Alma&Luz - A poesia de Ana Cleusa Bardini - seis poemas


Tanya Shtseva

Dor aguda


Profundamente
Num grito ferido
Teu olhar trincou

Meu olhar de vidro

###

Dor servil
na pele tua

eu vejo a cor
da tua alma nua
nos teus olhos
a dor
à flor da pele
tua
a tua derme
na minha
fincou
a ancestralidade
do teu cerne
o teu sangue
forrando o solo
foi o grito
no colo da
realidade crua...

Monika Luniak

Teus excessos
vertem desafetos
arranham meus
neurônios inquietos

###

Olho estrelas
Derrubo café
Vou ao chão
Me ajoelho
Junto cacos
Esvazio espaços
Faxino coração


Gabriel Moreno

MARCAS
Na mente
aflora a árvore
da consciência
com seus galhos
seus frutos
e
sementes
No pescoço,
uma corrente
presa à matéria
em decomposição
Nos ombros
a arcada da existência
Nos braços
o símbolo da dimensão
Os seios jorram
mistérios
e
desejos
O umbigo
faz a divisão.
Os pés prendem
raízes à terra,
que fincam
afincam
e alastram
marcas e fragmentos
de mais uma geração


Gabriel Moreno

VÔMITO SECULAR

Na calada da noite,

No sono do meio dia,
Na morte de todo dia,
A engrenagem se faz
Na desengrenagem
Da humanidade convalescente
Desperta da ignorância com pressa
E sente o viés dos gemidos,
Nos seios chupados, corroídos,
Na pele mole
da prole,
Na cara velha,
Marcada de ferro,
de fogo,
E descala a confusa letargia
Gritando
Num berro doente
A caótica blasfêmia
De SER e NÃO SER,
De querer e descrer.
Descala do silêncio agonizante desse dia
E desperta do lacre
E vomita o massacre tirano dos séculos

***


Ana Cleusa Bardini descobriu a poesia entre seus 19 e 27 anos, em meados dos anos setenta e oitenta, época em que publicou alguns poemas avulsos em coletâneas de concursos literários, como "Sinos de Orleans“ e “1° Concurso Literário de Matão“, sempre com o codinome "Zíngara" . Tem poemas em publicações coletivas da Revista Ser Mulher Arte e coletivo Pixel Ladies. Grande parte de seus poemas foram escritos em guardanapos de papel e ficavam abandonados nas mesas dos locais onde frequentava. Outros tantos, amarelados numa gaveta. Escreveu alguns poemas em 1992, quando conheceu a Casa de Cultura Mário Quintana em Porto Alegre. A veia poética recomeçou a pulsar, mas somente em 2018 arriscou-se aos "novos primeiros passos". Hoje tem adotado AnnaZzuL como pseudônimo e utilizado seu perfil em uma rede social para publicar seus poemas.

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