Música e poesia - O fazer artístico de Maria Cristina Arantes

Aquarela de Luciane Valença
Essa é uma matéria que exige um prólogo, uma apresentação, porque Maria Cristina Arantes ou melhor, Cris Arantes, é uma artista popular que transita por diversas áreas. Escreve poemas, toca instrumentos, compõe canções e empreende atividades junto a abrigos de idosos com apresentações musicais, assim como, participa ativamente de saraus, com sua música e poesia. Uma pessoa que encara como missão, a sua atividade musical e poética, no sentido de minimizar a solidão e carência dos ocupantes de asilos onde promove apresentações com o seu grupo. Um texto da própria Cris, explicita melhor essa questão.

Minha missão
por Cris Arantes

            Um dia recebi uma missão. Fui fazer aula de violão, disse ao professor que não tinha pressa no aprendizado, porque não tinha o objetivo de ser artista. Durante uma aula, o meu namorado perguntou ao professor se eu estava indo bem. A resposta foi que se eu me esforçasse poderia estar melhor, fiquei nervosa e respondi, não tenho objetivo. Nisso abriu uma visão que tomou conta da sala de aula. Nela estou no centro de senhorinhas de cabecinhas brancas, tocando violão. Disse a eles agora tenho objetivo; missão de levar música para os idosos. Entendi qual era o meu propósito naquele momento, uma forma de realização como pessoa.
            Passei a vida trabalhando com crianças e agora uma mudança completa: Aceitei de bom grado e decidi me preparar para esse trabalho voluntário, pesquisando músicas antigas, exercitando a voz, comprando materiais: instrumentos de percussão, microfones, pedestais, caixa de som.
            Passou-se um ano sem que eu percebesse e nada de começar as apresentações, até que um dia, uma caixinha de música em forma de violino, que ganhei de presente, começou a tocar sozinha todos os dias. Não ouvi, quem ouviu foi a moça que trabalhava em casa, a Cenira, só ouvi no final de semana, achei estranho, mas entendi o recado.
            Com dificuldade comecei junto com a minha amiga Chris, que aceitou meu convite para integrar o grupo, que ora se formava, com convidados  também. Feliz por ter uma parceira na missão que era minha, formamos o Grupo Recordando.
            Assim como Deus me atendeu enviando-a para me ajudar, depois de três anos me enviou mais uma abençoada, a Ana Lúcia. Faz oito anos que vou com o Grupo Recordando, em Casas de Repouso cantar e alegrá-los.
            Uma das maneiras que encontrei de estimular os idosos a participar, foi de cantar  sucessos que fizeram parte da juventude deles.
            Divulgo meu trabalho voluntário para estimular outras pessoas a fazê-lo, de acordo com suas habilidades.

 Voluntariar só veio enriquecer a minha alma e meu coração.






A poesia de Cris Arantes 


Vento

O vento pode levar
a nuvem que passa.
as folhas do jardim,
a poeira do asfalto,
as folhas da partitura.
Bagunçar meu cabelo.
Só não pode levar a
minha consciência,
palavra dada, minha fé,
vontade de vencer.
Nem o amor que tenho
por você.

** 
Confiança

A confiança se esvaiu
por entre os dedos
do infinito
percorreu luas e luas
e se perdeu
sem chance de ser
restaurada
sem caminhos a
serem percorridos
sem ilusões a desfilarem
na passarela
da desfaçatez


Nunca

Nunca acredite no meu nunca
Depende do momento
Hoje nunca, amanhã não sei
Vivo o hoje, amanhã também
Corro não sei se chego
Tento, nem sempre consigo
Luto, nem sempre venço
Não desisto fácil
Sou pedra de rio, resisto
Sou flor de encosta, sobrevivo
Sou broto de bambu, persisto
Dobro mas não quebro


Pois é

existe um mar revolto
banhando meu coração
inundando minha alma
dilacerando minha carne
sangrando meu peito
manchando a terra
plantando esperança
colhendo amor
**
Minha alma

Apesar da frieza
Do punhal
Que dilacera
A minha carne
Destrói o meu corpo
Minha alma
Permanece
Intacta, plena
Reverberando
Todo o meu
Sentimento de amor
E compaixão


*Aquarelas de Luciane Valença


          Maria Cristina Arantes ( Cris Arantes ), pedagoga, poeta, cantora, musicista, artista “mambembe”, onde o povo está, lá estará. Possui um CD, nove antologias, revistas, etc. Postagens dos poemas em redes sociais e apresentações em Saraus Literários e Musicais. Membro titular da Academia Contemporânea de Letras, a ACL, cadeira12: Florbela Espanca.











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