MEU PAIDEUMA FEITO DELAS: com Thais Guimarães, Cinthia Kriemler e Micheliny Verunschk




[Thais Guimarães]

GRAU DE VISÃO

envelhecemos
e não há forma amena
para contar tempo
o que passou

a imagem devolvida
pelo espelho
diz tudo
sem palavras

os olhos
já não veem
(sem óculos)
o que não precisa ser visto



[Cinthia Kriemler]

FÉRETRO

somos tantas as que vivemos
carpimos
rezamos
trepamos
amamos
partimos
somos tantas
que me confundo
sobre qual de nós
morreu desta vez


[Micheliny Verunschk]

“Ora, se nunca se anunciara com tal fervor a existência de santos suicidas é que nunca antes se oferecera o patronato de um desses santos aos próprios suicidas. Nunca existira um alguém que intercedesse por essas almas. Alguém que soubesse na carne e no espírito os caminhos e descaminhos que levam ao ato extremo. E é a história desse santo, sua vida e morte, seu polêmico percurso, que aqui se vai relatar. Melhor dizendo, dessa santa, porque cabe às mulheres desde sempre, de Pandora a Eva, a faísca da subversão, a quebra de valores, a assumida falta de pudores e um extremo gosto pela transgressão. Advirto, porém, que não me venha tomar o leitor como um panfletário, um vulgar levantador de bandeiras. Tão somente conto histórias das quais apenas ouvi falar ou que, quando muito, tive discreta, quase despercebida participação. Sou um velho que muito já viu e viveu e que nem sempre consegue escolher ou esconder simpatias e antipatias. Mas garanto que apenas dou conta do que todos dizem ou sabem, embora às vezes finjam que não disseram ou soubessem. E é esse o meu ofício de narrar. Poderia ser outro, mas é esse e dele me agrado.”
(Trecho do livro Nossa Tereza: Vida e morte de uma santa suicida)

***

O poema de Thais Guimarães no livro Jogo de facas
O poema de Cinthia Kriemler no livro Exercício de leitura de mulheres loucas




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