Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Marilia Kubota

Uma janela para o sobressalto

Imagem
MOSAICO Coluna 05    –  Crônica Uma janela para o sobressalto por Marília Kubota Na pandemia, pipocam conselhos sobre como preservar a sanidade mental durante a quarentena. Há entrevistas com padres, monges e religiosos acostumados a viver em clausura em monastérios. Ex-presos políticos descrevem a rotina nas celas em seu tempo da reclusão. Escritores e intelectuais defendem a necessidade da solidão como fonte de inspiração. Receitas para suportar o isolamento não variam. Silêncio. Meditação. Reflexão. Disciplina. Exercícios físicos. Leitura. Filmes.  . Há um mês, desde que a rua se tornou ameaça viral, passo tantas horas sozinha quanto antes da quarentena. A diferença é que não saio mais para ir a restaurantes, cafés, salas de cinema, teatro encontrar amigos, nem vou eventos literários. Cozinho em casa, vejo filmes por streaming - uma grande dica é o site do Petra Belas Artes, só exibe filmão, todos gratuitos - faço yoga e estudo por cursos online.

As fissuras do mal | Marilia Kubota

Imagem
MOSAICO Coluna 04    –  Resenha As fissuras do mal  por Marília Kubota O dicionário registra dois significados para a palavra fissura. Uma formal, que significa  pequena abertura longitudinal, fenda, rachadura ou sulco, e outra informal:  apego extremo, forte inclinação, loucura, paixão. Os personagens dos contos de livro "Fissuras", de Henriette Effenberger (Penalux, 2018) trazem estas rachaduras. São párias, indivíduos que habitam as margens da sociedade: trabalhadores de classe social  inferior, mulheres que sofrem violência doméstica, jovens delinquentes, idosos, religiosos. O eixo comum a todos eles é  o sentimento de solidão.   Henriette narra com destreza, revelando domínio da linguagem. Com enredos despretensiosos,  envolve a leitora ou o leitor em uma tessitura viva, de modo a surpreender no final. O fecho dos contos acaba sendo o ponto forte das histórias. As rachaduras sociais irrompem nas frestas, revelando um conflito entre o Bem e o Mal. Neste emb

Meus anos de hikikomori | Marilia Kubota

Imagem
MOSAICO Coluna 03    –  Crônica Meus anos de hikikomori  por Marília Kubota Nos anos 2000,  o psicólogo Tamaki Saitô criou o termo hikikomori. A palavra japonesa designa a pessoa, em geral jovem do sexo masculino, que fica isolada em casa, com apetrechos eletrônicos.  O fenômeno começou a ser observado com a popularização de computadores pessoais e celulares. No Japão, hikikomori são um problema de saúde pública. Com o isolamento social compulsório da pandemia , lembrei. Também tive minha  época de hikikomori. Durante três anos morei numa chácara, em bairro nos limites de Curitiba. Vendi  um apartamento no centro da cidade. Era uma fase de instabilidade emocional, motivada pela depressão. Não me entusiasmei a comprar um novo imóvel. Uma amiga médica ofereceu abrigo. A nova casa era o paraíso. Tinha  bosque, pomar, horta e  animais domésticos. Cachorros, gatos e coelhos conviviam com um cavalo, carneiros e pavões. De noite, grilos, sapos e corujas cantavam,  à luz de um

O martelo de Adelaide – Marília Kubota

Imagem
MOSAICO Coluna 02    –  Resenha O martelo de Adelaide por Marília Kubota O martelo (Garupa, 2017), de Adelaide Ivanóva, recorre à metáfora de uma ferramenta considerada arma branca entre os povos primitivos. Na Revolução Industrial, torna-se  símbolo da classe operária: é um instrumento para pregar pregos. Na era moderna, ao lado da foice  do camponês, transforma-se no ícone da bandeira comunista. Há duas referências  para as  quais o livreto (com 82 páginas e   29 poemas) aponta.  O martelo do juiz, que  representa o poder de proferir sentença nos tribunais, batendo com força em vítimas de estupro e o livro O   martelo das feiticeiras , manual no qual a Inquisição da Igreja Católica   se baseava para caçar hereges, entre eles, “mulheres que haviam feito pacto com o demônio” ou adúlteras.  O livro amplifica estas duas vozes, a da estuprada e a da adúltera. Estas mulheres, segundo o  Imperador   Constantino, eram consideradas foras-da-lei. As vozes femininas são an