Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Uma colher de chá pra ele

Uma colher de chá pra ele - Geraldo Lavigne

Imagem
| uma colher de chá pra ele - 02| - Seis poemas tocantes do poeta baiano Geraldo Lavigne - meu caso é grave, doutor? comecei sofrendo de poesia aguda. não tratei. desenvolvi sensibilidade às palavras, sofri de conceitos e verbetes, senti alívio usando metáforas e outras figuras de linguagem. eu inventava realidades no labirinto do lirismo. fiz alguns exames, guardei papéis nos bolsos, portei caneta e lancei-me ao acaso. estava na poesia pelo escapismo e expelia versos rabiscados. os laudos foram claros e, depois do estadiamento, recebi o diagnóstico : sofro de poesia crônica. vejo a curva da mobília repetir o universo, um palhaço riscado dançando nas rachaduras da cerâmica e um pássaro exibir seu voo estático. apanho água de lago na pia e ouço cachoeiras no chuveiro. dissocio corpo, mente e alma. enxergo as moléculas do ar e o espaço que ocupam. capto a vida das coisas inanimadas e reanimo a morte dos seres vivos. toco a força dos trabalhos, não a coisa que trab

Uma colher de chá pra ele - Alberto Bresciani

Imagem
| uma colher de chá pra ele - 01 | Seis poemas insubordinados e inéditos  - por Alberto Bresciani SÍTIO Já havia mortes traçadas nas tatuagens de rapazes e moças, silêncio opressivo sob a crosta de muita fala, muito ruído, toda zombaria e dança em cada praça. E nada era engano, ilusão. Não. Era o desastre, discreto, chegando, acumulado nas balas de festim. Como se Deus enfim assumisse seus erros, a deformada geometria. E assim começou o cerco, a noite infiltrada nas tardes, a gravidade insuportável para ombros frágeis, enterrando o que ria e se comemorava, um escuro invisível, chumbo embora. Os videntes anunciando em desespero o rompimento dos muros, dos diques, a fome, a sede, o desamor, epidemias. Na cidade sitiada, esse homem é o louco das ruas, perdido, anda enfiado em pedras, coberto de papel, colecionando caixas de remédio, vazias como um sorriso póstumo. Passa o tempo costurando, umas às outras, as asas dos ins