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MEU PAIDEUMA FEITO DELAS: com Simone Teodoro, Clarissa Macedo e Nara Vidal

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[Simone Teodoro] A ESCAVADEIRA Era abril Eu arrastava mortalhas pelos espaços da casa sem sentido Eu arrastava mortalhas na palavra na boca da traça Lembrava a velha cicatriz na chaga aberta recém inaugurada de abril Abril dos ninhos desfeitos Abril do coração arrancado dos ossos por uma escavadeira Abril escuro como um grito por dentro. [Clarissa Macedo] C LICHÊ Não teve na vida pessoa que a inspirou: mãe, pai, tio, avô o que teve foi um dedo apontado na verruga mais triste na ferida mais velha. [Nara Vidal] Era eu. No reflexo do vidro era eu. Meu cabelo era uma juba bem cuidada, meticulosamente bagunçada, com cheiro de flor quase murcha não fosse por mim mesma a injetar-me de água, na tentativa de evitar a tragédia que é a morte plena. Morrer aos poucos ainda é alguma vida. Passei os olhos discretos pelo vagão. Um homem me chamou a atenção. Meio careca e já suado às oito da manhã. Traços finos, nariz

A luz da poesia de Clarissa Macedo

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imagem: pinterest o evangelho segundo a cotação do dólar para Nílson Galvão o padre-pastor, que levanta a calça do menino com o novo testamento em punho, chora feito criança quando vê a cara do dízimo na bolsa de valores em ações da santa amada igreja que veta a prole do terceiro sexo, que treme o cajado na escola dominical e aperta o cinto que bateu na mulher em casa porque ela fez o café errado. ¾ deus, esse homem! me dá sua camisa de sangue, por favor, mediante boleto bancário, e ficarei curada da doença, da chaga, da dor do que ainda resta de mim, esse punhado de fantasia e fé que só teve da vida a rima da ilusão. Coma Todos os dias veste a coleção de tragédias e sai: visita o trabalho compra pão escolhe no carro o lugar de seu destino. Todos os dias é um corpo inflamado que persevera os aparelhos ligados mastigando a solidão de meia vida. Com os vazios todos num cortejo escolhe o desastre que melhor veste e parte para