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Mostrando postagens com o rótulo Literatura Feminina

A poesia magistral&impecável de Águeda Magalhães

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Luz a meio-tom                a Cecília Meireles Impossível Ver o vinho evaporando na fina taça e não sentir a saudade latente de todos os goles que deixei escapar acreditando que o manancial era eterno. engano pueril o líquido escoa... a marca teimosamente vai declinando. mais da metade já se foi. À semelhança dos poentes, sou luz a meio-tom. recolho-me como o sol que se entrega exaurido à noite irremissível Fica o gosto amargo das renúncias... A nostalgia das estrelas que entoam despedidas. Impossível retomar o ontem que não vicejou e hoje habita o abismo intransponível do “ tarde demais.” Choro pelo que deixei escorrer a céu aberto. pela manhã que deixei escapar sem sorver a beleza de seus cânticos molhados de sol. Hoje tardia quero beber, lentamente, cada fio ralo que escorre pelas bordas do cálice. são lágrimas esparsas :choram pelos meus desencontros, pelos meus desencantos. no percurso do agora escoltam-me lembranças gastas pistas de saudades que ressoam vozes e infinitude. fr

Maria - um conto de Helena Arruda

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  Monika Luniak Maria [ por Helena Arruda ]             As maritacas cantam nas mangueiras da janela. O som estridente vem carregado de cheiros de uma infância feliz. Pouco me recordo da minha infância. Mas me lembro do velho abacateiro nos fundos da casa da memória . Reminders , diria certo filósofo francês. A memória é casa habitada. Ouço o som das folhas da mangueira. Essa é a infância do meu filho. Sinto o cheiro da infância dele se reescrevendo sobre a minha, como num palimpsesto. Leio Elvira Vigna, uma mulher que soube assumir suas dores na solidão da escrita. Tenho medo de não poder escrever meus tantos livros que moram em mim.  Paro. O vento e as sombras entram pela minha janela. Meus pés e pernas florescem rendados pelas folhas e galhos das mangueiras que balançam ao sol da tarde através da cortina. O sol invade meus pensamentos e me aquece. Tenho medo de não poder sentir mais essa sensação. Penso que a sinto agora. Estou no tempo presente. Mas habito outros tempos e outro

A poesia caleidoscópica e caudalosa de Cristina Siqueira

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imagem: arquivo pessoal da autora Cinco poemas de Cristina Siqueira Tempo de faltas e excessos  Rumo incerto  Soçobrei  Só sobrei  ** Máximo e mínimo  Houve um tempo  de fragmentos  da arte  devoção dos monges fragmento de mísseis  escombros  a clamar seus donos  vírus da asfixia  um nada nas sombras  Sobras de humanidade  Houve um tempo   de águas pacientes a germinar sementes do Amor  e de dramas tenebrosos  trazendo o desejo  de provar o alívio da Paz ** Sem perdão  Rasgou o verbo  O verso  O papel ao meio Rasgou o mar  A bandeira  Rasgou o vestido  a camisa dele  Rasgou a pele  em ira desfeita  Mas quando  rasgou dinheiro Sentiu o peso  do desaforo  viu o coração no bolso Partido em miúdos  e o sangue nos olhos  dele  desaguando inteiro  Crucifixou-se ** Na época em que  as mulheres bordavam Ponto a ponto suas vidas  Suas cabeças criavam  pássaros Que fixos no bas

UniVerso de Mulheres 02 - Dois Poemas de Sandrinha Barbosa

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Dois poemas de Sandrinha Barbosa, por Valeska Brinkmann Foto ©Ribamar Caboclo Ave, Solimões ainda há pouco teu filho        o velho Madeira nos entregou        de braços abertos a ti e agora navegando em tuas        barrentas águas, te saúdo: Ave, Solimões cheio de graça! pai         mestre amigo e senhor majestoso        há milênios dessa sagrada Amazônia onde reinas humilde  repleto de sabedoria: Ave, Solimões cheio de graça! que teu corpo        seja a rede e teu espírito        seja o bálsamo às dores  na alma que ora sinto  percorre meu sangue segura em teu colo        meu coração e se possível        ainda leva minh´alma        para descansar um pouco nas profundezas de tuas turvas águas onde eterno  e                      utopia convivem na paz de tuas lendas e             mistérios Ave, Solimões cheio de graça!