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De Prosa & Arte| Nosso Corpo não é Bagunça!

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Coluna 4 Nosso Corpo não é Bagunça! Estava tudo preparado para contar pra vocês sobre a Origem do meu nome. Era um texto descontraído e jocoso sobre a saga de ter um pré nome incomum. Mas os dias tem acordados cinzentos e violentos para manter a condição de mulher e seria uma banalidade egoísta passar por cima desses dias nublados em que violam minhas iguais.  Eu, mulher preta ando cada vez mais assombrada me esgueirando nas sombras pra passar despercebida pelos fuzis, ataques misóginos, estupros, racismo… é tanta coisa que me atravessa que pergunto quando acaba esse inferno? O patriarcado precisa acabar. A heteronormatividade machista precisa ser combatida na urgência. Somos caladas todos os dias.  Se nos erguemos contra os desmandos desse mundo macho-escroto-global somos as barraqueiras, as maloqueiras. Se pedimos justiça pelos nossos corpos hiperssexualizados, fustigados, violados, mutilados, apagados de sua livre existência somos militantes radicais. Quando lideramos seções, somos

Dois poemas de Rosilene Oliveira | "Como alquimista de mim mesma"

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  Fonte: pixabay.com Dois poemas de Rosilene Oliveira "Como alquimista de mim mesma" Tristeza   Choro por todos os sóis Que não pude contemplar Com olhos perdidos de horizontes Como dói! Balanço meu corpo Enquanto choro Meu corpo se faz barca E as lágrimas Se fazem Mar Diluo todo meu ser E torno-me líquida como a tristeza Que dilacera pedras... Entorno a tristeza no cálice Que transborda vida E solidifico depois Como alquimista de   mim mesma Sou pó de estrelas a brilhar na solidez humana Na sordidez humana Navego o Infinito de olhos fechados Fonte: pixabay.com Adeus   Queria Vez ou outra Poder tingir o olhar De amarelo vivo! Saber que depois Do choro Vem um sorriso E o horizonte inteiro É palco e roteiro Onde revezam-se Infinitas auroras E poentes... Que a vida é sempre ponte A atravessar Enquanto todo esse encanto Persiste em nos envolver E abraçar sem que possamos Muitas vezes,  

Para não dizer que não falei dos cravos | Um poema de Ricardo Leão

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  Coluna 09 Um poema de Ricardo Leão Billie Holiday não merece Disseram ao jovem negro que ele não é uma vítima. Que os negros têm que lutar, mas através do trabalho, Até que um dia sejam reconhecidos como iguais. Que os negros têm que esperar, com paciência, Que os brancos os tratem como semelhantes, Que os brancos um dia os vejam como são, E que combater o racismo é, na realidade, Apenas promover mais segregação.   Disseram ao jovem negro, recentemente eleito, Que não é necessário políticas públicas, Tampouco cotas raciais e ações afirmativas, E menos ainda secretarias ou ministérios Que ajudem a diminuir o preconceito, A violência, a intolerância e os homicídios Contra milhões de jovens negros do país. Que tudo isso é apenas desperdício de verbas públicas, De impostos, e cabide de cargos e empregos.   Disseram ao jovem negro que seus heróis são assassinos, Que os negros não têm direito a um dia no calendário, Que todos têm que ser tratados d

Rituais de morte | Marilia Kubota

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  MOSAICO Coluna 22    –   Crônica RITUAIS DE MORTE por Marília Kubota Este ano fui ao cemitério no dia 31 de outubro, para evitar aglomeração. Fui levar flores, acender velas e incenso no túmulo da família. Ali estão sepultados duas avós – mãe de meu pai e madrasta, meu avô e minha mãe. Este é o ritual que costumava fazer. Visitar túmulos de antepassados é compromisso obrigatório, quando se vai visitar parentes. Todos os anos eu levava a mãe para visitar o túmulo da mãe dela, no cemitério do Morumbi, em São Paulo. A visita consistia em limpar e lavar o túmulo, renovar as flores, acender velas e fazer uma oração. No Dia de Finados, até há pouco tempo, era comum encontrar pratos de comida diante de lápides de famílias asiáticas de origem japonesa. A oferenda de refeições aos mortos em cemitérios é uma tradição ancestral. E scrituras Budistas contam que, um dia, o monge Mokuren viu a mãe morta sofrendo de fome nas profundezas do inferno. A oferenda de uma tigela de arroz a ajudou a alivi

Uma série pictórica de Neide Silva | Flores do Cerrado

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  Flores de Pequi. Neide Silva. Uma série pictórica de Neide Silva Flores do Cerrado Neide Silva salva o Cerrado O conjunto de telas sobre as quais me detenho pode ser observado como um símbolo espelhado do desejo humano diante de perdas ou catástrofes limítrofes. Utilizando a técnica acrílico sobre tela e paleta de cores vibrantes, mais do que a poesia das flores da paisagem local, do Cerrado, essa natureza tão nossa, a obra recente de Neide Silva resgata a natureza num movimento (talvez inconsciente) que perpetua imagens, matizes e formas para salvar o que vem virando cinza sob os nossos olhos. O movimento se dá no sentido de recuperar os tons da vida que pulsa como refúgio, santuário, paraíso terreal pleno de mel, em que as flores dos frutos antecedem o banquete de delícias. Se o Pantanal e o Cerrado arderam em chamas, a artista reverte o cenário de agonia que se espalhou e manchou os céus com um rastro de tons obscuros, dantescos e sufocantes. Neide Silva, filha da terra, como que

Um trecho de romance de Stéfanie Sande | "Virgínia"

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  Um trecho de romance de Stéfanie Sande Virgínia Sinopse Doutoranda em escrita criativa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), a escritora Stéfanie Sande publicou seu novo romance, “Virgínia”, como parte da inscrição do Prêmio Kindle de Literatura. A obra está disponível em formato digital pela Amazon a partir desta sexta-feira (16).  “Virgínia” é uma história de amor entre duas mulheres, Ariel e Virgínia. Dividida em quatro partes, a trama gira em torno de se apaixonar em uma situação atípica. “É uma novela escrita durante os primeiros meses do isolamento social. Reflete um pouco a angústia da situação, mas, principalmente, tem um ‘quê’ de escapismo e auto-indulgência”, explicou a autora.  Uma das inspirações para o romance entre Ariel e Virgínia foi uma carta que a escritora inglesa Vita Sackville-West escreveu para a autora de “Mrs. Dalloway” e “Um teto todo seu”, Virgínia Woolf. Sande conta que sempre teve uma relação de amor e ódio com a obra de Wool