeza Permanente¹

na Sevirologia


Era o bombril na antena

O celofane na TV preto e branca.

O pneu que tranca a rua em protesto

É pedra e pau que constrói 

Mas que também nos defende

Erguendo trincheiras de proteção.


A nossa ancestralidade,

é avessa à globalização.

É o coração binário

tocando pra Nhanderu

É o tambor… ecoando nos trilhos

fazendo chamamento à pulsação.


Lema da Luta Queixada

*² Filosofia de José Queirós - Mestre Soró


Imagem de Paul Brennan por Pixabay

Este pequeno insight poético me ocorreu estimulada pela passagem descrita no texto: "A velocidade não apenas se define a partir do tempo utilizado para superar as distâncias. A questão é a de encontrar, para a palavra velocidade, equivalentes na prática social e política. Acreditamos que a noção de cidadania se possa prestar à discussão aqui proposta, desde que a consideremos em sua tríplice significação: cidadania social, econômica e política. (...) aquilo a que chamamos de "informalidade da economia" melhor cumprirá suas funções econômica, social e política sem a necessidade de formalizações alienantes e fortalecendo o papel da cultura localmente constituída como um cimento social indispensável a que cada comunidade imponha sua própria identidade e faça valer, a um ritmo próprio, o seu sentido mais profundo. Será um mundo no qual os que desejarem ter pressa poderão fazê-lo livremente e no qual os que não são apressados serão fortalecidos, de modo a poder pensar na reconstrução da paz mundial e na luta por uma convivência social digna e humana dentro de cada país."

Vejo meus parceiros de luta ovacionando sua trajetória, com razão em absoluto. Sinto não ter conhecido seus escritos antes. Daí refletindo sobre o que o mestre Milton Santos dizia: "sou um intelectual outsider" , porque de acordo com ele não pertencia a nenhum grupo de intelectuais, a nenhum partido, organização religiosa, ou militância de qualquer ordem. Ainda assim, seu pensamento converge com o coletivo, suas reflexões vêm do trato de compreendermos as territorialidades, e as construções das identidades de cada comunidade, seus tempos e espaços. De vez em quando, me pego refletindo sobre bandeiras que levanto em detrimento de outras. E o quanto as militâncias são feitas de ambiguidades, pois como é a práxis são diversas. Penso em ser "outsider" também... Daí volto atrás, reergo as trincheiras. Me falta muito feijão...

Em 3 de maio, o mestre faria 95 anos. Vim aqui rapidinho louvar sua memória.

Feliz aniversário, Milton!

                             


https://www.uol.com.br/ecoa/amp-stories/milton-santos/index.htm

Milton Santos é geógrafo, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, autor, entre outros livros, de "Por uma Outra Globalização" (Record).





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