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Seis poemas de Ana Luzia Oliveira | ProfAna

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Imagem de Alexandr Ivanov por Pixabay.     Seis poemas de Ana Luzia Oliveira ProfAna   O sagrado está presente. Rezo, peço, me oriento, pauto minhas ações no Amor que flui através de mim, na intuição que me invade, no amparo que sinto.   O profano está presente. Xingo, julgo, explodo, comporto-me inapropriadamente, na raiva que brota das entranhas, na vaidade que me assola, na beligerância que travo diariamente.   A mulher está presente. Desejo, sinto, choro, não sei o que fazer, na confusão de um coração que ora se quebra, ora se abre, no diálogo efervescente de uma mente que não cala, no corpo que se disponibiliza para servir a um propósito maior e que também deseja, repudia ou embala o outro.   Sou verdade quando sagrada. Sou verdade quando profana. Sou verdade quando mulher.   Só não seria eu, se não pudesse ser tudo. Meu Amor, a Escrita   De todas as vezes que me perdi. foi a escrita que me pegou pela mão

Para não dizer que não falei dos cravos | Vai passar o estandarte de "Bendita sois vós" de Clark Mangabeira

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Coluna 23   Vai passar o estandarte de  Bendita sois vós de Clark Mangabeira* - Por Divanize Carbonieri  Em Bendita sois vós , Clark Mangabeira examina o cotidiano por meio de uma série de lentes. Instantes aparentemente corriqueiros, como um mergulho no mar ou uma aula de Direito Civil na universidade, são aumentados para mostrar como a ficção e a boa literatura também podem ser encontradas neles. Outros momentos surgem meio que borrados, e aquilo que a princípio parecia ser uma coisa logo se revela outra. Não se trata simplesmente de uma “reviravolta ao final”, expediente que o narrador do conto que faz parte do epílogo, “Ave Maria”, diz apreciar, mas que foi criticada como um clichê por sua revisora. Por influência ou não dessas críticas (mais provável que não), o fato é que o final com reviravolta, presente em grande parte do livro, se parece mais com um ajuste de foco, com o avançar e afastar do zoom, com tornar mais ou menos nítida toda uma situação. Esse procedimento estético

Divina Leitura | Luz própria e ramas floridas em "Toda-Mulher-Vaga-Lume"

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  Coluna 18 Luz própria e ramas floridas em Toda-Mulher-Vaga-Lume Toda-Mulher-Vaga-Lume reúne poemas, micronarrativas e desenhos produzidos pelas autoras que integram o Coletivo As Contistas. É um título intrigante, composto por uma espécie de neologismo, uma palavra formada da aglutinação de várias outras. Qual a relação entre escritoras e vaga-lumes? A nota introdutória se refere a esses insetos como seres capazes de emitir luz própria, sendo que o “tecido que emite a luz é ligado na traqueia e no cérebro”. A localização da bioluminescência nesses órgãos do animal parece servir de analogia para a expressão verbal das poetas, que combinam sons/significantes e conceitos/significados na realização do fenômeno literário. Contudo, a palavra que inicia o nome criado surge talvez para alargar ainda mais a prerrogativa da criação da luz própria: abrangeria ela a condição de toda mulher que existe e resiste em um mundo que ainda insiste em submetê-la. Ter direito ao autocontrole, à autodet

Preta em Traje Branco | Deságues de Susana Malu Cordoba

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Coluna 33 Foto by Arek Socha from Pixabay Deságues de Susana Malu Cordoba DERRAMAR ESCORRER  SE DEMORAR Verbos transitivos que enfeitam GARGANTAS *********************************** O que separa as meninas das mulheres Ouviu-se apenas um disparo "Eu queria que você me amasse" De repente um silêncio morno o beijo no rosto e o impacto da bala que ricocheteou *********************************** Liberdade em gotas Foi uma gargalhada daquelas bem dadas Estava só E ali, onde as confissões só são permitidas  aos que queimam Duvidou do matrimônio *********************************** Um segredo Gosto de mergulhar em pessoas,  se pudesse  mergulharia em você *********************************** Tem noites em que minha maior ânsia é derramar em sua boca o líquido quente e escorregadio dos desejos  que me tiram o sono São nesses momentos que imagino  meu sussurro clandestino de fêmea lambendo seus ouvidos É ali que minhas intenções te mordiscam o sono, os lábios, o falo E ao amanhecer  te

De Prosa & Arte | Dispensáveis e substituíveis

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Coluna 38 Foto Maria Aparecida Castro Augusto Dispensáveis e substituíveis Nessa vida fui capaz de construir muitos (des) caminhos, transitando entre os (im) possíveis. Nada fiz sozinha, embora tenha tecido, um longo rastro de solidão em quase tudo que produzi. Desde os afetos às conquistas materiais. Minha vida sempre me pareceu um comercial de refrigerante concorrente. Aquele com muito Caramelo 4. Toda vez que desejei algo, a vida me perguntou: - Pode ser Pepsi? Eu que sempre tentei ser grata a tudo que me veio, nunca neguei. Só tomei Pepsi... Entendi que tudo era como poderia ser. Com aquilo que mereci durante as construções das trajetórias de (in) sucessos. Não posso reclamar em demasia, pois tudo que tenho, talvez seja mais do que eu mereça. E por isso, não renego. As coisas que me causaram perdas físicas, materiais e emocionais, entendi como aprendizado necessário pra me criar casca e escudo. Estou transmutando meus afetos, até aqueles que me são mais caros. Pois, não quero tolh