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Meus anos de hikikomori | Marilia Kubota

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MOSAICO Coluna 03    –  Crônica Meus anos de hikikomori  por Marília Kubota Nos anos 2000,  o psicólogo Tamaki Saitô criou o termo hikikomori. A palavra japonesa designa a pessoa, em geral jovem do sexo masculino, que fica isolada em casa, com apetrechos eletrônicos.  O fenômeno começou a ser observado com a popularização de computadores pessoais e celulares. No Japão, hikikomori são um problema de saúde pública. Com o isolamento social compulsório da pandemia , lembrei. Também tive minha  época de hikikomori. Durante três anos morei numa chácara, em bairro nos limites de Curitiba. Vendi  um apartamento no centro da cidade. Era uma fase de instabilidade emocional, motivada pela depressão. Não me entusiasmei a comprar um novo imóvel. Uma amiga médica ofereceu abrigo. A nova casa era o paraíso. Tinha  bosque, pomar, horta e  animais domésticos. Cachorros, gatos e coelhos conviviam com um cavalo, carneiros e pavões. De noite, grilos, sapos e corujas cantavam,  à luz de um

O martelo de Adelaide – Marília Kubota

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MOSAICO Coluna 02    –  Resenha O martelo de Adelaide por Marília Kubota O martelo (Garupa, 2017), de Adelaide Ivanóva, recorre à metáfora de uma ferramenta considerada arma branca entre os povos primitivos. Na Revolução Industrial, torna-se  símbolo da classe operária: é um instrumento para pregar pregos. Na era moderna, ao lado da foice  do camponês, transforma-se no ícone da bandeira comunista. Há duas referências  para as  quais o livreto (com 82 páginas e   29 poemas) aponta.  O martelo do juiz, que  representa o poder de proferir sentença nos tribunais, batendo com força em vítimas de estupro e o livro O   martelo das feiticeiras , manual no qual a Inquisição da Igreja Católica   se baseava para caçar hereges, entre eles, “mulheres que haviam feito pacto com o demônio” ou adúlteras.  O livro amplifica estas duas vozes, a da estuprada e a da adúltera. Estas mulheres, segundo o  Imperador   Constantino, eram consideradas foras-da-lei. As vozes femininas são an

Ficar em casa - Marília Kubota

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MOSAICO Coluna 01 - Crônica Ficar em casa por Marília Kubota Durante anos fiquei incomodada com o fato de não sair de casa. Ao redor diziam: "não fique o tempo todo enfurnada", "saia pra respirar", "não fique só lendo", "pratique exercícios ao ar livre." Instrospectivos se acostumam a ouvir esta ladainha e mais: "você fala demais", "não ouvi sua voz hoje", "acho que estou surdo". Tornei-me especialista em ficar em casa.  Fui criança quieta: adorava ler.  Revistas em quadrinhos, crônicas, poemas, almanaque Biotônico Fontoura.  Em casa não havia livros. Nem Bíblia, nem Doutrina de Buda.  Não lembro se era mais caseira do que outras crianças.  Sei que jamais aprendi gramática na escola. Graças à leitura, "entendia" as regras da língua.  Aos 15 anos, comecei a ficar mais em casa do que meus colegas.  Abandonei o  ensino médio.  Fugi de uma apresentação oral compulsória nas aulas d