As artes integradas de Patrícia Claudine Hoffmann e Cy Claudel







Quatro Habitações em Vestígio
para Aguardar dos Dias

1

Cada casa
tornou-se castelo
com olhos e cancelas
escancarados para o medo...
para os cantos da falta
que ali ainda habita,
num silêncio de peixe
capturado.

Caracol encoberto
por um sol-reserva,
mantendo, no forro das horas,
seu mínimo endereço.
Abaixo de uma lua para dentro
do céu de bem
carpidas nuvens,
- de ontens para fora -

Adorna de agoras
as árvores sem flora,
que desprendem suas filhas-folhas
para o outono,
como quem polvilha - de si mesmo -
no terreno,  uma pequena alegria.


A alegoria da morada.



2
O pavor não arrepende
as flores do alerta
no lado de fora
do peito em pânico.

Um acalanto
codifica os descampados
magnéticos de albatrozes,
em abismo
nada imaginário,
dos desertos
já socorridos
por alguma paz.

É o que não se faz
no chafariz inconsciente,
convicto...
coletivo de ar, orvalhos
e narinas cósmicas.

Tantos cenários
de salvações mais abstratas.
Imediatas de chuva
 a dobrar a curva dos séculos

e revirar a chave dos ciclos
e seus adeptos.


3
Às vezes
os anjos desferem
pequenas pausas,

em nossas casas espontâneas
de améns.

Quando um peixe,
revogado de anzol,
escolta-se por ondas
libertadoras
em seu corpo sonhado
de lago.

Domingo, onde nunca
nada era minguado.

Nem a enxurrada  - de lado - .
Nem o prelúdio da sombra
no alumbrado.

Agora, os dias já não condizem
com seus nomes.
-  Outras cidades, pai.


4

As mesmas cavernas ainda.
- e elas nos separam -
Refletidas.

Estão fechadas para o reparo
das asas dos vaga-lumes.

As asas e as âncoras
serão devolvidas logo,
no colo das manhãs tão várias,
feito mães,
com seus armazéns de Estrelas Sírias.

Haverá alívio nos convívios
e avencas de voltar.

As caras, as curas refeitas,
numa luz de nada austera,
a descansar de cada feito...

no estancar das rezas dos cisnes,
atendidas nas represas,
sob o supervisão das Camélias...

das Tílias a ampliar os pulmões
das borboletas contorcidas...
vindo...

Uma luz de nada austera
há de atear fundo
um outro humano...

menos de amputações,
 venenos e tiros.

Eis a sequência das fraturas,
para o instaurar
da novíssima frequência.


*Ilistrações por Cy Claudel /Poemas por Patrícia Claudine Hoffmann





Patrícia Claudine Hoffmann nasceu em 1975, paulistana, radicada em Santa Catarina, professora, autora dos livros de poesia “Matadouro Imperfeito”(2016. Ed. Letradágua), “Feito Vértebras de Colibris” (2017. Bolsa Nacional do Livro/Marianas Edições), “O Livro de Isólithus” (2018. E-book. Ed. E-galáxia/Coleção Prato de Cerejas), entre outros. Tem poemas publicados também em antologias e revistas digitais. Mantém a fanpage “Espólio do Sol”.



Cy Claudel é artista plástica,ilustradora,arte-educadora,formada em Pedagogia pela UNESP-Rio
Claro/SP.



Comentários

Postar um comentário

PUBLICAÇÕES MAIS VISITADAS DA SEMANA

Mulher Feminista - 16 Poemas Improvisados - Autoras Diversas

200 palavras/2 minicontos - por Lota Moncada

De vez em quando um conto - Os Casais - por Lia Sena

Nordeste Maravilhoso - Viva as Mulheres Rendeiras!

A POESIA FANTÁSTICA DE ROSEANA MURRAY | PROJETO 8M

Cinco poemas de Eva Potiguar | Uma poética de raízes imersas

Preta em Traje Branco | Cordel reconta: Antonieta de Barros de Joyce Dias

Uma resenha de Vanessa Ratton | "Caminho para ver estrelas": leitura necessária para a juventude

Resenha do livro juvenil TÃO LONGE... TÃO PERTO, de Silvana de Menezes

Resenha 'afetiva' do livro O VOO DA GUARÁ VERMELHA, de Maria Valéria Rezende