Mãe, por que flores? - Chris Herrmann



Crônicas que as lembranças me embrulham de presente - 09

Mãe, por que flores?
por Chris Herrmann

Minha mãe adorava flores. De todos os tipos, cores e formas. Queria a nossa casa sempre muito florida e perfumada. Gostava de tecidos de cama, mesa e banho, bem como certos acessórios e objetos decorativos, com motivos igualmente florais. Como artista plástica que era, também não faltaram flores em muitos de seus quadros. Era quase uma mania, embora naquela época eu não me desse tanto conta disso.

Toda quarta era dia de feira bem perto de onde morávamos. Ela podia esquecer de comprar qualquer coisa, mas nunca as flores. A maioria ia para o jarro grande que ficava na mesa da sala. Outras para vasos menores. E sempre um botão de rosa solitária e belíssima para a jarrinha estreita. Essa ia geralmente para a mesinha onde ficava o telefone.

Eu gostava de observá-la mexendo com as flores e de ajudar, embora ela preferisse fazer esse trabalho prazeroso sozinha. Costumava cantar enquanto tirava o excesso de folhas nas partes mais baixas dos caules e cortava estes diagonalmente nas bases. Aprendi nomes de muitas flores com ela. Aprendi que é preciso trocar a água com frequência. E também a colocar comprimidos para dor de cabeça na água para as rosas durarem mais.

foto: arquivo pessoal | com minha mãe, Airam, em 1992

Só havia uma coisa que quebrava essa magia, essa energia colorida que minha mãe tinha com a chegada das flores: é que elas murchavam, por mais que esse momento fosse adiado. Isso a entristecia. Mas por pouco tempo, porque ela não via a hora de renovar a centelha de primavera dentro da nossa casa, por mais outonos e invernos que a própria vida nos oferecesse. Sem perceber, eu estava recebendo lições importantes sobre ciclos da vida e como buscar forças em mim mesma quando nada mais parece ser possível. Mas como eu “comi merenda” naquelas lições, fui compreender melhor mais à frente, de formas menos poéticas e depois de muitos outros cursos. Do rio e da vida. 

Hoje vejo flores e todas elas me lembram aquela que me ensinou até sem querer. Por isso gosto mais da primavera aqui na Alemanha. Tudo fica tão florido... tão minha mãe! É como se a natureza me presenteasse trazendo-a para perto de mim em cada flor do nosso pequeno jardim. Em cada esquina por onde passo. Um presente delicado onde pétalas se abrindo parecem reviver pequenos momentos, antes desapercebidos quanto à sua importância.

Confesso que hoje também me entristeço quando vejo flores murchando. Não pelo mesmo motivo da minha mãe, mas porque isso me faz lembrar dela pouco antes de deixar esse mundo. Como ela pôde? Custei a aceitar que ela não era eterna. Ela era, na verdade, como todas as flores que tanto amava. Deixou tanta vida, tonalidades, folhas, perfumes, espinhos, alegrias, porém tristeza na partida. Só não me entristeço mais com os espinhos. Estes foram esquecidos e sua partida perdoada.

Sinto hoje que eterno mesmo é o amor, esse gigante frágil que revela força por extensão da sua graça, bondade e simplicidade. Amor dá sementes e lembranças boas que renovam nossas energias. Incluindo as centelhas! As que nos fazem brotar como flores em início de primavera, em qualquer lugar do tempo. 

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