Um Conto da maranhense Lindevania Martins
Colheita Lindevania Martins O garoto levantou o braço, apontando o revólver de novo para Josefa, que perguntou: — Vai ser agora? Ele permaneceu mudo. Era uma lágrima caindo dos olhos avermelhados? Era quase um menino. Teria quatorze, quinze, dezesseis anos? Ela reclamou: — Vai demorar? Ele subiu o outro braço até a cabeça, afastando a franja que caía na fronte. Abriu a boca e fungou: — Não tenho pressa. Uns quatro metros de canteiros intercalados entre tomate e manjericão o separavam dela. A essa distância, ele não erraria. — Meu pai diz que a gente tem que colher com os dentes para comer com a gengiva. — Alguns nunca conseguem colher – Josefa replicou. — Não é o seu caso. Ao lado dela, no chão, o cesto de palha com os tomates recém colhidos. O revólver metálico, um calibre 38 muito lustroso, tremia na mão do garoto. — Conto até cinco e você sai correndo. Talvez eu atire, talvez não. — Não consigo correr. Meus joelhos são ruins. É o reumatismo. Por is