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Mostrando postagens com o rótulo Poesias

Preta em Traje Branco | Quinteto de Versos de Valéria Rufino

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Coluna 7 Quinteto de Versos de Valéria Rufino Poesia Não se explica Mas implica   Olhos sem pálpebras Vou fechar os meus olhos e me perder no vazio. Dentro da escuridão imensa, Onde eu não veja o sofrimento, nem tão pouco me sinta inútil. Nesse vazio na alegria mortal Na vida sinto a morte como um pulsar de dor intensa, Ah! Essas células que me foram impostas, Vida que eu não te quis, Vida pela qual nada fiz.   O sol brilha iluminando a podridão, o vento sopra a poeira do chão em olhos sem pálpebras, de um ser quase inato, Que sofre sem ter Que morre sem ver.   Eu durmo em minhas críticas, e acordo navegando em súplicas. Não quero mais abrir os meus olhos, quero dormir eternamente, pensando na morte é que me sinto gente.   Cotilédone Nascer é sentir o prazer esgotante da primeira respiração. É esticar as pernas pra fora do corpo de uma mulher, Como a primeira folha que surge do sêmen. Mostrando sua cor verde na terra v

Preta em Traje Branco | Reminiscências - uma resenha poética de Mada Scavassa

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  Coluna 6 Reminiscências - uma resenha poética de Mada Scavassa   Conceição Evaristo narra as mazelas sociais, a vida sofrida nas periferias, os preconceitos, a violência com os corpos negros, prostituição, abandono e mortes. Da tecitura de suas narrativas, resgato minhas memórias e os olhos naturalmente se enchem d'água. Verdadeiras nascentes!  Iguais as da minha infância, que de pequeninas corriam e formavam o Pinheirinho. Íamos nadar, sem a permissão dos nossos pais, não era muito raso e eles sabiam disso, conheciam bem, porque usavam para lavar as nossas roupas, quando faltava água.  Conceição é mineira como minha avó, minha mãe, já no primeiro conto me fez viajar até Olhos d’água, Januária, mesmo com a abundância do Velho Chico, que irritava boa parte da lavoura, a fome imperava. Fala da parca comida, o vazio do estômago e a garganta chega dar um nó. Não vivi isso, minha avó nos reunia para contar sobre a vida difícil na roça, a morte do meu avô, por malária e a vinda para Sã

Preta em Traje Branco | Ana Paula de Oya em Tríade de Versos

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  Coluna 5 Ana Paula de Oya em Tríade de Versos Xirê Motumba a todos os Orisás! Esu , que me dá caminhos, Ogum , que me mantém na trilha aberta e certa. Osóssi , que não me deixa perecer na falta da fartura. Omolu , que não me deixar faltar a saúde e energia. Ossain , que não me deixa esquecer da minha raiz. Osumare , que me abençoa com arco-íris e chuvas de transformações. Iroko , que me faz firme. Logun , que me deixa contemplar as belezas. Osum , que me enche de riquezas, também as de sentimento. Iemanjá , mãe que me acolhe. OYA , o vento que me aponta o certo e o errado, força que move, mãe que me ensina. Oba , que não me deixa desanimar nas lutas. Ewa , que não me permite deixar de sonhar e concretizar os sonhos. Nanã , que me abençoa com mais um ano de vida. Sangô , que me mostra a justiça certa de Orisá. Osalá , que molda a cada dia minha Ori. Ibejis presentes na alegria inocente de cada momento de felicidade. Que no Sirê da vida esses sempre venham ser meus alicerces, minhas

Preta em Traje Branco | Pequenas Prosas Poéticas de Susana Malu Cordoba

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Coluna 4 Pequenas prosas poéticas de Susana Malu Cordoba https://pixabay.com Se pudesse desaprenderia tudo sobre essa máquina de moer gente, sobre essa necessidade de produtividade, que não me faz sentir viva. Se eu ousasse permaneceria inerte beijada pelo vento, acalentada pelo gorjear dos pássaros. Se em mim corresse o fio da coragem, acompanharia a transmutação das nuvens por horas a fio. Abriria o relicário da infância, estática deixaria o entardecer cair sobre meus olhos, e na penumbra me amaria sobre a luz da lua. Ficaria ali corpo imóvel, imaginando mundos ou nada Seria feliz na miudeza de existir. *** O silêncio me pariu Lembro da vertigem que me acometeu,   logo após meu nascimento. A boca amargava decepção. Em meus olhos refletia a lembrança das senhoras de face endurecida que colecionam derrotas com a elegância de quem carrega  troféus. Pensei em quantas vezes o silêncio haveria de me parir para que eu me tornasse essa couraça rígida de mulher

Preta em Traje Branco | Maternidade e Aprendizado | Crespo Sim

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  Coluna 2 Maternidade e Aprendizado Consciência racial através de um nascimento Desde o meu primeiro mês de gestação, fui levada a refletir sobre condição racial, sobre negritude, sobre o que é pertencer a esse grupo, e o que é ser negro neste país. Filha de mãe preta e pai branco, sempre fui definida como “morena”, “parda” por conta do tom de pele mais claro. Logo no início da gestação passei por uma experiência atravessada por questões raciais. As pessoas faziam inúmeros questionamentos, do tipo: _ como será que vai ser o cabelo da bebê? _ será que vai ser morena? _ Cor de jambo? _ será que vai ser preta? Como se não bastasse essas falas racistas, ainda ouvia: Você vai ter que passar muito óleo na mão para fazer trancinhas no cabelo da bebê, e riam... Chegavam a fazer desenhos com duas bolinhas pretas dizendo ser a representação da minha filha. Não tinha graça alguma, pelo contrário, me perguntava a todo instante o porquê das pessoas se incomodarem tanto com a cor da pel