A Palavra Acesa de Márcia Maranhão de Conti - Seis poemas

Monika Luniak

palavra
palavra é corpo
é olho ´
e pélvis

palavra molha
ou seca
alisa
ou corta
é átrio
miocárdio
e pulso
pesca neurônio
eriça os pelos
encharca os poros
palavra tem cheiro
de pele
de suor
abre a porta
acende a luz
e olha
palavra come palavra
canta palavra
planta vontade
palavra tranca palavra
trava o gesto
broxa.


Monika Luniak

cicio
eu tenho um poema dentro
feito de silêncios
quase silêncios

ou murmúrios do mar
o lento cochicho do mundo das águas
dos infinitos, das funduras
dos amores bem compridos, de todos ai ai ais
ai que esse chorinho do mar é feito meu poema
é quase um silêncio, que ele guarda um pedaço
pra gente escutar
mesmo chorando ele canta
bem dentro de uma concha
que parece um ouvido
é quase um ouvido
e dentro, o poema do mar.


ensaio
estou à véspera de um poema
mas não sei se ele vem
estou em uma sexta feira sem presságios

em um final de tarde sem esperar ninguém
dentro, uma canção ensaia
arranjos novos de solidão.

Monika Luniak

ainda
pensarei um rio

passando sereno sobre os dias
ainda que eu seja louca
e as horas fervam preocupadas

pensarei águas

das chuvas caindo nos telhados

ainda que eu seja o sertão

secura olhando para o céu

pensarei o mar

espumas das ondas valentes
ainda que eu seja medrosa
e os naufrágios me persigam

pensarei cachoeiras

as altas águas distantes
ainda que eu fique de longe
mirando e tremendo os milagres

pensarei tudo

carregado de vida e esperança
ainda que eu caminhe para a morte

cantando meu poema sozinha.

quimera

a esperança da tarde é deitar-se com o sol
atrás da paisagem
a minha não sei dizer tão claro
tenho tantas, entremeadas
quando cai a noite
brinco de coisas engraçadas
invento mundos que me esperam
enquanto alongo as minhas asas.

Monika Luniak


Strip
quando chegavas
ao barulho do trinco
meu coração tirava o vestido.

***



Márcia De Conti: nasceu em São Luís-Ma, em 27/04/1957, mudou-se aos 7 anos para Goiânia. Morou em São Paulo, onde nasceram seus filhos, Pedro e Davi, retornando à Goiânia, onde nasceu Ana Elisa. É advogada e nutricionista aposentada do Ministério da Saúde. Publicou Luar nos Porões (Piano mudo) em 2011, ganhou, em 2013, o prêmio de poesia Hugo de Carvalho Ramos com Na Fissura do Vestido. Tem poemas publicados em vários blogues, revistas e antologias, entre elas, Sarau da Paulista (2019); As Mulheres Poetas (vol 2, virtual) e Coletânea - Homenagem ao poeta Rubens Jardim. Entre os prêmios estão: Prêmio Nacional de Poesia Cidade Ipatinga (2º lugar em 2007 e 2013); Poemas no Ônibus e no Trem 2007/2009/2011; Prêmio TOC 140 da Fliporto/2013.

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