UniVerso de mulheres 07 - Um poema de Paula Gunn Allen, traduzido por Valeska Brinkmann

|  coluna 07  |


Um poema de Paula Gunn Allen, traduzido por Valeska Brinkmann

Foto: Black Mesa Afternoon, by Harold Hall

                    


Recuerdo
Subi no silêncio para respirar ar puro
e sobre mim avistei os picos erguendo-se como deuses.
Eles moram lá, dizem os anciãos.
Quando criança, eu os ouvia falar
quando subíamos a montanha para fazer piquenique
ou apanhar madeira. Tremendo no ar frio
eu espreitava e ouvia.

Agora escrevo
tentando combinar som e memória,
rastrear essa mensagem, a voz
que outrora ouvia e quase tinha me esquecido.
Era ali entre os picos mais elevados.
Havia uma voz no vento - algo que
me aterrorizava e me fazia chorar
Queria me agarrar à minha mãe
ser confortada por ela,
que ela me explicasse essa voz e meu medo,
mas fiquei sentada
congelando, tentando me sentir tão quente
como uma fogueira,
Os da minha família costumavam dar esse conselho.

Agora escalo as Mesas* nos meus sonhos.
Os deuses da montanha estão calados e eu os procuro.
Brinco com frutas peyotte e conto
os talos da sálvia doce,
que um amigo me presenteou,
obcecada com uma memória
que não quer transcorrer.
Misturo mel selvagem
no chá de cedro cuidadosamente preparado
e espero que a clareza prolifere em mim,
me saúde e me conforte.

Talvez dessa vez eu não fuja.
Talvez desta vez eu pergunte
o que essa voz quer me dizer.
Talvez eu descubra o lugar secreto
onde o terror e o conforto se deparam.

Amanhã voltarei lá e subirei
para as intermináveis ​​Mesas de minha terra natal.
Procurarei os cardos que secam ao vento.
Lascas brilhantes de obsidiana enfiarei nos bolsos
e cacos deixados pelos oleiros,
que 
lá viveram antes de mim.

* Mesas: tipo de montanha com um topo plano e aos lados com penhascos íngremes. Seu nome deriva da forma distinta, semelhante a uma mesa. É um caso de relevo tabular, característico de ambientes áridos, particularmente no sudoeste dos Estados Unidos.

Recuerdo

Ich stieg in die Stille hinauf, um die klare Luft zu atmen
und sah die Gipfel über mir aufragen wie Götter.
Dort wohnen sie, sagen die alten Leute.
Als Kind hörte ich sie reden,
wenn wir auf den Berg gingen, um zu picknicken
oder Holz zu sammeln. Zitternd in der kalten Luft
lauschte ich und hörte.

Neuerdings schreibe ich,
versuche klang und Erinnerung zu verbinden,
spüre jener Botschaft nach,
die ich einst hörte und dann fast vergaß.
Es war inmitten der hohen Föhren, es sprach.
Im Wind war eine Stimme- etwas darin
versetzte mich in Schrecken und machte mich weinen
Ich wollte mich an meine Mutter klammern
um mich von ihr trösten lassen,
sie sollte mir die Stimme und mein Angst erklären,
aber ich blieb sitzen,
frierend, versuchte ich mich so warm zu fühlen
wie das Lagerfeuer,
die Stimmen meiner Familie gaben mir diesen Rat.

Nun ersteige ich die Mesas in meinen Träumen.
die Berggötter schweigen, und ich suche noch immer.
Ich spiele mit Peyottefrüchten und zähle
die Stängel des süßen Salbeis,
den ein Freund mir geschenkt hat-
besessen von einer Erinnerung,
die nicht vergehen will.
Ich rühre wilden Honig
in meinen sorgsam bereiteten Zedern Tee
und warte, dass Klarheit in mir aufsteigt,
mich grüßt und mich tröstet.

Vielleicht werde ich diesmal nicht fortlaufen.
Vielleicht werde ich diesmal fragen,
was die Stimme bedeutet.
Vielleicht werde ich den geheimen Ort entdecken,

wo Schrecken und Trost einander begegnen.
Morgen werde ich zurückgehen und hinaufsteigen
in die endlosen Mesas meiner Heimat.
Ich werde Disteln suchen, die im Wind vertrocknen,
glänzende Obsidianstückchen in meine Taschen stecken
und Scherben, zurückgelassen von Töpfern,
die lang vor mir lebten.


Paula Gunn Allen (1939 - 2008) foi uma poeta nativa americana, crítica literária, romancista, ativista e professora. Descendente dos Laguna e dos Sioux, também tinha antepassados escosseses e libaneses, porém sempre se identificou com o povo de sua mãe (Laguna Pueblo) e os anos da infância que passou em Cubero,  New Mexico. Das tradições orais nativas tirou inspiração para sua poesia e também escreveu numerosos ensaios. Editou quatro coleções de histórias tradicionais nativas americanas e obras contemporâneas e escreveu biografias de mulheres nativas americanas.

A poesia de Allen frequentemente explora a situação dos nativos contemporâneos, seus versos são finamente detalhados, ressoando uma sensação de lugar - urbano, reserva ou interior.
Ela cita a escrita de Gertrude Stein e Adrienne Rich como influência.
Como mãe, avó, lésbica e feminista, Paula Gunn Allen foi uma autora essencial para a literatura indígena feminina (não somente) da América do Norte.

Nota da colunista: Esta é uma tradução da versão alemã do poema traduzido por Käthe Recheis e Georg Bydlinski, no livro Auch das Gras hat ein Lied, infelizmente não consegui encontrar a versão original em inglês.


Comentários

PUBLICAÇÕES MAIS VISITADAS DA SEMANA

Mulher Feminista - 16 Poemas Improvisados - Autoras Diversas

200 palavras/2 minicontos - por Lota Moncada

A POESIA FANTÁSTICA DE ROSEANA MURRAY | PROJETO 8M

Nordeste Maravilhoso - Viva as Mulheres Rendeiras!

Cinco poemas de Eva Potiguar | Uma poética de raízes imersas

De vez em quando um conto - Os Casais - por Lia Sena

Preta em Traje Branco | Cordel reconta: Antonieta de Barros de Joyce Dias

Resenha 'afetiva' do livro O VOO DA GUARÁ VERMELHA, de Maria Valéria Rezende

UM TRECHO DO LIVRO "NEM TÃO SOZINHOS ASSIM...", DE ANGELA CARNEIRO | Projeto 8M

Uma resenha de Vanessa Ratton | "Caminho para ver estrelas": leitura necessária para a juventude