As implicâncias doces da minha mãe - por Chris Herrmann




Crônicas que as lembranças me embrulham de presente - 10

As implicâncias doces da minha mãe
por Chris Herrmann

Minha mãe tinha um humor variável, mas até quando era mau me fazia rir. Ela detestava que eu andasse de roupas pretas (porque eu sempre gostei). Ela nunca teve preconceito de raça, mas de cor preta de roupa! Quando eu ainda vivia no Brasil e era solteira, era uma guerra: „você parece uma viúva! Nem se casou e já quer matar o marido??“ E eu, não dava ouvidos, só ria e continuava a vestir roupas pretas. Nas vezes que ela veio me visitar na Alemanha (foram quatro), a primeira coisa que ela fazia era abrir a porta do meu guarda-roupa e dizer: „você não mudou nada. Que decepção!“




A última vez que ela esteve aqui foi em 2002, para o batizado do meu filho. Fui buscá-la toda feliz no aeroporto e antes de eu abraçá-la, ela disse: „eu só vim pra impedir você de ir ao batizado do meu neto de preto, porque batizado não é enterro!“ Depois me abraçou e rimos muito. Desde quando ela morreu em 2014 no Brasil, fico me lembrando dessas e outras coisas engraçadas que ela dizia quando chegava aqui na Alemanha, como por exemplo: „minha filha, como você consegue falar essa língua difícil? Que horror, vocês nem parecem que estão conversando. Isso é briga!! Melhor você arrumar um copo d‘água e colocar a língua de molho todo dia antes de dormir pra descansá-la!!“

Em sua homenagem, querida mãezinha, comecei a usar roupas de outras cores também. E de todas as cores, a da saudade é a que mais me veste por dentro. 


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