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Mostrando postagens com o rótulo Lia Sena

De vez em quando um conto | Lia Sena

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O Dia por Lia Sena Levantou de sobressalto; olhou pela janela e deu de cara com um céu lindo, azulzinho, com pequenas nuvens brancas e pensou: Nada deixará esse céu cinzento hoje! Uma alegria imensa tomava conta de todo o seu ser -era hoje, finalmente o dia! Depois de seis meses que ela havia partido, estimulada por ele mesmo, pra realizar o sonho de fazer aquele curso tão desejado e que impulsionaria sua carreira, mesmo tendo que sair do país, chegara o esperado dia do retorno. É fato qu e três meses atrás ele a visitara rapidamente; mataram um pouco da saudade, mas era diferente agora! Ela voltava à casa e muito mais feliz com a nova conquista. Ele, inebriado com a ideia dessa volta tão iminente, tirara o dia de folga; não iria hoje à empresa, deixaria a casa do jeito que ela gosta; tomaria um banho demorado, faria a barba e a esperaria com todos os mimos; jantar providenciado pra mais tarde, um vinho que ela gosta tanto, as plantas na varanda (ela não gosta de flores mo

Uma colher de chá pra ele - Antonio Torres

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|Uma colher de chá pra ele 09| Antonio Torres é um poeta gentilíssimo, que abraça a causa das mulheres e costuma escrever em português, espanhol e inglês. Semra Sevimli TEU NOME Eu já não durmo sem que teu nome lembre que estrelas brincan sorrindo em teus olhos Eu já não durmo sem que a lembrança do teu nome venha agasalhar-me Eu já não durmo sem que tua voz seja puro acalanto no meu ninho de sonhos És como o oxigênio no ar que respiro o espírito do sangue nas veias a usina de sonhos e desejos reinventando-me como a luz de cada amanhecer Teu nome é luz : uma formidável usina de sonhos que me reinventa como a luz do amanhecer! &&& : MULHER Sou o fogo do espírito das águas                  mar original dos prazeres onde cada homem                  se afoga e afaga sua sede de luz                   sem saber dos espinhos e rosas que guardei do paraíso em meu olhar.

Edna Almeida | 5 poemas

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LucianeValença Em nosso jardim Ah esse entrelaçar Que nem sempre vejo Vem-me assim Caminho no tempo Sentimento de estar solto e preso Nessa rede de estar entre linhas De tecer paulatinamente Ter casa estar de passagem Não é ilusão o presente È vida! Meus olhos precisam olhar devagar. Luciane Va   lença O impulso O que provoca não é o corpo, Não é o nu. É o imprevisto O movimento em cena como um risco. O puxar da roupa que ameaça os meus olhos profanos E pára, não era nada? Fica no ar o que os olhos pensavam Como quem tira a casca,  E provoca. Ninguém suga. É isso que me leva junto, O impulso. O ato eu conheço, O nu eu já vi.  Mas mil vezes imaginar, O que causa perturbação  É a pirraça.  Que deixa a casa dos olhos à beira do caminho  Imaginar, arte santa e não profana. Ai que vergonha! Luciane Valença Céus de estrada. Pensar e escrever são mesmo como uma estrada Surge sem que precisemos tirar o corpo do l

De volta a esse lugar - por Cris Lira

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I magem Pinterest De volta a esse lugar (por Cris Lira) Daqui do outro lado deste sol, meu intervalo de tempo entre o almoço e o encontro marcado faz-se quase da metade reduzido. Entre um lá e um cá, ouço sobre drinques, máscaras, viagens, faces. Eu, estanque, corpo mergulhado na banheira de água fria deste meu apartamento na vila universitária de uma cidade que não habito, reduzo-me a uma observadora. Na tela do computador, a coloração das folhas mudou de lugar pelo menos duas vezes enquanto encaro os textos que me confrontam. O tique-taque do aplicativo do celular me informa dos intervalos para viver entre uma escrita e outra ao tecer o artigo de que nem gosto, mas é necessário para que eu continue a ser a cidadã desenhada na canção de Raul Seixas, esperando, com a boca cheia de dentes, a morte chegar. Os arroubos de luzes invadindo o apartamento, neste verão americano, interrompem meu ritmo de escrita. O olhar para a esquerda observa um último sereno na criança que

Morgana Poiesis | um conto e um poema

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Edward Ladell NOTAS DE UM OUTONO ANTES QUE TARDIO ( por Morgana Poiesis ) (…) caiam as folhas ao vento, às margens do rio, sob o sol brando de outono. As flores cultivadas na primavera haviam sido queimadas ao calor mesmo do verão, e agora uma cesta com frutas apodrecidas sobre a mesa, de tudo que colhera nas últimas estações. Olhava para ela como quem contemplava a própria morte, silenciosamente, enquanto fumava o seu cigarro habitual, na porta da cozinha, logo pela manhã. Lembrava de uma parábola em que as frutas estragadas deveriam ser separadas daquelas em bom estado, pois estragariam todo o resto. Mantinha-se passiva diante da necessidade dessa seleção, a inércia se sobressaía à consciência, e as frutas seguiam em um lento processo de desintegração, à sua frente e pelo decorrer dos dias, preenchendo o ambiente com um dissabor insuportável. Logo o outono se transformaria em inverno, e o que seria dela se    degenerasse junto com as frutas? Sentia o aroma do café que

O lirismo de Patrícia Pinheiro | 7 poemas

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Monika Luniak Dou de beber ao passado e recordo que doer é finito e que viver não passa de assoprar velas coloridas de impermanência. ### Monika Luniak Eu me descuidei da matemática dos teus anos. Quando me perguntam com que idade tu viraste poeira estelar e deixaste de segurar minhas mãos assustadas e incompletas, eu tento fazer as contas e me distraio. Acho que eu fingi que os caminhos não te roubaram antes de eu estar pronta; que ainda não restariam muitas partes de mim que necessitariam do teu colo. Mas eu entendo. Eu aceito. Eu prossigo. E te abraço e te conto sobre o que eu descobri sobre o mundo quando te sonho. Só não me peças para lembrar há quantos invernos tu não respiras porque nem meus pulmões se acostumaram com estes cômodos que nunca mais estarão impregnados do cheiro do teu cigarro preferido. ### Monika Luniak Visito teu nome na a