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Mostrando postagens com o rótulo Eduardo Mahon

MulherArte Resenhas 14 | O "Domicílio" de Marta Cocco: A arte de habitar a poesia contemporânea - Por Eduardo Mahon

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  O Domicílio de Marta Cocco:  A arte de habitar a poesia contemporânea   - Por Eduardo Mahon A beleza de ler um livro ainda não publicado é que, depois que encarna no papel parece ser algo completamente diferente. Exilado no Manso, há mais de 1 ano, li o copião do atual Domicílio (Gesto, 2021). Senti um gosto meio amargo de balanço, fim de festa, noves fora, trocando em miúdos. Talvez fosse a pandemia, o sol escaldante, o cenário do cerrado bruto. Li várias vezes como se, na poesia de Marta, houvesse alguma salvação. Nunca há. Quem sabe, dê-se justamente o contrário. Agora, devidamente vestido de capa e contracapa, o livro confirma a minha sensação inicial. A maturidade cobra uma espécie de retrospecto, antologia ou exposição do que se aprendeu até aqui. Não poderia mesmo ser um livro esperançoso em meio ao nosso contemporâneo desesperançado.  Domicílio abre-se em cômodos, cada qual dedicado a um estilo e/ou tema, prato cheio para os estruturalistas que babarão de gula com a “antig

MulherArte Resenhas 11 | "Virgínia" de Stéfanie Sande: estratégias de desarmamento - por Eduardo Mahon

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VIRGÍNIA DE STÉFANIE SANDE: ESTRATÉGIAS DE DESARMAMENTO  - Por Eduardo Mahon Vamos falar um pouco mais sobre o romance Virgínia , de Stéfanie Sande. Deixo assinalado que o livro pode ser uma grande descoberta, sobretudo no público mais jovem. O amor entre duas garotas é tratado sem a costumeira bandeira levantada, sem o rancor típico das resistências entrincheiradas. Considerando a leveza oriunda da naturalidade da relação, o enredo não sublinha aspectos traumáticos. Sim, é possível tratar do lesbianismo (e outras tantas emergentes pautas sociais) sem o recorte do conflito e do sofrimento. Nem por isso a obra será menos profunda. Em termos de narrativa, fiquei muito satisfeito ao ver a mudança de marcha no segundo terço da narrativa. A troca de vozes aponta para o amadurecimento da escritora. Não é fácil e não é comum ver essa alteridade realizada com sucesso. Em geral, quando não há planejamento, o livro fica sem pé nem cabeça. Virgínia nos oferece a dupla perspectiva, sem perder a l

MulherArte Resenhas 06 | O OBSERVATÓRIO POÉTICO de Lucinda Persona

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O OBSERVATÓRIO POÉTICO de Lucinda Persona - Por Eduardo Mahon De repente, me lembrei de Lucinda. Onde estará ela? Certamente refugiada em seu apartamento. Com ou sem pandemia, o apartamento de Lucinda é uma especie de observatório. Não propriamente observatório astronômico, mas poético. No mais recente livro O passo do instante , a escritora faz da noite o seu principal tema. A maioria dos poemas traz a imagem decadente do dia, a promessa da tarde e a fertilidade da noite, matéria prima para a poesia. Do alto de seu observatório, a poeta não se desloca. Ela observa a cidade com distanciamento e passividade. Faz anotações quase científicas e forja uma espécie de diário do perímetro. Índices pluviométricos, períodos de seca e de umidade, regime de ventos, tudo isso se projetando para a criação poética. Onde está a noite? O que é a noite? Parece-me que o dia (o verão?) está identificado com o trabalho, enquanto a tarde (ou o outono?) nos dão a pista que os períodos do dia são, na verdade,

Para não dizer que não falei dos cravos | A poesia de Eduardo Mahon numa curadoria de Edson Flávio Santos

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  Coluna 03 A poesia de Eduardo Mahon numa curadoria  de Edson Flávio Santos A pedido desta coluna, Edson Flávio Santos selecionou os poemas a seguir a partir de toda a obra poética de Eduardo Mahon. Nevralgias (2013) Cuiabá O sol ilumina três dias Cozinha as gentes de cá Suor que me dá agonia Uma cortesia de Cuiabá   O comércio fazia sesta Havia saraus de piano Povo que gosta de festa Seresta e luar cuiabano   Rodados os paus de outros barrancos Migrantes paulistas e do Paraná Outrora tomados por saltimbancos Fincaram raízes em Cuiabá   Está consumado: segui pra Piedade Fui enterrado como um paisano Sou semente nova na velha cidade Em Cuiabá, morri cuiabano.   ** Poema de Cristaleira Se eu não rir, não presta Nada vale a poesia sem um sorriso Se eu não ler em voz alta, descarto A poesia tempera sabor às palavras Se eu não reler, não serve Não há uma grande poesia esquecida Se eu não arrebatar uma mulher, desisto A boa poesia v