Dois poemas e duas crônicas de Patrícia Coolian | O mundo é grande, e é pequeno também

 

Imagem de Pexels por Pixabay.

Dois poemas e duas crônicas de Patrícia Coolian

O mundo é grande, e é pequeno também


03/01


Fez chuva hoje, e fez um sol também.

Fez um por do sol ainda mais lindo.

Fez silêncio dentro de todo barulho.

Cada um escuta aquilo que mais grita.

Quem tem gritado todo dia é o silêncio.

E foi assim que foi possível,

Admirar todas as cores que o céu pintou.

Deus brincou com as cores da sua palheta hoje,

Será que quando Ele pinta assim,

é porquê está feliz, ou por que esta em silêncio também?

Só sei que é lindo e, que é impossível, não sorrir

ao lembrar de todas aquelas cores no céu

do céu

pro seu


*

 

 Domingo, 27 de Agosto, 2017.

 

Acordo tarde, à noite anterior tinha sido de festa. Comemoramos o “nascimento” de uma jovem médica. Festa linda, lindos sorrisos. Tanta gente junta para desejar grandes realizações a esta nova formanda do curso de medicina.

Mas a noite é longa, e o mundo é grande, e é pequeno também...

A festa começou por volta das 20:30, e nossa anfitriã fazia questão de que cada convidado levasse consigo na ocasião um pacote de fraldas geriátricas tamanhos M ou G. Seria uma forma de fazer um envolvimento social de cada participante. E foi prontamente atendida! Lindo de se ver a quantidade arrecadada.

Boas comidas, muita bebida, todos bem servidos toda pompa e circunstância que as formaturas de medicina se reservam a ter. No meio do evento, discurso emocionado dos pais da nossa anfitriã. Muitas palmas! “Hoje a sociedade ganha mais uma médica!” palavras ditas pelos pais.

Mas a noite é longa, e o mundo?!

Ah! Como é grande, e é pequeno também.

Amigos que há tempos não se viam se reencontraram, brindaram juntos, festejaram juntos.

Ao entrar da madrugada uma notícia preocupa, um acidente na cidade envolvendo cinco veículos. Nenhum óbito!

Entretanto o consumo de álcool é uma realidade em eventos como esse, e a direção também. Eis o motivo da preocupação por quem deixa filhos na festa e por quem vê outros que saem da festa.

Duas da manhã. Para mim hora de voltar para casa. Chego em casa sem contratempos, tudo certo vamos dormir.

Mas o mundo é grande, e é pequeno também.

O dia amanheceu. E no celular, mensagens para serem lidas e áudios para serem escutados. Dentre todos elejo os que seriam prioridades. Inicio por um áudio. E dizia assim, com a voz embargada:

“Dra. Aly acabou de se suicidar. Foi 1 tiro na cabeça, na sala. O Dr. Seuo ainda não sabe.”

Nesse momento nada faz sentido. Não coube julgamentos. Não cabem desculpas, tampouco é possível entender. Porquê tudo que se pode em vida conseguir ela teve. Títulos, monções honrosas, status, família, reconhecimento... tudo.

Será que foi o tudo que teve, ou o nada que faltou?

Ontem nasceu uma médica, hoje, uma se matou. E contraditoriamente a isso, foi essa última, quem me tocou pela primeira vez e me ouviu chorar pela primeira vez. Me ajudou a vir pra esse mundo.

É por isso que eu digo, o mundo é tão grande, mas é tão pequeno.


 

Imagem de Bumiputra por Pixabay.


Verde Esperança

 

Ele vestia verde.

Boné era verde,

Camiseta era verde,

Os cadarços no seu tênis esverdeados de sujeira, eram verde fluorescente.

Até a sujeira em sua bermuda à deixava em um tom de verde.

Por sorte, sua alma devia estar se alimentando dessa esperança.

Mas a barba era preta, forte e cheia, mesma cor da sua pele.

Que destoava de todo aquele verde.

Talvez pra lembra-lo da miséria, da fome, do lixo que com aqueles olhos enormes e famintos ele nem selecionava, só comia.

E ainda assim sorria.

Enquanto isso eu via,

Enquanto isso eu trovejava e chovia,

da dor que sentia.


*

  

Uma cena


Duas crianças desfilam, uma maior outra menor. Vestidos soltos, sujos, rasgados iguais aos seus cabelos. Mas os olhos firmes e empoderados.

O homem está gordo, barriga redonda facilmente 8 meses, sentado no chão, sujo comia com as mãos, a sombra esfriava os sentimentos e a grama se fazia de tapete.

O mundo não para, e tudo é barulho, eu não me escuto e as palavras saem sem sentido. As cachorras fogem, tem barulho demais. Tem álcool também. Tem fala demais, gente demais.

O Zé nasceu hoje. Meus pensamentos estão assim, feito um bêbado aliciado, um drogado marginal. Eu bebo minha realidade e queria fumar meus desejos, depois vê-los saindo como vapor de dentro de mim. Vapor barato. Eu ainda escuto o sabiá do jardim. Ele é insistente são quase 3 da tarde, o que não quer dizer nada. Tomei um café. E agora tomo vários tragos. Marafo. Eu encho o copo outra vez. Eu bebo, escuto mantras. Eles preenchem meus ouvidos, tão alto que me dá prazer. Dou risada. Meus olhos não. Bebo outro trago. Tempos insanos, pessoas doentes, vidas morrendo.

Tudo esvaindo, meu hálito é ácido. Eu queimo.

Pausa

_____________________________________

Do meu lado tem um açucareiro indiano, de cristal, mas dentro é só açúcar; demerara. Não adianta tantos adjetivos, é só açúcar, e por mais ou menos que se diga, açúcar mata.

Tudo mata. Outra vez, drogas em nosso cotidiano. Todo mundo é viciado? Ei, qual seu vício HÁ-HÁ (deboche)

Covarde, escreve tudo, você pensou, seja honesto com seu papel. Sujo, lixo, pesado, imundo, hipócrita. Você e sua cena deprimente. Mas um trago.

Queria um cigarro. A fumaça com certeza ia preencher esse espaço, esse vazio, esse nada. Além.

Telefone é um saco. Ele não para. O lixo na rua. Hoje vêm os “coletores”, eles levam aquilo que você não consome, aquilo que você transforma em podre, inutilizável, sujo, fedido, feio, tudo que você não usa. Pena que não tem um lixeiro emocional, um lixeiro daquilo que você pensa e produz.


Imagem de Bumiputra por Pixabay.


Patrícia Coolian, natural de Urânia, formações acadêmicas pela UFMT – CUR em Contabilidade e Letras / Inglês, psicanalista em construção, há dois anos no processo de análise. Esta é sua primeira publicação.



Comentários

  1. Que orgulho de você, Patrícia! Mas qual é a surpresa? Você nasceu para grandes coisas, e pequenas também, porém o que importa mesmo é que você está construindo consciência e belezas pelo caminho! Parabéns!

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