A Poesia-espelho de Silvana Conterno: cinco Poemas


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Sina

Quando criança entrei na fila
pra receber meu anjo da guarda
era um dia de muito movimento
lembro-me, era setembro

uma porta levava a um espelho
nos conheceríamos em instantes
meu coração descompassava.
vi uma criatura frágil, estrábica e insegura

fiquei na dúvida, estava em busca de proteção
uma voz imperiosa disse: É o que temos!
este ser tomou conta de mim
por toda minha infância!


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Presença da falta

Guardo palavras
que não me foram ditas
nasceriam do calor de um momento
que já passou
tecerei um colar de contas
entremeado pela falta que me fazem
usarei até o eco do luto abrandar
e o silêncio for só silêncio!

Arte: Alexandre Cabanel

Mutantes

Há tempo os homens pombos
perderam a graça
transitam por praças
acreditam e engolem tudo sem discernimento
tornaram-se nocivos

se quisermos nos livrar desses pombos
não basta mais espantar
cada vez mais próximos
perderam o medo de gente

distanciados da origem de seu símbolo
pregam mentiras e incoerências
hoje homens pombos multiplicados
usam o espaço público como se fossem “gente”!

Arte: Paulo Themudo

Flor da pele

avesso descoberto
vida dando choque
retraio-me
em segunda pele
adapto-me
agradecida
pelo mal que não me fizeram
por enquanto
resguardo-me
passos atrás
recapitulo
tudo que me circunda
e inconsciente contribuo
pisando em armadilhas
que montam passo a passo
caio
sempre que caio
é em mim mesma
Aprendo-me!

Arte: Dirceu Marins

Antes do poema

um vento
folhas secas no chão rodopiando
num som seco, quebradiço
circundam um sentimento
uma espiral de lembranças
matérias se misturando
quando...um susto no trânsito
tira-me do estado de poesia
em que me encontro
.
protejo quase com as mãos
esse recém nascido
passarinho do pensamento
.
nem ao menos chorou
pra respirar
seu primeiro verso!



Silvana Conterno, (filha de Geraldo Conterno e Dalva de Oliveira Conterno). Queria fazer poesia, então nasceu em Minas! Mas só tardiamente a poesia desvelou em sua vida. Trabalha como diretora de uma escola de Educação Infantil pública, onde aprende todos os dias com as crianças e traduz o aprendido em poemas. Estudou psicologia para dominar tormentas e tentar transforma-las em brisas. Às vezes ainda lhe falta o ar, mas já não lhe falta a poesia!

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