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Um conto de Ciça Ribeiro | "O doce bombom"

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  Iris Hamelmann. Fonte: pixabay.com Um conto de Ciça Ribeiro O doce bombom* Pelo muro baixo do jardim da sua casa, enquanto tentava brincar de bola com seus irmãos, pouco interessados na sua companhia, ela esperava ansiosamente o chamado das duas vizinhas. Só ela era chamada.  Senhoras de cabelos brancos, gordinhas - talvez por comerem tantos bombons quanto desejassem -, e sempre usando um pulôver leve de lã, abriam a porta da casa, que tinha um jardim igual ao dela. A primeira que saísse olhava para ela, levantava o braço à meia altura e, com o dedo indicador - o curvava em movimentos delicados -, chamava-a para os minutos mais preciosos da manhã. Sem perder tempo, e não mais interessada na brincadeira de bola, nem tampouco nos irmãos, ela saia triunfante pelo portão enquanto os meninos a seguiam com os olhos cheios de vontade. Sabiam que ela era a escolhida, apenas ela. Assim que ela adentrava a sala,sempre envolta na penumbra, o precioso objeto que repousava esplendidamente em cima

Yedda Maria Teixeira | o prêmio da arte de amar

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Foto: Joana, Aloysio Filho, Yedda Maria Teixeira, na inauguração da Praça Aloysio Maria Teixeira, com a escultura do desembargador, vista aqui sentada num banquinho, tal e qual a do Drummond na Praia de Copacabana | Fonte: hildegardangel.com.br A arte de amar até as últimas consequências   por Chris Herrmann Yedda Maria Teixeira  foi uma mulher muito ativa no Rio de Janeiro, à frente de uma rede de hotelaria. Trabalhava com muita dedicação, implantando uma série de ideias e melhorias. Além disso, ela tratava a todos os funcionários com respeito, assim como também foi muito admirada e respeitada. Viúva do  Desembargador Aloysio Maria Teixeira  e mãe do ex-deputado e empresário  Aloysio Maria Teixeira Filho , demonstrava estar à frente de seu tempo com sua postura firme, independente e altamente humanista. Foto: Aloysio Filho, Yedda Maria Teixeira e Joana O mais surpreendente na história de vida da senhora Yedda, é que ela abdicou de seu trabalho como empresária de sucesso, “abriu mão de

Cinco poemas de Letícia Perez | "Som de confinamento"

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  Jukka Niittymaa. Fonte: pixabay. Cinco poemas de Letícia Perez A ARTE (13/07/2020) A arte faz parte Daquilo que não cabe No peito em mim arde Expresso minha metade   Inteiro Primeiro SOU (25/05/2020) Hoje o dia está assim O choro e o riso se intercalam Disputam a estabilidade Mas se assim fosse, não seria eu    Eu sou nuances numa longa frase Um parágrafo completo que perpassa entre drama, comédia e musical   Eu sou hipérbole, E muitas vezes eufemismo Mas não me permito ser metonímia   E de metáfora em metáfora O sujeito executa o verbo De uma sentença aleatória   Não predestine meu eu Fui ali, hoje aqui Quem sabe onde será amanhã O presente dirá   Ouço meu presente, sinto, vejo, inspiro E sou assim como és Arek Socha. Fonte: pixabay.com HOJE ACORDEI ME AMANDO (18/05/2020) Hoje acordei me amando Hoje acordei sorrindo por gostar de mim Hoje acordei me espreguiçando Pra despertar Pra ativar cada parte que amo do meu eu Todas As boas, as não tanto As que mostro e as que prefiro guardar

Divina Leitura | Uma leitura de "Ebulição Interna" de Márcia Machado

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  Coluna 12 Uma leitura de Ebulição Interna de Márcia Machado _ por Divanize Carbonieri Os cinquenta e um poemas que compõem Ebulição interna , livro de estreia de Márcia Machado, assumem a forma de verdadeiros monólogos interiores escritos em versos. Uma voz poética extremamente reflexiva se debate com questões fundamentais da experiência humana e da contemporaneidade. Em sua maior parte, são composições relativamente longas de versos curtos em que se destacam os pontos de interrogação, sinal de um eu que se questiona constantemente. Essas questões são, no fundo, endereçadas à própria consciência, e para muitas não há realmente resposta fácil ou mesmo possível. São questionamentos que esbarram muitas vezes nas grandes indagações da humanidade: quem sou, para onde vou, de onde vim? Ou, mais precisamente, “De que matéria somos feitos?”, “Quantas poderemos ser/Em tão curta vida?”, “O que sou além da superfície/Que já não tenha sido à exaustão?”, “E se eu morresse amanhã/O que poderia

Uma resenha de Marta Cocco | "Uma Diva na passarela estreita do Jabuti"

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  Jerzy Górecki. Fonte: pixabay.com Uma resenha de Marta Cocco Uma Diva na passarela estreita do Jabuti Pela primeira vez na história da literatura produzida em Mato Grosso temos uma finalista em uma categoria literária do prêmio Jabuti. Esse prêmio é considerado o Oscar do livro brasileiro. Michele Sato, em 2006 também chegou à final, mas na categoria acadêmico-científica, e Joca Terron, em 2012. Mas Joca Terron, embora nascido em Mato Grosso, não publica por aqui e chegou por uma grande editora, a Cia das Letras. Divanize se inscreveu no prêmio com o livro de contos Passagem Estreita , editado pela Carlini & Caniato sediada em Cuiabá. Se Divanize ficará com o primeiro lugar, é o de menos. O de mais foi ter conseguido essa distinção, num prêmio que tradicionalmente destacou autores e autoras famosos/as, de grandes editoras, de grandes centros. (Embora essa noção de centro já seja questionada há tempos e, geograficamente falando, Cuiabá esteja no centro geodésico da América Latin

IX Tertúlia Virtual | Vozes e Olhares de uma Poética do Feminino

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  TERTÚLIAS VIRTUAIS |  03 - por Marta Cortez ão “Quem poderá calcular o calor e a violência de um coração de poeta quando preso no corpo de uma mulher?” (Virgínia Woolf) Segundo Woolf, esta pergunta poderia ser feita tanto para as mulheres de seu tempo quanto para as do tempo de Shakespeare. Entretanto, esta pergunta, infelizmente, ainda cai, vergonhosamente, como uma luva, para os nossos tempos t ão desajustados da  contemporaneidade; basta ler a literatura produzida por mulheres para sentir, de parte a parte, este calor e esta violência que brotam desses corações poetas. Esta voz feminina na poesia que, assumindo-se sujeito pelo poder da palavra, (re)inventa sua (re)existência quando diz sobre os outros e as outras presentes no ambiente a sua volta e/ou  ainda em espaços, cujos olhares e cujas vozes esgueiram-se por alcançar. Além de escancarar seu mundo interior, esses corações poetas sangram aquele grito que reverbera com ousadia e ainda revela as tantas vozes silenciosas e silenc