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Um Conto - por Maria Amélia Elói

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Lasar Segall Fluxo Por Maria Amélia Elói Eu precisava conversar com alguém hoje, com qualquer pessoa. Pode ser com você, moça? Que bom que você se sentou aqui do meu lado. Senão eu era até capaz de ficar falando sozinha. Prefere que eu te chame de senhora? Não, né? Você parece muito mais jovem que eu. Não desvie o olhar, por favor. Você pode me ouvir um pouco? Ah, obrigada. Minha fala não vai incomodar. Não sou de pedir dinheiro nem comida, nem fico vendendo balinha nem saco de lixo nem pano de chão nem goiaba nem biscoito de vento nem pipoca de isopor. Tudo bem? Você pega este ônibus de vez em quando? Eu não. É muito raro. Só estou nesta linha porque acabei de sair de uma consulta no Hospital de Base. Hoje finalmente fui atendida, acredita? Você trabalha na Asa Sul? Ah, sim. Então, você vai fazer a caridade de guardar seu celular na bolsa e me escutar um bocadinho? Graças a Deus. Tem hora que a gente precisa falar com os outros, né? Qual é mesmo a sua graça? Ah, nome b

Lançamento do Romance Peccatum, de Chris Herrmann

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Peccatum - Ed. Arribaçã, 2020 Release oficial do Romance PECCATUM - Editora Arribaçã, 2020 CHRIS HERRMANN LANÇA ROMANCE   “PECCATUM“ VIRTUALMENTE  POR CAUSA DO CORONAVÍRUS ​A escritora Chris Herrmann está lançando, virtualmente, o livro “Peccatum” , seu novo romance. O lançamento nacional da obra seria no mês de julho, em João Pessoa, mas Chris, que está radicada na Alemanha, preferiu cancelar o evento em função dos cuidados recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) por conta da disseminação do coronavírus. O lançamento virtual acontece em página do Facebook com o título “Peccatum” e a obra está sendo vendida no site da Arribaçã Editora: www.arribacaeditora.com.br/peccatum/ ​De que trata “Peccatum”? O que significa o pecado? Carolina passa sua vida às voltas com esta pergunta. Aquela mulher católica, com uma fé inabalável e engajada nos projetos sociais promovidos pela igreja era admirada por uns e invejada por outros no município de Coleirinhos, inter

Música e poesia - O fazer artístico de Maria Cristina Arantes

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Aquarela de Luciane Valença Essa é uma matéria que exige um prólogo, uma apresentação, porque Maria Cristina Arantes ou melhor, Cris Arantes, é uma artista popular que transita por diversas áreas. Escreve poemas, toca instrumentos, compõe canções e empreende atividades junto a abrigos de idosos com apresentações musicais, assim como, participa ativamente de saraus, com sua música e poesia. Uma pessoa que encara como missão, a sua atividade musical e poética, no sentido de minimizar a solidão e carência dos ocupantes de asilos onde promove apresentações com o seu grupo. Um texto da própria Cris, explicita melhor essa questão. Minha missão por Cris Arantes             Um dia recebi uma missão. Fui fazer aula de violão, disse ao professor que não tinha pressa no aprendizado, porque não tinha o objetivo de ser artista. Durante uma aula, o meu namorado perguntou ao professor se eu estava indo bem. A resposta foi que se eu me esforçasse poderia estar melhor, fiquei nervosa e res

Ficar em casa - Marília Kubota

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MOSAICO Coluna 01 - Crônica Ficar em casa por Marília Kubota Durante anos fiquei incomodada com o fato de não sair de casa. Ao redor diziam: "não fique o tempo todo enfurnada", "saia pra respirar", "não fique só lendo", "pratique exercícios ao ar livre." Instrospectivos se acostumam a ouvir esta ladainha e mais: "você fala demais", "não ouvi sua voz hoje", "acho que estou surdo". Tornei-me especialista em ficar em casa.  Fui criança quieta: adorava ler.  Revistas em quadrinhos, crônicas, poemas, almanaque Biotônico Fontoura.  Em casa não havia livros. Nem Bíblia, nem Doutrina de Buda.  Não lembro se era mais caseira do que outras crianças.  Sei que jamais aprendi gramática na escola. Graças à leitura, "entendia" as regras da língua.  Aos 15 anos, comecei a ficar mais em casa do que meus colegas.  Abandonei o  ensino médio.  Fugi de uma apresentação oral compulsória nas aulas d

Sandra Godinho - Um Conto forte e instigante

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Di Cavalcanti O silêncio que não cala Sandra Godinho O meio . O silêncio escorregou da boca da menina para a língua de asfalto que se desenrolou até a esquina movimentada. Perto da padaria, o cheiro de pão tomando as narinas, as conversas tomando os ouvidos, custou até alguém perceber aquele tico de gente plantada à porta, com o olhar tomado de vazio. O olho inchado, doendo muito, mas quem a visse, podia jurar que a dor era mais na alma que no corpo. Aparentava ter uns onze anos, cabelos embolados em nós, garganta em nó, pulmão em nó, a menina mal arfava, como se o simples respirar lhe exigisse esforço. Alguém na fila do caixa a viu e correu a acudi-la. ̶   Você está bem? ̶   Tinha sangue, eu estava sem nada, só com a roupa de baixo, tomando choque porque estava na água. ̶   Qual o seu nome? ̶   Ele me deu um chute e uma pancada no rosto. Me fez entrar no carro, não sei quanto tempo rodou. ̶   Cadê sua mãe? ̶   Tinha uma luz, uma brecha para outro lugar. E

Uma Prosa Poética - por Roberta Gasparotto

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Desenho por W Patrick mulher-peixe Por Roberta Gasparotto  Lugar marginal. Meu lugar aqui nesse planeta sempre foi marginal. Olhar de estranheza. Olhar de cansaço. Olhar de inadaptação. Completamente inadaptada em espaços de exibição. Em lugares onde imperam a cacofonia de ideias. De pensamentos. Expressões por vezes caricatas, porque não genuínas. Socorro! Tem alguém para me dar uma carona para Marte? Repousar em um lugar quentinho e confortável. Ou nem precisa ser tão confortável assim. Aliás, nem precisa ser confortável. Só um lugar onde as pessoas tenham o desejo sincero de se mostrar. Mostro tanto meu rosto para você, querido leitor, na esperança de você me mostrar o seu também. Vejo tantas máscaras e tão poucos rostos de pessoas. Isso me dói. Sei que ninguém faz isso por mal. Não é maldade, é defesa.  Defesa afasta. E eu quero proximidades. Enquanto isso não acontece, ou pelo menos não acontece com a frequência que eu gostaria, vou me virand

Mulher de Palavra 01 - Agora é que são elas

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Mulher de Palavra 01 - coluna de entrevistas literárias Agora é que são elas por Maya Falks Sempre que surge uma nova iniciativa de valorização literária, eu vibro. Quando eu sou convidada pra fazer parte de uma, eu pareço uma criança na frente de uma árvore de natal cheia de presentes ou eu mesma em uma livraria; a empolgação vem à pele, a vontade de fazer um trabalho lindo cresce descontroladamente. Buenas, cá estou eu chegando com os dois pés na porta. A ideia da coluna é trazer sempre a voz e o conhecimento de mulheres das letras, porque nada é mais importante no nosso crescimento pessoal e profissional do que aprender com quem já sabe. Não sei bem como a coisa vai andar daqui pra frente, mas sei como eu quero conduzir, porque essa revista é linda e merece que eu faça algo igualmente lindo. Eu sou Maya Falks, jornalista, escritora, resenhista e idealizadora do blog Bibliofilia Cotidiana, que apoia e é parceiro dessa revista linda a qual integro agora. Todas jun