Postagens

Mostrando postagens com o rótulo MulherArte Resenhas

MulherArte Resenhas 03 | Escrever o luto: "O indizível sentido do amor" (2017) e "O coração pensa constantemente" (2020), de Rosângela Vieira Rocha

Imagem
  Escrever o luto: O indizível sentido do amor (2017)  e  O coração pensa constantemente (2020),   de Rosângela Vieira Rocha - por Eurídice Figueiredo Rosângela Vieira Rocha escreveu dois romances autobiográficos nos quais elabora o luto: em O indizível sentido do amor (2017) trata-se da morte de seu marido, chamado simplesmente de José, e em O coração pensa constantemente (2020), o foco recai sobre a irmã mais velha, que no livro recebe o nome fictício de Rubi, porque era uma verdadeira pedra preciosa. Em cada um dos romances, ao se colocar diante da morte, a autora rememora os últimos momentos, a doença, a vida pregressa daquelas pessoas que foram tão íntimas durante anos e agora jazem mortas. Apesar de saber vagamente da militância do marido durante a ditadura,   tem pouca informação porque ele não gostava de falar sobre o passado. Assim, já no primeiro capítulo de O indizível sentido do amor a narradora conta que viajou a Portugal para encontrar Alípio Cristiano de Freitas,

MulherArte Resenhas 02 | "Uma falha, uma falta, uma fissura"

Imagem
“Uma falha, uma falta, uma fissura” - por  Luiz Renato de Souza Pinto “O coração pensa constantemente” [1] , esta imagem me surge de modo epifânico no início do segundo ano desse pandemônio. Rosângela Vieira Rocha é de arribaçã, pois que vem das Minas Gerais para a capital federal, como Juscelino e muitos mineiros da gema: “Nos cursos de gemologia que fizemos juntas, no universo das pedras que tanto amamos, o rubi sempre foi a mais preciosa, a mais cara, a mais perfeita das gemas” (ROCHA, 2020, p. 194). Dentre as epígrafes encantatórias que fatiam a obra, destaco a última, de Adriane Garcia, “A tristeza é um sentimento que danifica os pulmões”. E a viagem, para mim, se inicia com a presença de Clarice, como uma dedicatória inserida a título de devolutiva amorosa, plena: “Quero que receba de novo o sopro de vida com que foi concebida” (ROCHA, 2020, p. 14). Clarice, como Luísa, sabia que “Nenhuma perda se parece com a outra” (ROCHA, 2020, p. 16). Narrando o aniversário de vinte ano

MulherArte Resenhas 01 | "Outros cantos": um integrante do cânone literário

Imagem
  Outros cantos : um integrante do cânone literário - por Ane Ramos Durante evento com escritores, ao apresentar seu romance Outros cantos como um dos finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura 2017, Maria Valéria Rezende comentou a ambiguidade presente no título de seu livro. Tratava-se de outras vozes, outras cantorias – como o aboio de um sertanejo quando chama o gado – e também outros lugares, outros territórios. Com isso, a autora ampliava as possibilidades de interpretação de sua obra. Outros Cantos flui das percepções de uma narradora mulher de mais de 70 anos que, ao fazer uma viagem de ônibus ao agreste do Brasil, relembra a viagem que fez há mais de 40 anos com destino ao povoado sertanejo de Olho d’Água. Na época, como futura professora do programa de educação para adultos do governo militar, o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), aceitara paralelamente uma missão solitária em pleno regime de ditadura no Brasil: estabelecer uma frente popular que pretendia alast