A POESIA EMOCIONANTE DE FLAVIA QUINTANILHA | Projeto 8M

fotografia do arquivo pessoal da autora 

8M (*)

Mulheres não apenas em março. 
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
Dias mulheres virão, 
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
(Nic Cardeal)


É preciso mergulhar na poesia emocionante de FLAVIA QUINTANILHA:


ESTRELA

quando amei aquela estrela
deixei o cinza no fundo da gaveta
sorri colorido
e foram verdes minhas mãos

em seus olhos vi o universo
espalhado em folhas
numa muda de alfazema
e meus cabelos ventavam alecrim

em seus beijos desenhei a pétala
o jardim cantava pimentas
num lençol de algodão
e os quadros se firmaram no ar de nossos poemas

tentei alcançar aquela estrela
nas receitas que não cozi
nas rendas que acabei ao tecer fechaduras
e meu corpo já não me comporta

nem as folhas
nem as asas

quando amei aquela estrela
virei pó

(* poema publicado na Revista Carlos Zemek, de 04/06/2020)

imagem do Pinterest 
-*-


a tristeza
é como gota de sangue em copo d'água
espalha-se silente
assim que toca a superfície 
em pouco
colore o todo
intragável

(* poema do livro A mulher que contou a minha história)

capa do livro A mulher que contou a minha história 
-*-


... E EU

eu que queria viver de poesia
nasci com os olhos arregalados
como radar que percebe o intruso

sou isso
dor distorcida em poema
em sobrevoo livre
e mantida a ferros

barro invisível 
odiado ao secar na roupa
fonte da vida

almejava ser o que nasci pra ser
poesia
nisso que me transformo
disso que me valho

sobre-viver

(* poema do livro A mulher que contou a minha história)

fotografia do arquivo pessoal da autora 

-*-


sem pena de mim
agarro-me a sua blusa azul
no delírio de te manter aqui

a luz
a casa
a grama
os poemas 
2 que inundaram a existência do querer
e trouxeram em desvelo as possibilidades tantas

permaneço nisso que brotou e se mantém

deixe 
pistas e portões 
nada amplia ainda mais o caminho
além de nós

(* poema do livro Desabotoar)

imagem do Pinterest 

-*-


a lágrima 
seca
em corpo nu
sombra de ter

perder
a mim

(* poema do livro Desabotoar)

capa do livro Desabotoar
-*-


meu olhar esmeralda
regou brecha e fresta de promessa
sorriu ao nada
e em entrega vazia atirou-se

salto sem rede
húmus que lhe falta
                           florescer

duo de voz solitária
invisível
ao que se afirma
                          ego

(* poema do livro Desabotoar)

imagem do Pinterest 
-*-


POEMA #8

a poesia voa
em dia de frio
e amor já
não me ocupa

dos versos que
fiz
e amei
hoje estática
espero ver os acontecimentos

nada nem e já é
e o poema me embrulha o estômago
e a raiz aponta para o céu
e as palavras vazam
             papel sobre Maria Teresa
e aorta rompe
o desaguar dos léus

se antes chorava a solidão
hoje me abrigo no longínquo inexistente eu
e fico
já corri corações
como biruta em Santos Dumont
para calhar
             em âncora
que não se move brisa
e terminar em desejo
             este poema

(* poema do livro Sobre folhas e vento)

capa do livro Sobre folhas e vento 


-*-

passo
bem devagar
              e o mundo a girar
passo
sem onde
              sem como
                           sem quando 
                                         sem lugar

e o mundo
o mundo
a girar

(* poema do livro Sobre folhas e vento)

imagem do Pinterest 
-*-

(*) 8M: 8 de Março = Dia Internacional da Mulher: Projeto 'Homenagem a mulheres escritoras/artistas', iniciado em março/2021, por Nic Cardeal.

fotografia do arquivo pessoal da autora 


FLAVIA QUINTANILHA é natural de Maringá, atualmente residente em Florianópolis/SC. Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Londrina - UEL, foi bolsista do CNPq com projeto de iniciação científica na área da Ética, com ênfase em Filosofia Política (2006/2008). Participou dos grupos de pesquisa: Filosofia Contemporânea: Habermas (Universidade Estadual Paulista – Unesp); Ética, Política e Direito no Estado Democrático de Direito (Universidade Estadual de Londrina – UEL) e Democracia, Estado de Direito e Cidadania (Universidade Federal Fluminense – UFF). É mestra em Filosofia pela Unesp, doutora em Filosofia pela Universidade de Coimbra, e membro colaborador do Instituto de Estudos Filosóficos da mesma instituição. Pesquisadora da área de Filosofia Prática e Ética, com ênfase na Racionalidade Hermenêutica, principalmente nos temas de Identidade Narrativa e Dignidade Pessoal. Atualmente é doutoranda em Estudos da Tradução na Pget Ufsc. 
É editora associada na Philosophy International Journal e foi conselheira de cultura na área de literatura em Londrina. Atuante na área da cultura, é fundadora do coletivo Artistas Livres de Londrina e produtora do Sarau das Artes neste coletivo. Tem poemas publicados em diversas antologias e revistas literárias. Pretende lançar seu primeiro livro de fotografia em breve.

Participação em antologias: Sarau Brasil 2019Prêmio Poesia Agora – Inverno e Antologia Ruínas (Patuá, 2020), entre outras. Seus poemas estão publicados em diversas revistas, como por exemplo, na 'Revista Literatura & Fechadura'; na 'Revista Torquato' e na 'Revista Carlos Zemek'.

Livros publicados: Aporias da Justiça: entre Habermas e Rawls (Novas Edições Acadêmicas/2015); A mulher que contou a minha história (Kotter - Selo Sendas/2018); Desabotoar (poesia, Patuá/2020); Sobre folhas ao vento (poesia, Patuá/2022).



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